Marcelo Jeneci sorri com as palavras. De fala serena, um dos maiores músicos da sua geração detalha os muitos planos de futuro. “Feito Pra Acabar“, o álbum de estreia – lançado pelo slap, selo da Som Livre -, completa uma década em 2020. Ao olhar para trás, Jeneci se enxerga em um momento único de descoberta de quem era como artista. Dez anos passados, ele ainda se descobre. Essa é a graça da vida e da arte, afinal.
Jeneci aprendeu, ao longo do caminho, a estar “exatamente aqui”, como ele cantou com Tulipa Ruiz em “Dia a Dia, Lado a Lado”, single lançado no intervalo entre o segundo e o terceiro álbum, o recente e transformador “Guaia”, de 2019, indicado ao Grammy Latino.
É a segunda vez em que Jeneci está entre os selecionados do mais importante prêmio da música na América Latina. Em 2014, concorria com o segundo álbum de carreira, na categoria de melhor disco de música popular brasileira. Era o único compositor de uma nova safra em meio à gente do calibre de Marisa Monte (a vencedora na ocasião), Ivan Lins, Zeca Baleiro e Nana, Dori e Danilo Caymmi.
Agora, ele está na disputa com “Guaia”, um álbum que traduz em músicas o amadurecimento pelo qual Jeneci passou nos últimos 5 anos, ao lado de artistas de uma geração mais recente. Sinais dos novos tempos.
Jeneci entendeu esse tempo. Lidou com ele como pode, a partir das experiências de reconexão com a natureza e com quem ele é. “Foi um tempo para me aproximar da expressão sem tanta intensão“, explica Jeneci. “Você vê a expressão pura no rosto de uma criança“.
“Guaia” é essa expressão sem intensão de Jeneci. “Fiquei cinco anos conectados à minha natureza, em meio a uma natureza mais selvagem. Fui devolvido, aos poucos, a mim mesmo. A partir de então, tenho me sentido no mesmo vórtice que me fez inaugurar a fase de artista autoral para criar o álbum ‘Feito Pra Acabar’. Me sinto tomado pela mesma força“.
Existe uma conexão intrínseca entre “Feito Pra Acabar” e “Guaia”. É inevitável, até. Musicalmente, claro, Jeneci está em outro plano estético e sonoro. Também não olha para trás com um sentimento de nostalgia, pelo contrário: Jeneci criou um buraco no tempo e espaço para estar no passado e presente, simultaneamente.
Isso porque, uma década passada do álbum que o lançou para o mundo e para dianteira do palco, depois de uma intensa carreira como músico a acompanhar artistas como Chico César, Arnaldo Antunes e Erasmo Carlos, ele volta à se entregar ao álbum “Feito Pra Acabar” a partir da perspectiva de hoje.
Jeneci lança “Feito Pra Acabar – 10 Anos“, um projeto especialíssimo, na exata data em que colocou no mundo a primeira versão do álbum, em um dia 30 de outubro – ouça aqui. “Me coloquei como objetivo lançar esse disco no mesmo dia em que saiu o primeiro“, conta o artista. É o disco de 2010, mas com o artista de 2020, entende?
Eu explico: o álbum chegará em uma versão renovada, também pelo slap, com quatro novas músicas. Delas, três são inéditas: “Rara” (nome dado à música em homenagem à filha dele), “Me Sinto Bem” e Doce Loucura”. Também está incluída em “Feito Pra Acabar – 10 anos” uma versão em italiano de “Felicidade” (ponto de encontro imaterial entre o artista e milhares de pessoas) com a participação de Erica Mou.
“Durar no tempo já é uma celebração. Revisito tal estreia, cultivando o atual“, ele diz, sobre o período de isolamento social.
