Por meio dessa modalidade turística, o bairro Moravia, em Medellín, na Colômbia, de lixão a céu aberto se transformou em um espaço completamente revitalizado

Depois de um longo período de isolamento social e inúmeras incertezas em relação ao futuro, o setor do turismo volta a ganhar fôlego à medida que a campanha de vacinação contra a Covid-19 avança no País e as pessoas se sentem mais seguras para viajar. Apesar da preocupação com a variante ômicron, a projeção é positiva para o segmento.

De acordo com uma pesquisa da MaxMilhas, 86% dos brasileiros já estão viajando ou pensando nas próximas viagens. O levantamento realizado em junho de 2021 em parceria com o instituto Opinion Box também mostra um aumento na preferência dos turistas por destinos mais tranquilos e fora das rotas tradicionais e badaladas. 

Conforme os dados, 51% dos brasileiros têm a intenção de viajar para locais isolados. O percentual quase dobrou em relação ao período anterior à pandemia, quando apenas 28% tinham o costume de viajar para esse tipo de destino.  

Nesse cenário, o turismo comunitário tem ganhado destaque e atraído muitos viajantes em busca de experiências culturais, históricas e naturais. Entre as características dessa modalidade turística, destacam-se o apoio a comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhas etc.) e a conservação e preservação de patrimônios históricos e naturais.  

Turismo comunitário 

Os números do estudo realizado pela MaxMilhas, plataforma que comercializa passagens aéreas, demonstram uma tendência na busca de destinos mais afastados dos grandes centros urbanos e sem muita aglomeração, situação que coloca o turismo comunitário na rota de muitos viajantes. 

Criado em 1990, o turismo comunitário é uma alternativa ao turismo de resort ou turismo em massa. De acordo com o Ministério do Turismo, essa modalidade é voltada para viajantes que querem viver experiências culturais e históricas enriquecedoras, ao mesmo tempo em que contribuem para um trabalho comunitário. 

Além disso, é chamado de comunitário pois atende às necessidades econômicas da comunidade local, que cede o espaço em que habita para visitação como uma maneira de gerar recursos financeiros de forma sustentável. 

A modalidade tem sido uma alternativa de fonte de renda para inúmeras comunidades no Brasil e em outros países. Micro e pequenas empresas que atuam nesse setor têm gerado e distribuído a renda para as economias locais.

Os fornecedores e moradores também participam das atividades que envolvem suas comunidades, trabalhando como guias, cuidando e protegendo o patrimônio, cozinhando e promovendo assistência aos turistas. 

Portanto, o turismo comunitário é uma modalidade que atua na preservação de territórios ancestrais e de patrimônios imateriais para a humanidade.

Turismo comunitário na América Latina

A América Latina é um dos continentes mais afetados pela pobreza. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe(CEPAL), no final de 2020, o número de latino-americanos em situação de pobreza chegou a 209 milhões. 

E a vontade de superar a pobreza e de preservar seus patrimônios tem feito com que muitas comunidades busquem no turismo comunitário meios de gerar  renda. 

Para os viajantes, por sua vez, a modalidade oferece oportunidades de viver novas experiências culturais, históricas, com respeito e conhecimento sobre as comunidades locais e povos ancestrais. 

Esse setor também tem sido uma fonte de preservação e recuperação ambiental em zonas marginalizadas e empobrecidas. 

Colômbia

Em Medellín, por exemplo, a segunda maior cidade colombiana, com 2,5 milhões de habitantes, o bairro Moravia se tornou um símbolo da revitalização urbana e do turismo comunitário. 

Antes um lixão a céu aberto com cerca de 15 mil pessoas vivendo em seu entorno, hoje o local que era palco de enfrentamentos entre Estado e o narcotráfico tem um dos maiores jardins da Colômbia, com mais de 70 espécies de plantas, revitalizado e mantido pela comunidade local.

De acordo com a Prefeitura de Medellín, a revitalização de Moravia trouxe um potencial turístico benéfico para a comunidade em seu entorno, que tem se desenvolvido economicamente e buscado recursos por meio de iniciativas que levam turistas nacionais e estrangeiros para visitar o bairro.

Medellín é um exemplo claro de que o turismo pode contribuir para transformar a história de uma cidade inteira. Uma região marcada pela violência e pelo tráfico de drogas nos anos 1980 e 90, Medellín é atualmente uma cidade modelo em ecoturismo, inovação e tecnologia. Parte da Rede Global de Cidades Resilientes, em 2019, a taxa de visitantes internacionais em Medellín alcançou 19%, enquanto a cifra mundial foi de apenas 4%. 

Brasil

No Brasil, o turismo comunitário também tem ganhado cada vez mais espaço e deve crescer com ainda mais força no período pós-pandemia. 

Alter do Chão, por exemplo, no Estado do Pará, é um dos destinos brasileiros para conhecer de perto a história e cultura dos povos tradicionais do País. A vila possui cerca de 800 famílias, e em seu entorno estão comunidades tradicionais indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Por lá é possível conhecer a Floresta Nacional dos Tapajós, o encontro das águas entre os rios Tapajós e Arapiuns, além de ter uma experiência cultural junto à população local. 

O turismo comunitário também está ganhando terreno em Maceió, no Estado de Alagoas, por meio de uma iniciativa da Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer, no bairro do Jacintinho. 

Conhecida como “Rota do Seu Jacinto”, o projeto visa à promoção do turismo na comunidade, que possui mirantes incríveis, como o Kátia Assunção, e a visitação de museus, como o Museu da Cultura Periférica, para estimular a economia e valorizar a cultura local, gerando renda aos moradores. 

Equador

O Equador é outro país da América Latina que também tem reconhecido e desenvolvido o turismo comunitário. Esse setor contribui para a preservação e a manutenção do patrimônio histórico, cultural e arqueológico do País, que muitas vezes é negligenciado em termos de políticas públicas.

La Esperanza, por exemplo, é uma comunidade indígena kicwha localizada no coração dos Andes equatoriano. Quem visita a comunidade pode conhecer a cultura e a história do povo kicwha, bem como estar em contato com a natureza que rodeia a região. O projeto é liderado diretamente por homens e mulheres indígenas locais. 

Peru

Na mesma linha, o Peru também utiliza o turismo comunitário como uma forma de desenvolver e facilitar o acesso à renda em comunidades tradicionais. O próprio governo peruano possui uma estratégia desenvolvida pelo Ministério de Comércio Exterior e Turismo (MICENTUR) para fomentar o turismo comunitário. 

A comunidade de Tingana é rodeada por uma floresta de matas virgens e o rio Avisado, fazendo parte da Área de Conservação Municipal Moyobamba. Quem vai ao local pode se conectar com a natureza, realizar a observação de aves e primatas, além de conhecer a comunidade indígena que possui uma papel fundamental na conservação da área. 

Esses exemplos mostram que a América Latina tem explorado o turismo comunitário e que essa modalidade tende a crescer no período pós-pandemia, ajudando a gerar mais oportunidades de emprego e a reduzir a pobreza em muitas regiões.