A multiartista carioca Tatiana Dauster se desdobra em muitas em seu novo álbum de estúdio, “Origami”. Produzido por Emiliano Sette, o álbum reunirá poemas recriados em música, gravados com um espírito de performance livre ao vivo. O repertório do álbum é uma junção de composições com parceiros de longa data, como Jam da Silva, Wagner Pá e Magali, e inclui uma parceria com Jorge Mautner em “O Amor é Fatal”.
Ouça “Origami”: https://tratore.ffm.to/
“O Origami tem dobras, tem papel, tem poesia, tem brincadeira. Você cria diversas formas, é divertido e poético! Achei uma boa analogia para o que penso sobre esse disco, que se desdobra em diversos ritmos sem perder a unidade tímbrica”, conta Tatiana.
E o disco passa pelo samba (como “Mar” de Beto Brown com poesia de Fernando Pessoa), por uma explosão de alegria carnavalesca (“Chuá”, uma marchinha em parceria com Magali) e uma MPB leve (como em “Azul”, em parceria com Guilherme Guimarães e Wagner Pá). Tudo para falar, com um olhar feminino, sobre o amor, a sensualidade, a boêmia, a política e o humor. Essa multiplicidade é a base de criação do álbum que tem como destaque a parceria com Mautner.
“O Mautner é um marco pro disco. Em 2015, eu o conheci e chamei ele para fazer o meu show no festival Verão no Castelinho. Nós lotamos o lugar e desde então, criamos um carinho um pelo outro. Na pandemia, eu falei que estava fazendo um disco e queria fazer uma música com ele e ele me ofereceu um poema”, ela conta.
Logo depois, inspirada pelo que ouviu, ela compôs a melodia sem mexer em nenhuma palavra do poema original. A faixa ganhará também um clipe especial dirigido pelo cineasta Roberto Berliner (“Nise – O coração da loucura”, “A pessoa é para o que nasce”, “Todos os corações do mundo” e clipes icônicos dos Paralamas do Sucesso).
Completando 30 anos de carreira neste ano, a artista deu seus primeiros passos na carreira nos anos 90, como backing vocal para a banda Acabou La Tequila e sua estreia, com um disco homônimo produzido por Pedro Luís, foi em 1998.
Assista o clipe de “Fora da Curva”: https://youtu.be/utiIt8Wm2Ks
Agora, “Origami” marca uma nova fase. “Este é um disco muito espontâneo. Praticamente nós gravamos tudo ao vivo”, ela antecipa.
O álbum está disponível em todas as plataformas de música digital.
Crédito: Edu Monteiro – Escultura: Daisy Xavier
Ficha Técnica:
Direção Artística: Tatiana Dauster
Produção: Emiliano Sette
Mixagem e Masterização: Duda Mello
Emiliano Sette: Guitarra e Violão
Marcelo Sant’Anna: Bateria
Rique Bardana: Teclado e Piano
Rodrigo Sebastian: Baixo Elétrico e Acústico
Foto: Edu Monteiro
Capa: Mariana Hermeto
Escultura: Daisy Xavier
Galeria: Anita Schwartz
Músicos Convidados:
Alexandre Flautas: Flauta e Sax Alto
Maico: Trompete
Sandro Lustosa: Percussão
Thiagô: Sax Tenor (Arranjo de Naipe para “Another Day”)
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Origami – por Júlio Moura
Origami é a arte de dobrar papel, sem cortes ou cola, que transforma uma folha plana quadrada numa escultura acabada.
Trata-se de um termo inclusivo para todas as práticas de dobradura, independente de sua cultura de origem.
Origami também é o título do novo álbum da cantora e compositora carioca Tatiana Dauster, já disponível em todas as plataformas. São doze faixas que se desdobram como papel fino para formar um mosaico de canções autorais, dela e de seus colegas de geração. Assim como o origami, a música de Tatiana é laminar, transformadora, inclusiva, surpreendente. Terna sem abrir mão da contundência.
“Todo dia é dia de renascer / e não temos tempo de temer o tempo / porque o tempo vai passar”, anunciam os versos de Nova Era, composição de Rodrigo Sebastian, responsável pelos contrabaixos do álbum, já na faixa de abertura. Escrita durante a pandemia, combina resignação e esperança, entre vírus de desigualdades e castelos de areia, sob um esperto groove setentista em ambiente roqueiro, com destaque para o piano honky tonky de Rick Bardana e a batera viralizante de Marcelo Santanna.
