Formado por Marcelo Callado, Renato Martins, André Paixão (Nervoso) e Melvin Ribeiro – nomes conhecidos e respeitados do cenário independente carioca das últimas décadas -, o supergrupo Tripa Seca une diferentes personalidades e influências em seu disco de estreia, que está disponível nas plataformas de música digital. Homônimo, o registro passeia do rock sessentista até o indie psicodélico, encontrando sons experimentais e de música latina.

Ouça “Tripa Seca”: http://smarturl.it/TripaSecaAlbum

Faixa-a-faixa e release por Calbuque abaixo

Com caminhos cruzados em bandas e artistas como Acabou La Tequila, Lafayette & Os Tremendões, Caetano Veloso e Nina Becker, o projeto surgiu em 2015 trazendo de volta os elos criativos para o círculo de amizade.

“Eu sentia muita falta de voltar a uma relação criativa com o Marcelo, que em 2001, começou a me ajudar a produzir meu primeiro EP, ‘Personalidade’, e com o Renato, a ponto de, durante uma cerveja pós-ensaio do Lafayette, sugerir essa encrenca. A dinâmica que tínhamos no Tequila, com uma identidade sem identidade, também foi um fator”, reflete André Paixão, que ganhou notoriedade com o Nervoso e os Calmantes.

Foi com esse trio que se formou o projeto – que eles afirmam, categoricamente, não ser uma banda. Gravado e mixado no SuperStudio, no Rio de Janeiro, o disco apresenta um repertório eclético de canções, que lembra a proposta do Acabou La Tequila, antigo trabalho de André e Renato. Proprietário do estúdio e responsável pela sonoridade do Tripa Seca, André trabalhou em cada timbre para atingir o clima de cada composição em um trabalho fruto de sua produção de trilhas sonoras para cinema, TV e teatro. Após um único show no Teatro Ipanema, juntaram-se à banda os amigos Melvin (Carbona) e o guitarrista Léo Vieira, agregando o clima de encontro casual e olhar despretensioso. 

Veja o clipe “Bipolar”: https://youtu.be/WkWmnL3E5kQ

Veja o clipe “Universo Paralelo”: https://youtu.be/l2afo3ZLmU4

“A música é um grande lugar de encontros. Ao longo da vida, meus projetos musicais sempre foram isso. Meus melhores amigos se tornavam uma banda, ou então, ao escolher alguém para fazer música, essa escolha acabava criando laços afetivos. Vejo a música como algo ritualístico nessas relações. É a cerveja antes ou depois do ensaio, do show, é a experiência de uma viagem juntos. É essa construção coletiva que dá sentido à arte, ao mesmo tempo em que faz dela algo tão poderoso”, conta Martins.

O disco começou a ser gestado ainda em 2015 com a criação de alguns singles e experimentações em sonoridades diferentes. Feito com calma, “Tripa Seca” teve produção de Paixão com co-produção de Martins e Callado. O álbum conta com participações especiais de Fernando Bastos, Fernando Oliveira e André Dessandes e está disponível em todas as plataformas de streaming de música.

Foto: Jenner

Ficha Técnica:

Faixas 01, 02, 03, 04, 05, 06 mixadas por André Paixão no SuperStudio

Faixas 07, 08, 09, 10 mixadas por Léo Ribeiro no Estúdio Do Amor

Produzido por André Paixão

Co-produzido por Marcelo Callado e Renato Martins

Participações Especiais: 

Fernando Bastos (Rats): Acordeon em “Bipolar”

Fernando Oliveira (Rats): Trompete em “Neve”

André Dessandes: Mini Moog em “Vai Com Deus”

1 – Mil (Marcelo Callado | Renato Martins) 

Marcelo Callado – vozes, bateria, percussão

Melvin – baixo

Léo Vieira – guitarras

Renato Martins – guitarras

André Paixão – guitarras, sintetizadores

2 – Cicatrizes (Marcelo Callado | Renato Martins | André Paixão)

Marcelo Callado – vozes, bateria, percussão

Melvin – baixo e coros

Léo Vieira – guitarras e coros

Renato Martins – guitarras e coros

André Paixão – guitarras, timbales, agogô, orgão, coros

3 – Vai Que Eu Vou (Renato Martins | André Paixão | Marcelo Callado)

Renato Martins – voz, coros, guitarra

Marcelo Callado – coro, bateria, percussão, programações e guitarra

Melvin – baixo e coros

Léo Vieira – guitarras e coros

André Paixão – guitarras, coro, voz cucaracha, percussão, programação, palmas, sintetizador Mini Moog, samples 

