Cristianne Barros foi peça-chave na elaboração do projeto aprovado por unanimidade pelo CEPPC
O tradicional bolo de noiva agora é Patrimônio Imaterial de Pernambuco. O reconhecimento, oficializado em uma resolução publicada no Diário Oficial do Estado da última terça-feira (19), é um marco histórico para a confeitaria pernambucana. Uma vitória para boleiras e boleiros que cultivam uma tradição com muito amor, arte e dedicação. E uma das responsáveis por essa conquista foi a chef Cristianne Barros, professora do curso de Gastronomia da Faculdade Senac Pernambuco.
Pesquisadora e estudiosa do tema, a chef já publicou vários artigos sobre a receita. Sua dissertação de mestrado foi sobre a iguaria, tendo como título “A Educação Cultural a partir do Bolo de Noiva Pernambucano”. Na ocasião, ela entrevistou inúmeras boleiras e boleiros por todas as microrregiões de Pernambuco, valorizando as falas de cada um. Cristianne buscou por literaturas que embasassem a sua pesquisa, com estudos sobre os saberes e fazeres das pessoas por trás da tradicional receita.
“Na convivência com culturas de outros Estados e países, além de um profundo estudo sobre os costumes do povo pernambucano no consumo desta iguaria, alimentei este sonho”, afirma a professora, referindo-se ao desejo antigo de registrar o bolo de noiva como Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco. “Eu não compreendia como um bolo tão enraizado em nossa cultura, nas nossas tradições, presente em todos os eventos sociais, não tinha visibilidade nas doçarias, confeitarias e padarias”, completa.
Ao longo dos anos, como professora de Gastronomia na Faculdade Senac, Cristianne Barros sempre solicitou apoio aos alunos caso eles tivessem conhecimento de algum deputado que abraçasse o seu projeto para registro do bolo de noiva. Até que no ano de 2021 isso se concretizou. “Durante o semestre letivo, eu expus em sala de aula e a aluna Sandra Barros se sensibilizou. Ela pesquisou na Assembleia qual seria o trâmite para este registro e viu que o deputado Fabrizio Ferraz era acessível a esse processo. Assim, desenvolvi um projeto e o deputado deu entrada no gabinete para que o então governador autorizasse o início do projeto de patrimonialização”, explica.
E foi por unanimidade que o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC) aprovou, no último dia 14 de dezembro, o registro das práticas socioculturais associadas ao bolo de noiva, marcando o ponto culminante de um trabalho que se estendeu por mais de dois anos. Agora, a receita será inscrita no Livro de Registro dos Saberes do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco.
Para Cristianne Barros, o registro representa o início da valorização da rica e singular gastronomia pernambucana. “É um marco histórico de grande legado cultural para a confeitaria do Estado, assim como para a preservação de nossas raízes, salvaguardando seus saberes e fazeres tão relevantes para a conservação deste patrimônio nas futuras gerações”, finaliza a professora.
Receita do tradicional bolo de noiva pernambucano (por Cristianne Barros):
Ingredientes para a massa
250g manteiga sem sal
250g açúcar mascavo
250g farinha de trigo (sem fermento – tipo 1)
3 ovos
60g Achocolatado ou cacau em pó
10g de fermento químico
500ml vinho do Porto ou Moscatel (para macerar as frutas)
250g de frutas cristalizadas
250g de uvas passas
250g de ameixas sem caroço
2 g de noz moscada (opcional)
1 pitada de sal
Modo de preparo
Deixe as frutas macerando no vinho por no mínimo 24 horas, no mínimo. Quanto mais tempo, melhor. Podem ficar meses apurando e o sabor só melhora. Em um bowl, deixe as ameixas de molho com bastante água na geladeira, um dia antes do preparo do bolo. Pré-aqueça o forno a 160°C, e insira uma caldeira de água no forno.
Realize o mise en place dos ingredientes, pesando-os. Reserve. Retire as ameixas da geladeira e, com o auxílio de uma panela, leve-as para cozinhar com 100g de açúcar (retirados da receita). Deixe cozinhar as ameixas até que amoleçam. Retire da cocção e ao esfriar machuque-as com auxilio de um garfo e reserve.
Escorra o vinho das frutas maceradas e reserve. Processe as frutas cristalizadas. Leve a batedeira, a manteiga com o açúcar por em média 6 minutos. Insira os ovos um a um batendo bem, ou se preferir coloque as gemas e insira as claras em neve ao final da preparação da massa. Junte os secos, reservando o fermento.
Retire da batedeira e aos poucos envolva levemente os secos alternando com o vinho macerado das frutas. Insira as ameixas, as frutas cristalizadas e as passas e após, adicione o fermento e a noz (opcional). Unte ou utilize o desmoldante em uma forma de 15 cm x 10 cm de altura, e forre com papel manteiga, ultrapassando dois centímetros de altura da forma. Leve a cocção por em média de 1h30.
Ingredientes para o glacê mármore tradicional
70g de claras pasteurizadas
1,5 a 2,0 kg de glaçúcar peneirado
100ml de sumo de limão (dois a três limões)
Modo de preparo
Bata as claras até obter textura de neve. Aos poucos vá adicionando o açúcar até obter uma pasta cremosa, adicione o sumo do limão e um pouco mais de açúcar, quando estiver com textura cremosa, retire da batedeira e reserve um pouco para selar o bolo. Reserve. Aos poucos vá inserindo o glaçúcar até soltar das mãos. Mantenha coberto.