A partir de 20 de dezembro, “Frevo Vivo”, com nova expografia na ala térrea do museu, apresenta o Frevo em constante transformação
No mês da comemoração dos 10 anos do reconhecimento do Frevo como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, o Paço do Frevo celebra a data atualizando parte da sua exposição de longa duração, construída de forma coletiva por diversos colaboradores e colaboradoras locais. Desde a inauguração do Centro de Referência em Salvaguarda do Frevo, há oito anos, a exposição não era atualizada.
Com patrocínio do Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a exposição intitulada “Frevo Vivo” dará as boas-vindas aos visitantes mostrando que o Frevo não é apenas um museu de memórias do passado. Pelo contrário, ele segue vivo, inquieto, pulsante e em constante transformação, nos corpos, na cidade e no mundo, 365 dias por ano. Quem entrar no Paço do Frevo a partir de 20 de dezembro vai encontrar o piso térreo diferente – e com inéditas surpresas.
Dando visibilidade a personagens e pontos de vista até então menos presentes, a exposição “Frevo Vivo” conta a história do Frevo destacando as mulheres, a negritude, as crianças e personagens essenciais dentro da comunidade frevística, como os artesãos e as artesãs, além de produções e registros da atualidade. Também apresenta duas instalações inéditas: uma cartografia sonora do Frevo e uma vídeo-instalação. As novas intervenções irão substituir a linha do tempo atual e também irão ocupar os espaços do hall de escada e do Centro de Documentação.
“Frevo Vivo” une tradição e inovação ao reverenciar o Frevo como patrimônio vivo, reunindo composições, manifestações e registros da atualidade sem esquecer as raízes. Os visitantes vão encontrar reformulada a já conhecida linha do tempo, que agora destaca a história através de um recorte de fatos e temas pouco visibilizados, mas fundamentais para que o Frevo se tornasse a potência que é.
Tudo isso será apresentado numa cronologia mais fragmentada, construída de forma não linear, com um jogo de perguntas e respostas – característico do Frevo-de-Rua –, como, por exemplo, “Como vai soar o Frevo daqui a 100 anos?“, “Festa e fé, como se misturam?” e “Quem pinta e desenha o Frevo?”. As datas são apresentadas através de temáticas sociais e históricas, num ambiente imersivo, com trilha sonora e uma nova materialidade.
A inspiração para trazer novas perspectivas foi a fragmentação da sombrinha de Frevo em triângulos abstratos. Com base nessa ideia, o hall da escada ganhou uma escultura construída de sombrinhas brancas fragmentadas feitas por Mestre Wilson, referência na dança e no artesanato. Ele é uma das tantas pessoas que compõem a pluralidade da comunidade do Frevo presentes nessa atualização da exposição de longa duração, com os diversos corpos e os setores que constroem o Frevo. Além do Mestre Wilson, há nomes como a performer Inaê Silva, a costureira Goretti Caminha, a passista Adriana Frevo e o Clube Lenhadores de Paudalho.
“O Paço do Frevo reafirma o seu lugar de encontros, da reverência à história e à tradição, dialogando com a efervescência e a criatividade que traçam futuros. O Frevo não apenas está muito vivo, ele é assim, de sempre e para sempre, de ontem e de hoje, sendo o mesmo e tantos a um só tempo. Uma perene e vibrante expressão da cultura, dos corpos, das identidades, dos pertencimentos e, podemos dizer, dos sonhos que nos fazem quem somos”, diz o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello.
Para a diretora do museu, Luciana Félix, “A exposição Frevo Vivo cumpre a missão institucional do Paço do Frevo de olhar, como centro de referência em salvaguarda, o que acontece no dia a dia, as pautas urgentes e os debates profundos que cercam a cultura popular, olhando e valorizando as tradições ao mesmo tempo em que está atento ao que emerge do cotidiano. Essa é, portanto, uma expografia que não veio pronta, mas que passou por várias etapas de reflexão sobre os anseios da comunidade frevística nos oitos anos de existência do Paço”.
“Como forma de celebrar os 10 anos do Frevo como patrimônio imaterial pela Unesco, valorizando essa pluralidade e os processos colaborativos, o Paço também entrega à sociedade, neste mês de dezembro, um Novo Plano Museológico. Ao longo de todo o ano, ouvimos as diversas comunidades que compõem o Frevo e também o público para entender as funções do equipamento cultural e as ações que devem ser priorizadas para os próximos cinco anos”, complementa Luciana.
ABERTURA – A noite do dia 20, que abre às 18h com a visitação da nova mostra para o público, ocupará também a frente do Paço com um palco de atrações gratuitas. Às 19h, a passista, pesquisadora e professora de dança Rebeca Gondim ilustra debates sobre a representatividade e diversidade no Frevo com a performance “Virada no mói de coentro”, que se debruça sobre a história oficial que foi contada em muitos livros sobre o Frevo, o passo e o Carnaval e questiona a invisibilidade das mulheres negras. Traz também para a roda suas memórias e as histórias de muitas mulheres que seguem resistindo aos silenciamentos. “Virada” é mais um grito, mais uma tentativa de reaprender a falar/dançar e recontar nossas histórias.