O Amor é Fatal tem música de Tatiana sobre poema de Jorge Mautner, o demiurgo profeta do Kaos, que fez a cabeça de diversas gerações, desde o início dos anos 70. “Conheci Mautner em 2015, na casa do (jornalista) Jorge Bastos Moreno e imediatamente o convidei para participar do meu show no Projeto Verão no Castelinho, no Rio. Ele topou no ato e desde então cultivamos uma relação de amizade e admiração mútua”, alinha Tatiana.
“Ligava para ele durante a pandemia e falávamos muito pelo telefone. Até que um dia ele recitou estes versos, que fui anotando com cuidado para não perder nada. Quando desliguei, a melodia veio instantaneamente”: “Despertar o amor de quem é mortal / e quer ter a beleza da natureza / o bom humor e lá em cima na centésima décima oitava dimensão / o amor e a paixão / compaixão”, filosofa o poeta. A música ganhou um clipe dirigido pelo cineasta Roberto Berliner da TV Zero.
Another Day, como o título indica, é uma canção em inglês, escrita pelo músico carioca radicado em Barcelona, Wagner Pa. Puxa para o reggae oitentista, em ambiente two tone de bandas como The Beat e The Specials, sobre o qual Dauster pulveriza o acento jazzy estiloso da escola Winehouse.
Chuá, primeiro single do álbum, lançado em maio, com letra de Tatiana e melodia bordada a quatro mãos com a compositora Magali, jorra gêneros em profusão: da marcha ao batidão, do frevo ao reggae com fumaça de cabaré. A letra inunda o balanço sanguíneo de uma parabeleza pop pós-concretista:
Parabeleza
Pararaios
Eu fui eu sou
Chi Chu
Chi Chuá
Hahahaha
Já fui já vim
Tô aqui pra falar
“Muitas das canções surgiram de poemas que escrevi e mostrei a parceiros. Magali puxou o cavaquinho e criamos uma música divertida, vibrante, um jato de vida. Passeia pela marchinha, vai pro reggae, desemboca no carnaval. Puro zig zag da existência”, destaca a cantora.
Surgida na cena musical no final dos anos 90, quando cantava com a banda Acabou La Tequila, Tatiana desde o início da carreira deu voz à turma que agitava o circuito carioca no período. Seu primeiro EP (1998) foi produzido por Pedro Luís, trazia uma composição de Rodrigo Maranhão, e contou com a participação de Rodrigo Amarante no show de lançamento. Em seu álbum de estreia, Tatiana Dauster (2004), com produção de Celso Fonseca, começava a desenvolver-se como compositora. No CD Medo e Força (2014), produzido por Alexandre Kohl, Tatiana assinou a autoria de quase todas as faixas do projeto.
Em Origami, a intérprete e a autora se complementam. Um dos destaques é Azul, parceria de Tatiana com Guilherme Guimarães, cantor do grupo Acorda Bamba, e o já citado Wagner Pá. Escrita há cerca de dez anos, a canção fora registrada no estúdio Garimpo, do produtor Emiliano Sette – responsável também pelas guitarras e a direção musical do trabalho – e permaneceu guardada. Durante a produção do álbum, Emiliano descobriu quase por acaso a gravação perdida, convocou os músicos e ajustaram as matizes: “refizemos minha voz e a de Wagner, modificamos a levada, mantivemos o violão e a voz do Guilherme da gravação original”, pontua Tatiana.
Outros compositores do universo de Dauster são os cariocas Raphael Gemal e Ernani Cal (em Serenata para São Sebastião), Beto Brown (que musicou o poema Mar, de Fernando Pessoa), o pernambucano Jam da Silva (que engrossa o caldo em Fora da Curva). Multicolor, Gnomos e Vento Sudoeste consolidam o trabalho até desaguar no suingue de Origami (Tatiana, Emiliano Sette e Rodrigo Sebastian). A faixa título arremata o álbum, repaginando os preceitos da delicada arte milenar:
Jogue fora aquilo que não cabe mais
Remova da cabeça
E deixe a brisa te pegar
Beba o sol, pegue o trem
E sinta que o fluxo saia da saia
“O origami tem dobras, tem papel, tem poesia, tem brincadeira. Você cria diversas formas, é divertido e poético. Este álbum também se desdobra em vários ritmos, sem perder a unidade dos timbres”, compara a cantora.
Como atesta o mestre do zen surfismo, Nelson Motta: “Tatiana é um talento carioca, cheia de suingue e bom humor. Vai longe e alto”.