A composição foi produzida durante a pandemia e inspirada numa série de eventos que mudaram nossas vidas neste período

Compositor, arranjador, instrumentista e cantor, o pernambucano Sergio Gaia se reinventa e lança sua carreira solo, após extensa trajetória na música. Entre 2009 e 2013, integrou a Banda Gaia, como vocalista, baixista, produtor e compositor. O projeto surgiu quando morava em São Paulo, no período que fazia doutorado em composição pela Unicamp. “Era uma proposta mais rock, mistura de uma sonoridade Led Zeppelin com cancioneiro brasileiro dos anos 60/70, tais como Clube da Esquina, Tropicália, Secos & Molhados etc.”, lembra Sergio Gaia. 

Com a Banda Gaia, lançou o disco autoral Coragem pra partir, dois clipes, participou de festivais e fez diversos shows. “Mas acabei preferindo voltar pra Recife, onde, agora, sigo nova proposta em meu projeto individual: uma canção local, pernambucana, misturada a elementos de indie e pop rock mais modernos”, conta. O músico, que atuou como Coordenador de Música do Paço do Frevo (final de 2017 até início de 2020) e professor do Conservatório Pernambucano de Música, estreia nova fase da sua carreira com composição inspirada nestes tempos de incertezas e caos que estamos passando. 

Com o nome Tempos de Pedra, a música surgiu “influenciada por esse momento em que o capitalismo apresenta cada vez a encruzilhada do crescimento a todo custo, dependendo pra isso dos recursos de um planeta que são finitos. Pandemia, queimadas e uma série de eventos que mudaram profundamente nossas vidas nesse período são um sinal de alerta imenso para refletirmos sobre o que realmente é importante e fundamental na vida; e de modo algum pode ser aceitável que o lucro esteja acima da vida humana”, diz Sergio Gaia. 

Sobre seu processo criativo e nome da canção, o músico conta que a letra nasceu dessa reflexão, falando de um mundo onde, depois de toda a destruição, apenas pedras sobraram “e o único ser humano restante não tem onde firmar pouso, não tem com quem dividir aquilo que lucrou, não tem país, nação ou coletividade a qual pertencer”, completa. Para Sergio Gaia, a música é densa, devido à temática, mas buscou uma sonoridade moderna, junto com Marco Melo, que mixou a canção. Assim, efeitos sonoros reforçam as intenções da letra. 

Sobre a instrumentação, Sergio Gaia mostra que é simples, com uma bateria eletrônica levemente regional e, por cima, violão, voz e piano. “Aliás, o piano de Sergio Godoy, grande músico recifense e professor do Departamento de Música da UFPE, foi outro elemento que engrandeceu muito o resultado da música”. Para lançamento de Tempos de Pedra, foi produzido videoclipe, já disponível nas mídias sociais do artista, como no canal do Youtube, no link: https://youtu.be/wHs2luYtBQ0. A produção é de Sergio Gaia, junto com o fotógrafo Rafael Cacau, que também assinou a direção, fotografia e edição do videoclipe. O vídeo conta ainda com participação especial de Sérgio Godoy, no piano, e interpretação do próprio Sergio Gaia. 

O vídeo teve a parte mais escura gravada no Recife, no Studio Paulo Romão, no bairro das Graças. Já as imagens ao ar livre foram captadas nas ruínas que existem ao lado da Igreja Nossa Senhora de Nazaré, na Vila de Nazaré, no Cabo de Santo Agostinho, próxima à Casa do Faroleiro. “As ruínas, repletas de pedras e rochas, foi meio que pra dar uma sensação sobre o mundo perdido do qual fala a letra. Ao mesmo tempo, a gente quis passar um contraste entre a canção cantada dentro de um lugar escuro e a sensação de ar livre, nas cenas gravadas nas ruínas. Assim, a ideia se justifica no final, quando eu encontro a saída que vai dar no mar”, explica Sergio Gaia. 

O videoclipe traz ainda algumas imagens de arquivo jornalístico sobre as recentes queimadas no Pantanal brasileiro, “um fato chocante que, devido à temática da música, acabou encontrando um lugar importante no clipe”, pontua o artista. Apesar do tema da música ser intenso, o videoclipe também traz uma mensagem de esperança, na cena final, quando Sergio Gaia vai abrindo os braços diante do mar. Tempos de Pedra, é uma das cinco composições que farão parte do EP que o artista lançará no primeiro semestre de 2021. 

SÓ AURORA NASCERÁ – Outra música que fará parte do primeiro EP da sua carreira solo é Só Aurora Nascerá, dedicada à Aurora, sua sobrinha, quando completou 1 ano, em maio deste ano. Leve e delicada, diferente da temática de Tempos de Pedra, a composição “foi inspirada por um motivo bastante particular, digamos assim – embora eu também goste de dividi-lo com o público”, revela o artista. A canção também ganhou videoclipe, com participação da cantora Maria Flor e direção de Miguel Gaia, disponível no Youtube, no link: https://youtu.be/HUntvKtBFO4

TRAJETÓRIA NA MÚSICA

Artista desde criança, Sergio Gaia se formou em Licenciatura em Música pela UFPE, seguindo carreira academia com Mestrado em Etnomusicologia (UFPB) e Doutorado em Composição (Unicamp), com período de pesquisa na University of Florida-Gainesville (EUA). A partir da sua pesquisa de mestrado, lançou o livro Ney Matogrosso: o ator da canção, um estudo etnomusicológico sob a performance do artista, pela Editora Multifoco do Rio de Janeiro. 

A obra teve segunda edição lançada em 2010, na XX Bienal Internacional do Livro de São Paulo, além de shows de lançamento no Conservatório Pernambucano de Música e no SL Music Hall, em São Paulo. Já seu doutorado foi uma pesquisa sobre os processos criativos do maestro e compositor pernambucano Moacir Santos (grande influência para Sergio Gaia), resultando não só na pesquisa escrita, mas também na composição de obra autoral de três movimentos Suíte Ouro Negro – do Sertão à Califórnia

“Eu a compus para uma orquestra semelhante às formações instrumentais usadas pelo Moacir e a música foi estreada no aniversário do Conservatório de Música pela Banda Sinfônica do CPM, em 2016, no Teatro Santa Isabel”, recorda o músico, que foi professor do Conservatório Pernambucano de Música, em 2008, e Coordenador de Música do Paço do Frevo, nos último três anos. Durante o período que residiu em São Paulo, lançou a Banda Gaia, com uma proposta mais rock “vintage”. Atualmente, de volta ao Recife, estreia sua carreira solo, com influências pernambucanas, indie e pop rock moderno. Mais informações sobre o artista no Instagram (@sergiogaiaoficial) e Youtube.