Gravação solitária e reencontro com o time
Sem contato com outros músicos em tempos de pandemia, Jeneci se permitiu, como ele mesmo disse, a experimentar. Sozinho, testou programas de gravação. “Com equipamento mínimo“, ele conta, e “fez uma festa com o que tinha à disposição“. Gravou e produziu duas músicas das inéditas de “Feito Pra Acabar – 10 anos” sozinho. Dessas sessões solitárias, vieram “Me Sinto Bem” e “Rara”. “Sozinho, vi que nunca estou sozinho. Fiz sobre os ombros de gigantes com quem eu trabalhei“, ele diz.
Para “Doce Loucura”, ele decidiu esperar. Queria se juntar ao o antigo time. Durante uma semana, teria ao lado Regis Damasceno, Laura Lavieri e Curumin, na casa onde mora desde que deixou São Paulo em direção ao Rio de Janeiro, no bairro Alto da Boa Vista, dentro da abundante Floresta da Tijuca. “No primeiro silêncio da casa, bateu forte a falta que eu estava de sentir a onda arrebentando em nós quatro“, ele diz.
“Sinto um chamado de expandir as imagens sonoras para o audiovisual“, conta Jenci. E “Me Sinto Bem” ganhou um clipe com roteiro assinado pelo artista – assista aqui.
Encontros
O objetivo do reencontro com a formação original dos primeiro shows, em casa, foi para registrar uma imersão e o quarteto tocando o disco inteiro, ao vivo. Formação que antecede a chegada do arranjador Arthur Verocai e do produtor Kassin.
Em uma experiência afetiva e sonoramente minimalista, eles criaram o Feito Pra Acabar Ao Vivo, que chega em novembro de 2020. Mergulharam naquelas canções com dez anos de existência (e na inédita “Doce Loucura”) enquanto trocavam experiências pelas quais passaram nesse tempo.
Tesão pelo desconhecido
Por conta do caráter transformador, nada desse ato de revisitar “Feito Pra Acabar” é nostálgico. “O grande tesão da arte é o desconhecido. É fazer o que nunca se fez. É deixar que a criação se manifeste em seu território de força, sem que a objetividade passe por cima disso“.
Por isso, a versão de “Feito Pra Acabar” se conecta com “Guaia”. Jeneci se entendeu com o tempo e com a própria criação no terceiro álbum. Fez as pazes com quem é e com o relógio que teima em seguir adiante. “Carrego no pulso o desrelógio, afim de abrir no tempo e espaço que cada encontro pede“. Livre das pressões, fez “Guaia” no tempo que o álbum exigia. “Passamos um ano fazendo o disco. É uma imersão, ser tomado por uma coisa, não aquilo de tempo contado no estúdio, de acessar um pouquinho, voltar para casa e não acessar mais. Não é um trabalho, é uma entrega molecular, psíquica, uma travessia“, avalia Jeneci.
“A mão que toca é a mão que escuta“, diz o artista. Jeneci sorri com as palavras, com as músicas novas e antigas. Sorri para passado, presente e futuro.
Álbum “Feito Pra Acabar – 10 anos” – Marcelo Jeneci
Lançamento slap/Som Livre – 30 de outubro/2020
ME SINTO BEM
(Marcelo Jeneci/Isabel Lenza)
Eu sei
que na hora em que você se vestiu
você pensou em mim
Eu vi
você passando de mãos dadas com frio
tentando não pensar em mim
Gelei
olhando a curva
logo te levar
Contei
com os meus sapatos
pra me segurar
E caminhei
meu caminhar
Aqui cheguei
cantando pra curar
Ouvi
muitos conselhos e palavras gentis
que ainda hoje hei de escutar
Vivi
o lado bom da solidão como eu quis
e o que não quis nem sei em que lado está
Chamei
a vida para ser meu novo par
E desejei
te ver sorrir
na plenitude
do que está por vir
Me sinto bem
Diante desse sol
Que aquece a mão
Que te aqueceu
na escuridão
Violão – Marcelo Jeneci
Voz – Marcelo Jeneci
Baixo Synth – Marcelo Jeneci
Bateria – Marcelo Jeneci
Piano – Marcelo Jeneci
Maraca – Marcelo Jeneci
Gravado por Marcelo Jeneci em casa.
