Mineiro radicado em São Paulo há mais de uma década,
Yantó apresenta seu terceiro álbum, “Sítio Arqueológico”. Produzido pelo próprio artista em parceria com Tó Brandileone (5 a seco), o disco é o primeiro LP lançado pelo músico desde sua mudança de nome artístico (até 2017 Yantó era conhecido como Lineker, seu nome de batismo).

O trabalho de 14 faixas traz canções autorais, além de parcerias com Bruna Moraes, Guilherme Kafé e Dylan Mckinstry. Yantó parte da imagem de um sítio arqueológico para construir um álbum que conecta passado e futuro, num gesto de reverência à tradição da música popular brasileira e, ao mesmo tempo, de diálogo com as produções mais contemporâneas e inventivas do pop e da música experimental.

“Passei grande parte do período mais crítico da pandemia morando num sítio em Bambuí, cidade da minha família onde nasci e cresci no interior de Minas Gerais. A terra desse sítio foi onde minha mãe nasceu e cresceu. Quando eu era criança e minha mãe ainda era viva, esse lugar acabou se tornando um terreno meio abandonado, então cresci tendo pouco contato com aquela terra e com a história da família da minha mãe. Morar lá por um tempo foi uma experiência muito forte, que atravessou muito do processo de criação desse disco. Na letra de uma canção que acabou não entrando no álbum apareceu essa imagem, um ‘sítio arqueológico’, uma metáfora de um processo de autoconhecimento e reconexão com minhas raízes”, compartilha Yantó.

Um sítio arqueológico a princípio pode ser compreendido como um local onde são encontrados vestígios de ocupação humana, antiga ou recente. A arqueologia pode ser entendida ainda como um olhar para os modos de vida, para o que nem sempre os discursos nos revelam. Ou seja, por meio de um olhar arqueológico, pode-se entrar em contato com aspectos mais ocultos, com os interditos de uma cultura, de uma sociedade. “Essa ideia em especial me interessou bastante como caminho de construção desse álbum. Eu me perguntei frequentemente: que sítio arqueológico estamos produzindo hoje? Como no futuro as pessoas vão olhar para esse nosso momento atual? Acho que um álbum musical é como uma peça de cerâmica, como uma ferramenta, que no futuro poderá dar algumas pistas sobre o momento que vivemos”, comenta o artista.

Na teia arqueológica de suas letras, Yantóaborda diferentes assuntos, como relações homoafetivas, não-monogamia, conflitos geracionais, família, autoconhecimento, além de questões políticas coloniais e ambientais. Em suas construções há diversas referências diretas a outras obras, como é o caso da canção “1927 (Wings)”, que referencia o filme Wings (Asas, de 1927, considerado um dos primeiros filme com um beijo homoafetivo), “Gato”, uma espécie de versão gay da “Tigresa” de Caetano Veloso e “Será que ele é?”, subversão queer da clássica marchinha de carnaval “Cabeleira do Zezé”.

A produção e os arranjos reforçam o diálogo entre tradição e inovação, apontado no primeiro verso de “Abre Alas”, canção que abre o disco. Sintetizadores e batidas eletrônicas se juntam a percussões orgânicas, bandolim, piano e violão, costurados principalmente pela voz, que se alterna entre letra, coros e, por vezes, se confunde com outros instrumentos graças a diferentes processamentos, como vocoders, distorções e efeitos de autotune. Ao longo do disco, os arranjos oscilam entre momentos mais dançantes e expansivos e momentos mais intimistas. “Eu sinto que esse disco traz um pouco de cada faceta minha, tem os momentos mais estranhos, irreverentes, tem as canções mais minimalistas, quase confessionais, tem a raiva, o grito político por mudança, e não podia deixar de ter o carnaval, esse ritual tão importante na minha vida”, diz Yantó que, vale lembrar, é vocalista do “Bloco Explode Coração”, um dos maiores e mais tradicionais blocos do carnaval de rua da cidade de São Paulo.

As gravações tiveram a participação dos instrumentistas Alana Ananias (bateria), Catarina Rossi (viola e violino), Fábio Peron (bandolim), Leandro Vieira (percussão), Will Bone (trompete e trombone) e Tó Brandileone (guitarra, violão e assobios). Sintetizadores, programações, coros e pianos foram gravados por Yantó. O disco teve ainda a participação especial de Verônica Bonfim e uma fala de Aílton Krenak.A mixagem é de Tó Brandileone e a masterização de Carlos Freitas (Classic Master).

A capa e toda a parte visual do trabalho têm direção criativa de Alma Negrot, com fotos de Gustavo Lemos. A produção executiva do projeto é de Iolanda Sinatra.

SOBRE YANTÓ

Yantó é cantor, compositor, performer, produtor musical e preparador vocal. Conhecido até 2017 como “Lineker”, seu nome de batismo, nasceu em Bambuí (MG), e vive atualmente em São Paulo. É formado em música popular e mestre em Artes da Cena pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), onde também estudou dança. Desde 2012, lançou dois discos e dois EPs, e já colaborou com diversos artistas do cenário musical, dentre eles Cida Moreira, Simone Mazzer, Maria Beraldo, Luiza Lian e Bemti. É também vocalista do Bloco Explode Coração, que leva mais de 200 mil pessoas para as ruas todos os anos no carnaval de São Paulo. Seu trabalho autoral une sons da MPB, do POP e da música-experimental.