Diagnóstico tardio, subnotificação de casos, dificuldade de acesso a medicamentos e de assistência estão entre os problemas encontrados por pacientes de doenças crônicas e outras patologias, desde o aparecimento de casos do novo Coronavírus no Brasil. 

Aqui em Pernambuco, pacientes com hanseníase enfrentam problemas para receber os antibióticos (clofazimina, dapsona e rifampicina) necessários para o tratamento da doença. De acordo com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), diversas denúncias foram relatadas sobre o atraso na entrega dos medicamentos. O problema agrava ainda mais a situação dos pacientes, já que poucas farmácias comercializam remédios para hanseníase no país.

Para o médico dermatologista Sérgio Paulo, que também é professor da Faculdade de Ciências Médicas da UPE, o cenário é preocupante e pode comprometer todo o tratamento. “Quando o paciente deixa de tomar o antibiótico, a bactéria responsável (Mycobacterium leprae) fica mais resistente ao tratamento depois. No ano passado, pesquisadores brasileiros já tinham detectado a existência de bactérias resistentes ao tratamento padrão em maior proporção do que os números divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, afirma.

Com a pandemia de coronavírus, houve uma redução drástica no número de diagnósticos de hanseníase, já que as pessoas estão com receio de frequentar postos de saúde. Segundo o Morhan, só no primeiro semestre deste ano, houve uma queda de 40% no número de diagnósticos. Nos últimos cinco anos, o Brasil sempre registrava 15 mil casos de hanseníase nos seis primeiros meses. Este ano, foram contabilizados apenas seis mil casos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é um país de alta carga para a hanseníase, ocupando o segundo lugar mundial em novos casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Todos os anos, são registrados cerca de 30 mil casos de hanseníase no Brasil. 

De acordo com Dr. Sérgio, um fator preocupante é o número de casos em jovens com menos de 15 anos. “Em 2018, o Ministério da Saúde informou que 1.700 casos de hanseníase foram contabilizados nesta faixa etária. Isso é resultado da falta de controle por parte das autoridades públicas. O avanço da doença entre menos de 15 anos é ainda maior no Nordeste. O desenvolvimento da doença depende do bacilo, do hospedeiro e das condições do ambiente”, explica.

A hanseníase, antigamente conhecida como lepra, é uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen. Hoje, em todo o mundo, o tratamento é oferecido gratuitamente, visando que a doença deixe de ser um problema de saúde pública. 

A transmissão do M. leprae se dá por meio de convivência muito próxima e prolongada com o doente da forma transmissora, chamada multibacilar, que não se encontra em tratamento, por contato com gotículas de saliva ou secreções do nariz. Tocar a pele do paciente não transmite a hanseníase. Cerca de 90% da população têm defesa contra a doença. O período de incubação (tempo entre a aquisição a doença e da manifestação dos sintomas) varia de seis meses a cinco anos.