Produzido por Marcelo Jeneci
Mixado por Kassin
Masterizado por Ricardo Garcia
DOCE LOUCURA
(Marcelo Jeneci e Carlos Rennó)
Não quero cuca nem cocada,
Não quero trufa nem pudim nem strudel,
Não quero bomba nem bom-bom em celofane.
Quero ficar me lambuzando
Em longos beijos, lânguidas lambidas,
Entre seus lábios, suas pernas, baby honey.
Doçura é o seu amor, amor:
Não há bom-bom tão bom, com tal sabor.
Eis o mel melhor, o mel dos méis:
Amor da cuca até os pés.
Não quero ácido nem álcool,
Não quero êxtase nem tapioca,
Não quero gota na jujuba nem no beize.
Quero pirar com seu sorriso
E por seu corpo perder o juízo,
Transando sexo com você; you drive me crazy.
Loucura é o seu amor, amor:
Nenhum barato pode ser maior.
Eis o coquetel dos coquetéis:
Amor do coco até os pés.
Não quero doce,
Não quero bala,
Não quero coca nem tampouco chocolate.
Loucura, eu quero seu amor – amor:
Nenhum barato pode ser maior.
Eis o coquetel dos coquetéis:
Amor da cuca até os pés.
Voz – Marcelo Jeneci
Vocal – Laura Lavieri
Bateria – Curumin
Baixo – Regis Damasceno
Violão 12 cordas – Regis Damasceno
Percussão – Curumin
Violão de aço – Regis Damasceno
Gravado por Mauro Araújo, Estúdio Marini.
Produzido por Marcelo Jeneci e Kassin
Mixado por Kassin
Masterizado por Ricardo Garcia
RARA
(Marcelo Jeneci e Carlos Rennó)
Como narrar a vinda
Da vida à vida mais que linda?
.. E sussurrar a sutil melodia
E com a fala macia
Seu nome no seu ouvido.
É muito amor envolvido.
Como narrar a lenda
De um novo ser em nossa senda?
.. E me amarrar a alguém minha cara
Tal qual à mãe me amarrara.
E ver jorrar a beleza
De vir à luz uma alteza,
Alguém que em nós engendramos,
E em quem nós continuamos…
Violão – Marcelo Jeneci
Voz – Marcelo Jeneci
Baixo Synth – Marcelo Jeneci
Sanfona – Marcelo Jeneci
Maraca – Marcelo Jeneci
Bateria – Marcelo Jeneci
Percussão – Marcelo Jeneci
Palmas – Marcelo Jeneci
Assovios – Marcelo Jeneci
Produzido por Marcelo Jeneci
Gravado por Marcelo Jeneci em casa
Mixado por Kassin
Masterizado por Ricardo Garcia
FELICIDADE
(Marcelo Jeneci/Chico César/Versão Ricardo Fischmann/Tomaz Di Cunto/Massimiliano de Tomassi)
Se verrà un giorno in cui non sarà più con te felicità
Sentirai sulla tua pelle l’aria muoversi e andrà bene come va
E all’improvviso, riderai
Felicità la trovi dentro te
Se poi domani, pioverà
Lascia cadere, il sole tornerà
Ti ricorderai dei giorni senza luce e delle notti in bianco
Ma se piangi, sarà invano
Perché il tempo non ritorna più
È meglio vivere ogni giorno, sai, il sole nascerà per te
Hai pianto, hai riso, ok, balla insieme a me
Nella pioggia, quando pioggia c’è
È meglio vivere ogni giorno, sai, il sole nascerà per te
Hai pianto, hai riso, ok, balla insieme a me
Sotto la pioggia, quando pioggia c’è
Quando il peso sembra troppo,
Quando senti che non ce la fai
Fatti forza, guarda avanti, presto tutto questo passerà
Voz, piano, wurlitzer, belis e assovios Marcelo Jeneci
Voz: Erica Mou
Baixo: Regis Damasceno
Violão 12 cordas: Estevan Sinkovits
Violão Tenor: Gustavo Ruiz
Guitarra Edgard Scandurra
Bateria: Curumin
Percussão: Bruno Buarque
Arranjos de Cordas Arthur Verocai.
