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Fortaleza, fortificação, local que oferece segurança. No dicionário, essa é a definição da palavra Cidadela, que dá título ao terceiro disco do cantor e compositor Vinicius Barros. Expoente da sempre vibrante cena musical pernambucana, o cantautor apresenta ao mundo, no próximo dia 24 de abril, uma novíssima leva de canções próprias, compostas a partir das experiências de um homem negro e periférico na selva urbana.

Quando pensamos em Cidadela, nossa primeira motivação foi capturar os sentimentos que orbitavam nosso território afetivo, buscando interseção com outras pessoas e seus respectivos universos”, explica o artista. “O que há aqui conta a história de um cenário imaginado em meio às contradições urbanas, onde afetos, memórias, territórios e pessoas constroem uma identidade em constante transformação”, complementa. O show de lançamento será no dia 03 de maio, no Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro), em Recife. 

Com dois singles já lançados, Calor e Saudade e Luz Negra, Cidadela apresenta dez canções produzidas com a colaboração de nomes de destaque da cena contemporânea do Recife. A direção musical é de Juliano Holanda, e a direção vocal, de Almério. As gravações contaram ainda com participações especiais de Martins, Zé Manoel e da Orquestra Malassombro. O projeto, vencedor do 4º Edital Funcultura de Música, tem produção executiva de Laura Proto, da La Esencia Experiências Culturais.

Musicalmente, o esforço de todo artista é sugerir sempre uma obra inédita, embora não existam acordes inéditos”, afirma Barros. Manguebeat, frevo, ritmos da cultura popular pernambucana, rock, ecos da canção popular brasileira (“onde não existe sotaque neutro“, sublinha ele) e a vastidão da música afro diaspórica estão sempre à disposição na biblioteca sonora deste artista.

Vamos visitar sua cidadela?

Cada pessoa na rua é a vida inteira / A professora, a doula, a estrangeira / Cada cabeça é um mundo em construção / Dentro de um grande universo em expansão”, reflete Barros na poética Cada Pessoa, que abre os portões de sua fortaleza ao ouvinte. O artista nos convida a entrar, mas, antes, pede que contemplemos quem são os habitantes daquele lugar, afinal, “cada pessoa é um mundo andando no mundo”.

Caminhando por suas ruas e vielas, esbarramos em Máquinas Trabalhando, no que Barros e PC Silva, co-autor da faixa, apontam para cima e, com a contundência de versos como: “Acima dos andaimes, mais acima / É onde fica a torre que vigia / É quem decide como e quanto custa / É quem manda escrever as linhas tortas / É quem olha do alto e vê formigas / Erguendo edifício em suas costas”, fazem da canção uma crônica a respeito do trabalho e da ocupação dos espaços públicos, do controle social e da liberdade. Uma reflexão sobre os contrastes da cidadela em sua resistência e construção.

Ao virar na próxima esquina, Barros encontra o amigo Martins e, juntos, descemos por Reverb, uma alameda onde os versos ecoam a beleza de compor em parceria. É uma música sobre dividir as canções e tornar as melodias símbolos das conexões, relações e histórias vividas de maneira coletiva: “Quem divide rima em nota de canção / Compartilhalume, colhe algodão / Inventa perfume, desata segredos / Na imensidão / E tece os atalhos, rede, abstração”.

Seguindo adiante, dobramos em uma rua de onde sai a hipnótica e exuberante Luz Negra. A canção é uma exaltação à beleza do povo negro através da metáfora da exuberância da luz negra propriamente dita. O elã da luz negra, a energia, a vitalidade e o encantamento desse brilho dançam numa mistura de cumbia e Ijexá, quente como um gole de Axé.

Mais à frente, acessamos uma avenida onde guitarras e percussões entram em combustão. Fogo Fátuo revela um artista quente, cujo “corpo sente sede e fome / Do que ainda está por se inventar”. Composta como parte de um processo de autoconhecimento, foi “um exercício de me reconhecer nos meus próprios caminhos, como ser único”, revela Barros.

Ao atravessar uma das pontes que cortam os canais da cidade, notamos, ao ouvir um envolvente Frevo de Inverno, o quanto essa estação “não orna abaixo do Equador“. Nessa faixa, Zé Manoel, grande músico e cantor de voz encantadora, nos lembra que é no inverno que aparecem “Sombrinha pingando, crocodilo urbano, ônibus surfando“. Um frevo “fora de época”, que retrata uma outro momento do Recife, para além do calendário carnavalesco: o frio tímido do inverno no Nordeste brasileiro e a vontade de encontros e aconchego.

