De raízes japonesas e indígenas, a artista versa sobre a força que há no reconhecimento e afirmação de uma identidade mestiça, ainda deslegitimada pela sociedade branca patriarcal. Acompanhando a faixa, de atmosfera eletrônica e ancestral, um videoclipe já disponível no YouTube

Ouça e assista aqui: https://youtu.be/u5jBup6A2EY


Os versos “tu não se reconhece / tu não me reconhece / tu não me conhece, tu não vê” abrem o novo single de NIWA, “Urutau”, como uma constatação expressa do caráter indefinido que é dado a identidade mestiça – formada pela mistura de duas ou mais etnias diferentes, que passam a dividir, pelo menos até o século passado, o último momento da formação das raças do povo brasileiro. A canção, verso a verso, parte dessa reflexão de não-lugar, flutuando naquilo que escapa à classificação, para evidenciar a força que há em pertencer, afirmar e não legitimar as imposições feitas pela sociedade branca patriarcal.

“Quando compus “Urutau”, entendi que estava falando sobre minha identidade e a forma como sou percebida, a falta de reconhecimento por qualquer um dos grupos étnicos que nos dão origem. Comecei, então, a pesquisar sobre a musicalidade dos meus ancestrais: a família da minha mãe, japonesa; a família do meu pai, paraense de origem tipicamente cabocla: raízes indígenas, africanas e europeias. Durante o processo de pesquisas sonoras e maneiras de conceber isso tudo, percebi que nenhum instrumento seria melhor para falar sobre minha própria narrativa como mestiça do que minha própria voz (e a voz dos meus ancestrais através dela)”, destaca NIWA. “Sendo uma pessoa mestiça, o processo de racialização é algo lento, ambíguo e o racismo é extremamente velado. Foi algo que só me senti à vontade e com alguma propriedade para falar sobre depois de 2020, com 24 anos de idade”, completa.

Entre as referências da artista, nomes como Tetê Espíndola, Mercedes Sosa, Milton Nascimento, Björk e Djuena Tikuna.

A produção, programação e arranjos de “Urutau” são assinados pela própria NIWA ao lado de Rodrigo Passos e João Antunes. O videoclipe, já disponível para a track, tem direção da cantora e compositora em parceria com Marcel Enderle. “A ideia desse clipe é ilustrar o que digo nos primeiros versos. Como estou falando disso sobre uma percepção racial, da raiz, trago comigo anciãs da minha família – minha avó Ayako e minha tia Áurea” As imagens foram gravadas no Copan, marco arquitetônico de São Paulo.

“Urutau” abre caminhos para o novo disco de Niwa, “Araponga”, que será lançado no dia 05/05. Projeto marca a estreia da cantora em carreira solo.

NIWA é formada em canto popular e pós graduada em Canção Popular pela Faculdade Santa Marcelina. Em 2016 e 2017 certificou-se no Somatic VoiceWork – The LoVetri MethodTM (nível I, II e III) de pedagogia vocal, com a renomada professora Jeanie LoVeTri.

Participou da Carcaju como cantora e compositora. A banda experimenta arranjos não convencionais – trabalhando com ambientações ruidosas e texturais que dialogam com o cenário da música independente paulistana. Com o grupo, passou por diversas casas de shows de São Paulo e do Rio, como a Casa do Mancha, Fauhaus, Teatro da Rotina, Teatro de Contêiner e outros, associando-se por vezes a outros artistas da música brasileira como Ná Ozzetti, Bruna Black e Os Amanticidas.

Suas  canções “Menstruluar” e “Mergulho” foram rearranjadas para fazer parte de dois concertos do Coral Jovem do Estado, onde NIWA participa desde 2018 como soprano. Projetos contaram também com as participações de Luiza Lian, Clarice Assad, Chico César e Maurício Pereira.

Atualmente, dedica-se ao processo de lançamento de seu primeiro álbum de estúdio e também se prepara para uma residência artística de um ano, nos EUA, compondo o programa OneBeat.