Por Martin Wolfsdorf, Líder de Investimento Social Estratégico da Barbieri AD

A forma como as organizações e empresas se relacionam com a comunidade evoluiu ao longo do tempo. O paradigma empresarial tradicional nasceu com a revolução industrial, onde se buscava principalmente maximizar a rentabilidade sem assumir a responsabilidade pelo impacto social e ambiental que sua atividade poderia gerar. As empresas eram organizadas mecanicamente e o ser humano era considerado um recurso para sua cadeia de valor.

A chegada da globalização, o desenvolvimento da consciência ecológica, as maiores exigências dos usuários e as novas tecnologias, foram alguns dos fatores que levaram as empresas a dar cada vez mais importância ao impacto socioambiental de suas atividades industriais e comerciais geradas.

Nessa evolução, a RSE (Responsabilidade Social Empresarial) representou o conjunto de ações por meio das quais as organizações se relacionam com a comunidade para gerar um impacto social positivo.

A RSE era voltada para a filantropia, ou seja, iniciativas e ações isoladas que buscavam gerar impactos sociais positivos em sua comunidade, embora sem estarem relacionados ao seu negócio. Especificamente, iniciativas que não poderiam ser sustentáveis e escaláveis, para gerar um impacto ainda maior.

Nas últimas décadas, o papel das empresas para um desenvolvimento sustentável integral começou a ser profundamente repensado, a partir de uma abordagem sistêmica.

Em particular, na última década o conceito de sustentabilidade começou a emergir como uma potencial resposta aos desafios globais emergentes e urgentes relacionados ao meio ambiente, tecnologia, economia, sociedade e bem-estar geral.

Novo paradigma

A Agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas foi um grande marco que nos convidou a refletir sobre a interdependência e responsabilidade de todos os atores da sociedade para o desenvolvimento sustentável integral.

Na última década, começou a nascer um novo paradigma empresarial do Triple Impact, que procura redefinir o sentido de sucesso do setor privado, onde o sucesso deixa de ser medido apenas pelo resultado econômico e passa a ser medido também por um impacto ambiental e/ou social positivo.

Essas empresas buscam maximizar um propósito maior e usam a força do mercado como meio de escala e não como seu objetivo final. Além disso, adotam os mais altos padrões de práticas ambientais, sociais e de governança. Por isso, tendem a ser muito mais resilientes durante as crises, algo que foi demonstrado na crise de 2008 e já foi visto nos desafios do momento atual. 

Este novo paradigma traz múltiplas mudanças na forma como entendemos que as empresas devem trabalhar. Do ponto de vista do impacto social, a forma como o setor privado vai se relacionar com a comunidade está evoluindo, razão pela qual a RSE transita para o ISE (Investimento Social Estratégico). 

A partir desse novo contexto, entende-se que o relacionamento com a comunidade deixa de ter um foco filantrópico, para ter um foco central e estratégico para o negócio, alinhado ao propósito da empresa .

Isso implica que as ações que vamos desenvolver serão uma forma de crescimento para a organização. Ao ter um impacto positivo do ponto de vista econômico, cria-se um círculo virtuoso, pois isso permite que as ações sejam mais escaláveis e tenham um impacto ainda maior. Com a filantropia, as ações acabaram ficando mais isoladas.