4 – Neve (Renato Martins)Renato Martins – voz, coros, guitarra

Marcelo Callado – coro, bateria, percussão, 

Melvin – baixo

Léo Vieira – violão, slide, guitarra e coro

André Paixão – guitarras, coro, percussão, sintetizador, piano 

Fernando Oliveira – trompete e banjo

5 – Bipolar (Renato Martins)

Renato Martins – voz, coros, guitarra

Marcelo Callado – coro, bateria, percussão,

Melvin – baixo

André Paixão – guitarras, coro, 

Fernando Bastos – acordeon

6 – Universo Paralelo (André Paixão | Renato Martins)

André Paixão – voz, guitarras, coros, percussão, sintetizadores, samples, piano, programações

Renato Martins – coros

Marcelo Callado – percussão metálica

7 – Na Palavra (Renato Martins)

Renato Martins – voz, coros, guitarra

Marcelo Callado – coro, bateria, percussão,

Melvin – baixo, coro

André Paixão – guitarras, coro, palmas, orgão, sintetizador

Léo Vieira – guitarra solo, coros

8 – A Paisagem (André Paixão | Renato Martins)

André Paixão – voz, violão, baixo, guitarra, coros, sintetizador, pandeirola

Marcelo Callado – bateria

Léo Vieira – slide solo

Renato Martins – guitarra

9 – Vai Com Deus (Renato Martins | Marcelo Callado)

Renato Martins – voz, coros, guitarra

Marcelo Callado – bateria, percussão, guitarra, coro

Melvin – baixo, coro

André Paixão – guitarras, coro, palmas, orgão, sintetizador, programações, samples

André Dessandes – sintetizador Mini Moog

10 – My Saturation (André Paixão | Marcelo Callado)

André Paixão – voz, guitarra, coros, sintetizador, pandeirola, programações

Marcelo Callado – bateria, coros

Léo Vieira – violão, coros, guitarras

Renato Martins – guitarra, coros

Faixa-a-faixa, por André Paixão:

1 – MIL

Essa tem umas referências que lembram Titãs em algum momento.  Abre com samples com berros proferidos por uma garota endoidecida que conhecemos em Porto Alegre. Ela estava com o namorado mas queria ficar na mesa com a gente depois que falamos o nome da banda, entre outras loucuras.

2 – CICATRIZES

A música nasceu do Renato e Marcelo. Lembra canções do Ween com referências caribenhas latinas. 

3 – VAI QUE EU VOU

Carimbó, guitarrada, brega nortenho. Essa música entrou no filme “O Tempo Feliz Que Passou”, do diretor paraibano André da Costa Pinto, previsto para estrear ainda este ano. 

4 – NEVE

Chegamos a tocar essa com o Acabou La Tequila. Folk a la Neil Young com Nick Drake romântico. Letra inspirada, escrita pelo Renato (que assina a maioria das letras do disco, inclusive) que lembra comerciais de doces ou dia dos namorados. Tem trompete e banjo do nosso amigo Fernando Oliveira (Rats). 

5 – BIPOLAR

Nosso primeiro clipe, filmado em Paquetá com direção de Mariana Cardin. Foi tudo muito louco nessa gravação. A banda ainda era um trio; Marcelo encontrou a casa onde morou na infância e não queria sair da ilha. Fiquei com ele até a última barca, quando todos já tinham ido embora. Com acordeon de Fernando Bastos (Rats).

6 – UNIVERSO PARALELO

Composta no mesmo fim de semana que A Paisagem. Começou a partir de uma letra escrita pelo Renato seguida por uma sequência programada num GarageBand instalado no meu iPad.

7 – NA PALAVRA

A mais aceleradinha do disco. Bem na dinâmica hardcore que levávamos para o Acabou la Tequila em formato parte A, parte B e ponto final. Simples como dois acordes.

8 – A PAISAGEM

Letra do Renato com melodia e harmonia desenvolvidas por mim num fim de semana de rompimento com minha companheira. Pensei muito em Grant Lee Buffalo quando compus essa. 

9 – VAI COM DEUS

Talvez a mais curta e pesada do disco, apesar de não tão rápida como “Na Palavra”. Penso em Ministry e Butthole Surfers somados a sequências programadas em sintetizadores antigos e samples industriais. 

10 – MY SATURATION

Melodia gravada no celular há anos combinada com meu amor as bandas Polyphonic Spree e Pink Floyd. Mais uma com base eletrônica programada com sintetizadores e coros.  

