Apesar dos inúmeros avanços nos tratamentos contra diversos tipos de câncer, como a imunoterapia e a oncologia de precisão, receber o diagnóstico de um tumor maligno continua causando ansiedade, insegurança e depressão em muitas pessoas. Ter apoio de voluntários ou de quem já passou por isso pode fazer muita diferença aos pacientes que precisam reunir forças para enfrentar um tratamento, que muitas vezes é difícil e duradouro.
Para acolher essas pessoas e ajudar a devolvê-las a esperança, surgiu o projeto Amor Cura, que está completando 10 anos de existência e atuação. A iniciativa criada na clínica oncológica Multihemo Oncoclínicas tem como propósito levar um pouco de conforto, além de orientações, para pessoas com câncer de diversas instituições do Recife. Vera Chaves é psicóloga e atua no Amor Cura desde o início. Ela explica como a iniciativa vem ajudando pacientes e voluntários. “Sabemos que o diagnóstico de câncer, às vezes, vem de uma forma muito intensa e, só em falar, as pessoas já entram em processo de sofrimento. Não dá para romantizar. Então, ter alguém que acolha e que chegue junto é muito importante. E é muito gratificante fazer o bem e sentir o bem, porque quando fazemos, também recebemos toda essa energia do outro. Os pacientes
sentem gratidão pela nossa presença, atenção e pelo nosso cuidar. Não é um simples encontro de levar um brinde para alguém. De fato, é levar amor”, detalhou.
O projeto foi criado pela ex-paciente Enyceli da Silva, em 2014, com base em um modelo parecido existente nos Estados Unidos. As primeiras doações, inclusive, vieram de lá. A gestão da clínica na época abraçou a causa e, hoje, o Amor Cura conta com 20 voluntários com foco em realizar um trabalho que favoreça e estimule a autoestima do paciente, além de reacender valores importantes para as relações humanas. O grupo realiza visitas em instituições públicas como o Hospital do Câncer, Hospital das Clínicas, Imip e Barão de Lucena. “Também fazemos campanhas na Multihemo Oncoclínica onde arrecadamos bonés, bijuterias, chapéus e lenços. Organizamos as doações em kits e agendamos visitas em datas comemorativas como o Dia das Mães, do Pais, entre outros. Em outubro, dividimos nossa atenção com as crianças e doamos brinquedos”, explica Vera.
A voluntária Jaciana Cordeiro enfrentou um câncer de mama há 20 anos e sabe bem como essa experiência pode ajudar a quem está enfrentando a doença. “Qualquer tratamento de câncer não é um processo fácil, mas temos que acreditar que a cura virá. Gosto de doar meu tempo e de escutar essas pessoas. Faço questão de sempre participar. Quando vemos os sorrisos é sempre gratificante”.
A corrente do amor e a vontade de ajudar chega a ex-pacientes, familiares, profissionais de saúde, tem conquistado novos voluntários ao longo dos anos e motivado pessoas que estão desde o início. Como Carlos Alberto Cavalcanti e a esposa Sueli Bezerra Cavalcanti. “Decidimos entrar porque achamos a iniciativa muito bonita, de dedicação ao próximo e levar amor a quem precisa. Promovemos campanhas em lojas do comércio e em escolas para arrecadar o máximo de material possível, mas, muitas vezes, aquelas pessoas precisam apenas de um abraço, de atenção, afinal estão passando por um momento difícil e que nem todo mundo entende, apenas o paciente e seus familiares”, acrescenta.
Rede de apoio é fundamental
Contar com uma rede de apoio formada por familiares, amigos e equipe de saúde traz muito suporte emocional para pessoas que enfrentam um câncer. Dados da American Cancer Society apontam que cerca de um terço dos pacientes desenvolvem algum tipo de distúrbio de saúde mental durante o tratamento da doença. O acompanhamento de um psicólogo também é importante, pois, muitas vezes, esses transtornos podem ser confundidos com medo e angústia, que são respostas naturais do organismo. O psicólogo pode diagnosticar de forma precisa a condição do paciente e orientar como deve ser o processo de melhora.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde fez uma projeção de que, em 2050, o número de casos de câncer no mundo será 70% maior do que em 2022. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou cerca de 704 mil casos da doença, no triênio 2023-2025.