No domingo (14) rola o Ibura Cypher, com breakers se apresentando livremente, testando seus movimentos e batalhando no ritmo da música
Durante todo o mês de novembro rola no Recife a 10ª edição do projeto Cidadania no Morro, que busca promover ações sociais dentro de comunidades carentes, como o bairro do Ibura, com o objetivo de estimular práticas culturais e de lazer, ajudando assim a fortalecer a identidade sociocultural e a autoestima dos jovens periféricos. O projeto foca sua programação em manifestações artísticas regionais e, principalmente, na cultura do Hip Hop, celebrado mundialmente no dia 12 de novembro. Em comemoração a data, no domingo (14), acontece o Ibura Cypher, na quadra Ivanildo Bezerra, popularmente conhecida como Buraco da Gata, no Alto Três Carneiros. Por lá, a partir das 15h, rolam apresentações culturais dos grupos Cia de Dança Style, Salto Cia de Dança, Step Evolution Crew, DJ Beto, intervenção de Grafite e microfone aberto.
Na cultura do Hip Hop, as cyphers são realizadas como uma oportunidade para os dançarinos compartilharem seu amor pela dança, sem que haja competição oficial ou prêmios em dinheiro. Nelas, os breakers podem dançar livremente, testando seus movimentos e competindo ao ritmo da música, sem as restrições das batalhas organizadas. Além de ser uma celebração, a ação também é vista como uma forma de resistência e ocupação de espaços, muitas vezes esquecidos pelo poder público.
Segundo Levi Costa, líder comunitário e um dos diretores do grupo Step Evolution Crew, responsável pela idealização do projeto social, a ideia do Cidadania no Morro nasceu justamente da sua própria vivência na comunidade. “Aqui nosso objetivo é resgatar o emocional e o social de cada jovem, contribuir para a formação de cidadãos de caráter e opinião crítica. Tudo isso se transforma em resultados que viabilizam o engajamento de jovens urbanos em suas comunidades. É mais do que arte pela arte. É arte engajada, é trabalhar política e socialmente, é entender os contrastes sociais”, explica.
O projeto, de acordo com Levi, nasceu em 2009 com a ideia de, através das danças urbanas – regionais e americanizadas –, promover ações culturais como alternativa para o combate do racismo e da violência. Assim, a programação contempla o breaking, popping, dance hall, all style, mas também o frevo, a capoeira, o caboclinho e muitas outras.
“Dentro do contexto histórico das danças urbanas, o projeto ainda promove palestras sobre cidadania e cultura de paz, oficinas de danças, mostra cultural e muito mais. Nossa proposta contribui com a inclusão social, a geração de renda, dá visibilidade aos oficineiros e artistas da comunidade… É coletivo! O projeto Cidadania no Morro só é possível porque é feito em coletivo”, diz Sérgio Melo, da Terno da Mata, que atua como produtor e apoiador do evento.
Ainda dentro da programação, rolam, até o dia 18 de novembro, na Associação 3 Carneiros, no Ibura, oficinas gratuitas de frevo, breaking, popping e dance hall (todas com inscrições já encerradas), com entrega de certificados. As oficinas atendem jovens de toda a RPA 06 (Ibura, Pina, Jordão, Ipsep, Ibiribeira e Boa Viagem) e de localidades como Cabo de Santo Agostinho, Cidade Universitária, Boa Vista e Camaragibe, entre outras.
Também está previsto, diretamente de São Paulo, o lançamento virtual do livro “A Pedagogia Hip Hop”, escrito pela Bgirl Cris. Aobra aborda os pilares, a consciência, a resistência e os saberes da cultura hip hop, destacando toda a importância do movimento para a população negra e periférica. Já em dezembro, no dia 20, ocorre o lançamento oficial de um mini documentário que vem sendo gravado sobre o projeto.
O Cidadania no Morro é um projeto idealizado pelo grupo de danças urbanas Step Evolution Crew, com incentivo do Funcultura e Governo do Estado, em parceria com a Terno da Mata Produções, Associação de Moradores de Três Carneiros, Império Inc, Escola Prof. Jordão Emerenciano, Escola Senador Antônio Farias e Escola Estadual Lagoa Encantada.
O que são cyphers? Muito antes de B-Boys e B-Girls competirem uns contra os outros em arenas de grandes campeonatos – e serem julgados por seus passos –, já existiam as cyphers. Nelas, os breakers podiam dançar livremente, testando seus movimentos e competindo ao ritmo da música, sem as restrições das batalhas organizadas.
Uma cypher de breaking não precisa de palco ou área designada para acontecer. Basta que os B-Boys e B-Girls formem um círculo e, um após o outro, entrem no meio dele para dançar. E isso pode ser feito em qualquer lugar: festas, clubes, estações de trem, na praia ou até mesmo na sala de casa. Além disso, não há limite para a quantidade de pessoas que podem formar uma cypher. A roda pode ser pequena, com três indivíduos, ou chegar a até 30 pessoas.
As cyphers são importantes para breakers porque ao contrário de uma competição, os dançarinos não precisam se qualificar para entrar em uma. A roda é um lugar para todos, desde iniciantes até dançarinos de alto nível. Idade e gênero não importam. Todos podem apenas entrar e dançar, quantas vezes e por quanto tempo quiser.