A tarde começa a cair e, no alto de um mirante, Barros nos mostra o pôr do sol atrás das parabólicas: “Pombos pelos fios da rede telefônica / Cactos se esticam na varanda / Ônibus espremem avenidas”. É um lugar que evoca as lembranças de quem ocupa os grandes centros de cor cinza e traz em si marcas de outros territórios. Saudades de Casa, embalada pela melancolia do acordeon, é também um retrato urbano com suas verticalidades e solidões.

Essa saudade nos conduz até a Rua das Flores, 305, endereço onde toda essa pitoresca Cidadela foi fundada e fortificada. É ali, onde tudo começou, que o artista, na pureza da voz e violão, presta tributo à mãe, na contínua tentativa de aprender a viver e ser feliz, e ao pai, confessando estar “aprendendo a amar alguém / E a me deixar amar também”. “A música é uma carta de amor profundamente sincera, escrita de uma vez só. Dentro da cidadela, se propõe a ser o meu lugar mais íntimo”, conta Barros.

Caminhamos noite adentro com fé na luz do lampião, ouvindo o povo marcar com a palma da mão a batida do baião que vibra no coração desse Bacamarte Trovão. Fogos de artifício iluminam o terreiro, onde juntos fazemos uma louvação à tradição dos festejos juninos e às festas em homenagem a Xangô no mês de junho: “Zabumba tremendo, criando asa / Sangue incandescendo, virando brasa / Esse terreiro é o mundo / E o mundo inteiro é a nossa casa”. A letra cita as referências da cultura do Bacamarte, que tem origem na sobrevivência dos soldados negros que lutaram na Guerra do Paraguai, sendo recompensados com a alforria.

A noite chega ao fim ao som delicioso do frevo, na companhia da Orquestra Malassombro. O sol raiando queima as ruas e suas solidões. Nesse momento, tudo é Calor e Saudade nessa pequena crônica sentimental da cidade e das emoções que seu cenário provoca. 

Compondo esse território musical estão os grandes instrumentistas que participam desse trabalho: Guigo Nascimento, na bateria, Guilherme Eira, na guitarra, Filipe de Lima, no baixo e Thúlio Xambá, na percussão. O disco foi gravado no Estúdio Carranca, em Recife, por Vinícius Aquino e Marcos Melo.

E assim, Vinicius Barros nos conduz, felizes, aos portões de saída dessa riquíssima e interessantíssima Cidadela. Aproveite a oportunidade e dê agora um passeio por ela!

Sobre Vinícius Barros

Cantautor é a identidade que melhor lhe cabe. Cronista urbano, constroi letras alicerçadas na sonoridade das raízes pernambucanas e na sua matriz negra. O rock e a MPB são sempre convidados a dialogarem com a sua música. A forma como arquiteta suas composições traz uma reflexão contundente, com uma clareza quase didática. Questões sociais, a cidade e as complexidades da urbanidade, as pessoas, os afetos e o empoderamento do povo negro estão entre os temas que mais o interessam, mas que não o reduzem. Aliás, esse é um artista grande. Nas palavras, no palco e fora dele.

Guitarrista há 15 anos, Vinícius Barros já tocou em diversos grupos, até entender que era a hora de fazer ecoar sua própria voz. Em 2015, estreia com o EP “Universo” e em 2017, lança o disco “Banzo”. Tem circulado também com a importante Mostra Coletiva Reverbo. Em novembro de 2020, lançou seu primeiro single “Pra Abraçar quem sou”, em celebração ao Dia da Consciência Negra. Com esta música, chegou a Cabo Verde, sendo tocado pela rádio PraiaFm. Em 2021, lançou dois singles com os músicos Júlio César Mendes (sanfona) e Rafael Marques (bandolim): “Quando isso passar” e “Pó de Estrelas. Atualmente, trabalha no seu novo disco, vencedor do 4º Edital Funcultura de Música. Neste projeto, Vinícius pretende instigar ideias acerca da urbanidade, pela luz da ancestralidade e do afeto.

SERVIÇO

Vinícius Barros – Show de lançamento do disco “Cidadela”

Dia 03 de maio, sábado, às 20h

Teatro Marco Camarotti / SESC Santo Amaro

Praça do Campo Santo, 1-101 Santo Amaro, Recife PE

Ingressos a R$ 70 inteira e R$35 meia-entrada (inclusive para os Comerciários e dependentes, que devem apresentar a carteirinha do Sesc)

Antecipados pelo SYMPLA