Tripa Seca por Carlos Albuquerque:

A biologia mostra que a vida é feita de complexas e delicadas teias. É feita de partes que se unem, se combinam e se mantém.  A música do Tripa Seca, que é cheia de vida, é exatamente assim, um emaranhado de nós, todos eles afetivos. Formado por Marcelo Callado, Renato Martins, André Paixão (Nervoso) e Melvin Ribeiro – nomes conhecidos e respeitados do cenário independente carioca, com caminhos cruzados em bandas e artistas como Acabou La Tequila, Lafayette & Os Tremendões, Caetano Veloso e Nina Becker – o grupo reflete, com naturalidade, essas interações e combinações genéticas. E mesmo assim, em sua evolução por entre as dez faixas de seu homônimo álbum de estreia, o Tripa Seca consegue soar, ao mesmo tempo, familiar e singular. Consegue soar único, como um novo laço desse rolo todo.

– A música é um grande lugar de encontros – explica Martins, voz, guitarra e composições. – Ao longo da vida, meus projetos musicais sempre foram isso. Meus melhores amigos se tornavam uma banda, ou então, ao escolher alguém para fazer música, essa escolha acabava criando laços afetivos. Vejo a música como algo ritualístico nessas relações. É a cerveja antes ou depois do ensaio, do show, é a experiência de uma viagem juntos. É essa construção coletiva que dá sentido à arte, ao mesmo tempo em que faz dela algo tão poderoso. 

Com a força desses laços impressa em seu DNA, o Tripa Seca nasceu em 2015. O primeiro single foi “Bipolar”, uma delícia retrô, para dançar junto no coreto da praça, que ganhou um vídeo à altura, dirigido com graciosidade por Mariana Cardin, gravado em Paquetá, onde Callado passou a infância. O resto do disco foi se erguendo aos poucos, entre trocas de mensagens e passagens pelo SuperStudio, de Nervoso, que produziu o trabalho, em parceria com Callado e Martins, que entrega: “Na mixagem, a ralação foi toda do Nervoso”.

– Teve muita troca por email. E houve alguns encontros marcantes. Mas tudo começou mesmo com uma pré-produção no meu estúdio – lembra Nervoso. – Marcelo e Melvin são rápidos e entrosados, então ficou fácil dar forma às primeiras canções a partir de baixo, batera e guias de guitarra e voz. O fato de contar com o estúdio facilitou bastante o processo de gravação, ao mesmo tempo em que, por conta disso, ele ficou mais demorado e centralizado. Não que fosse meu desejo. Foi um momento em que senti que dependia de mim tocar essa produção pois todos têm suas vidas e afazeres, além da razoável distância física do estúdio, que fica na Zona Oeste do Rio. Isso fez com que nossa relação depois de um tempo ocorresse via grupo de whatsapp.  Então, diria que, num período de quatro anos, fizemos um disco em seis meses (emoji de risos).

Como o tempo é relativo, vale o que foi criado. O disco nasceu variado, como era de se esperar, com uma saudação à Jovem Guarda (“Cicatrizes”), um passeio pelo Caribe (“Vai que eu vou”), uma terra em transe (“Vai com Deus”), uma balada psicodélica (“My saturation”) e um desenho animado em forma de música (“Neve”). Foi outra música, porém, a lisérgica “Universo paralelo”, que acabou levando o Tripa Seca a uma incrível e inesperada conexão no espaço-tempo.

– A gente queria fazer um clipe com imagens de arquivo – conta Martins. – Comecei a fuçar esses sites que disponibilizam imagens gratuitas, sem direitos autorais.  Aí encontrei disponível um curta-metragem italiano, “Vortice”, de Marzio Mirabella e Massimo Stella. Na primeira vez em que assisti, fiquei chocado. A história do curta tinha tudo a ver com a letra. E a música cabia no clima das imagens. Pensei em usar uns trechos, mas bateu uma ideia estranha. Então, liguei a música no som e o vídeo no computador ao mesmo tempo.  Não só tudo se encaixava, mas a diferença entre um e outro era de alguns poucos segundos. Achamos o Mirabella e mandamos a música para ele, explicando toda história, toda a coincidência. Ele adorou e até mandou uma versão do curta com uma qualidade melhor. E assim, um curta que dois caras do outro lado do mundo fizeram, em outro tempo, acabou virando o vídeo da nossa música. Parece um conto do (Jorge Luis) Borges. 

Ou mais um laço na vida do Tripa Seca.