Produzido e mixado por Kassin
Masterizado por Ricardo Garcia
Gravação de voz por Marcelo Jeneci e Erica Mou em casa
Gravação base (2010): no estúdio Comep SP, em fevereiro de 2010 por yuri kalil, assistente de estúdio vanderlei Pena, gravação de vozes adicionais no Space Bless Studio (sp) por alexandre Fontanetti, El Rocha (sp), por Fernando Sanches, Gravação adicional de percussões no estúdio Minduca (sp) por Bruno Buarque, Gravação de orquestra nos estúdios Mega (Rj), por Eduardo Costa, Gravação de overdubs e mixagem no Totem Estúdio (SP), por yuri Kalil.
Produção Executiva Verônica Pessoa e Julia Duarte, Roadie Fábio Parsa, Produção Ana Paula Veríssimo.
Músicos Orquestra: violinos Adornhiram Reis, Andréa Moniz, André Cunha, Denise Pedrassoli, Fábio Peixoto, Keelyth Vianna, Léo Ortiz, Marlene Ferreira, Mauro Rufino Martins, Roberto Faria, Taís Soares. Violas: Déborah Cheyne, Nayran Pessanha, Rúbia Siqueira. Cellos: David Chew, Marcus Ribeiro. Trompa: Eliéser Gomes Conrado. Clarinete: Thiago Tavares. Flauta: Sammy Fuks. Oboé: Eliesér Santos.
FEITO PRA ACABAR – 10 ANOS
Direção geral: Marcelo Jeneci e Renata Franchini
Produção Executiva: Renata Franchini
Comunicação: Renata Franchini (Pitanga Cultural)
Assessoria de Imprensa: Bebel Prates
Assessoria Jurídica: Andrea Francez
Lançamento: slap.
Capa:
Foto: Jorge Bispo
Beleza: Babi Bosque
Figurino: José Camarano
Diagramação: slap
Clipe “Me Sinto Bem”:
Direção: João Bernardes
Co-Roteiristas: João Bernardes e Marcelo Jeneci
Câmera e Fotografia: Dodi Agostinho
Imagens Aéreas/Drone e câmera 2: Glauber Barros
Edição de Vídeo: Bruno Franco
Colorização: André Tavares
Efeitos Visuais: Gerald Kohler
Figurino: José Camarano
Produção: Carlos de Andrade
Produção Executiva: Renata Franchini
Agradecimento especial: Bia, Lucas, Marco e Patrícia – Trilha dos Tucanos, Tapiraí/SP e Geraldo Gambini (ornitólogo).
http://www.facebook.com/marcelojeneciwww.instagram.com/marcelojeneciwww.twitter.com/marcelojeneci
Sobre o slap
O slap faz parte da vida de quem busca novas experiências musicais e orgulha-se de, desde 2007, fomentar a cena indie e abrir as portas do mercado para novos artistas. Sua missão é potencializar e empoderar a cena musical independente do país, incentivando o midstream e fazendo com que novos sons, originais e arrojados, cheguem a cada vez mais pessoas. O slap carrega em sua história grandes lançamentos de nomes como Maria Gadú e Silva. Seus representantes têm todos a autenticidade como característica, e entre eles estão Céu, Luthuly, Marcelo Jeneci, Maria Gadú, Gustavo Bertoni e Scalene.
@slapmusica
gostei muito do seu site, sempre volto para ver conteudo
tão bem elaborado…