Às 19h30, será apresentada a performance “É de fazer tremer: corpos negros no encontro dos tempo”, experiência que entrelaça a dança e a música, o passo e o som em diálogo, composta pelas artistas Bárbara Regina, Neris Rodrigues, Vilma Carijós e Orun Santana. Existiria o Frevo sem o passo? Questiona-se a relevância do movimento para o acontecimento que é o Frevo, de onde veio, suas origens de matrizes africanas, para onde tem ido, se busca um virar de pescoço, um olhar para o passado para lançar voos nesses tempos de retomada. Cenas e sonoridades construídas coletivamente, estruturas coreográficas e musicais em relação, ancoradas na frase “o Frevo é preto”.
E, em grande retorno aos palcos, às 20h, o compositor e regente Maestro Duda reencontra o público depois de um longo período de recuperação de problemas de saúde. Maestro Duda ou Mestre Duda, o José Ursicino da Silva, nasceu em Goiana, interior de Pernambuco, em 23 de dezembro de 1935. Gênio da composição e do arranjo, é autor de choros gravados por Severino Araújo e Oscar Miliani, sambas gravados por Jamelão, músicas para o Quinteto de Sopros e o Quinteto de Metais, banda e orquestra, recebeu o prêmio de melhor arranjo de música popular brasileira em 1980, em concurso promovido pela Globo, Shell e Associação Brasileira de Produtores de Discos. Foi homenageado do Carnaval Multicultural do Recife em 2011 e traz como marca a experimentação de novos arranjos de músicas que marcaram época no Carnaval pernambucano.
INEDITISMO – A exposição “Frevo Vivo” inclui instalações inéditas. Uma delas é a “Cartografia Sonora do Frevo: o Frevo Pulsa na Cidade”, produzida pela 9 Oitavos, que convida pernambucanos e turistas a descobrirem o Frevo que vive na capital e também no interior do Estado. Inclui seis agremiações e iniciativas fora da Região Metropolitana do Recife, a exemplo do projeto Sertão Frevo, expoente no ensino e na difusão do Frevo em Serra Talhada, e a Orquestra Curica, de Goiana, na Zona da Mata Norte, que é patrimônio vivo de Pernambuco.
O mapa sonoro tem 20 pontos de escuta e reúne fragmentos de sons, vozes, ritmos e performances captados em lugares emblemáticos. No meio da instalação, representando a pulsação do Frevo, há uma escultura feita a partir de instrumentos típicos do ritmo, com uma iluminação especial.
Outra novidade é a vídeo-instalação inédita “Todo Mundo Freva”, que convida o visitante a desenvolver passos com o auxílio de uma projeção que demonstra alguns desses movimentos. Produzida pelo coletivo de VJs Retinantz, a experiência mostra que todo mundo pode frevar, afinal é do espaço que se dá ao corpo que emana o Frevo. A dança do Frevo – ou o passo – ficou mais conhecida pela força e agilidade dos passos acrobáticos e complexos executados por passistas experientes. Porém, nos últimos anos, passistas e foliões vêm desafiando essa imagem tradicional e propondo formas contemporâneas de dançar, sentir e brincar o Frevo.
Na sequência, na sala contígua intitulada “No Frevo Não é Tudo Igual”, de 20 m², os visitantes poderão mergulhar num ambiente sonoro para curtir uma experiência potente e única de ouvir Frevo numa alta qualidade de reprodução que permite sentir a frequência e os graves, com uma seleção feita pelo curador musical Rafael Marques. O espaço também será dedicado a explicar, de forma didática, a diferenciação entre Frevo-de-Rua, Frevo-Canção e Frevo-de-Bloco.
“Frevo Vivo” foi construída com recursos de acessibilidade comunicacional de forma a inserir pessoas com deficiência sensorial no museu. Traz audiodescrição através de uma visita guiada gravada para as pessoas com deficiência visual – e para elas, o piso podotátil colabora com a mobilidade. Para o público surdo ou ensurdecido, vídeos em Libras poderão ser acessados via QRcodes e os sons da instalação “Cartografia Sonora do Frevo” estarão disponíveis por meio de legendas descritivas. O conteúdo foi realizado pela Com Acessibilidade Comunicacional, que conta com consultoria de pessoas com deficiência e teve apoio da equipe do Educativo do Paço.
O projeto arquitetônico é da Casa Criatura, espaço no Sítio Histórico de Olinda que reúne design, arquitetura e cultura com propostas sustentáveis. A identidade visual da exposição “Frevo Vivo” é de Luciana Calheiros, do Grêmio Lítero Recreativo Cultural Misto Carnavalesco Eu Acho é Pouco e consultora do Paço.
CURADORIA COLETIVA – A consultora de exposições do IDG, Marina Piquet, destaca o processo curatorial coletivo e horizontal: “Foi um projeto coletivo desde o começo, com toda a equipe de especialistas e consultores formada só por recifenses e o pessoal do próprio Paço do Frevo, entre eles historiadores, passistas, estudiosos e pesquisadores. Foi um ganho muito grande”.
O Centro de Referência em Salvaguarda do Frevo optou por uma curadoria que envolvesse as coordenações, os educadores e pesquisadores do Paço, além de diversos colaboradores do museu. Esse trabalho, feito a várias mãos, é também fruto dos processos permanentes de escuta para entender os anseios e as inquietações da comunidade frevística, que foi ouvida em vários momentos. O processo coletivo também envolveu as construções feitas a partir da atualização do Plano Museológico do Paço em 2022, valorizando as colaborações de quem constrói o Frevo cotidianamente nos mais diversos espaços e também de quem visita o equipamento cultural.
“Com muita emoção e pulsar, esperamos que a ‘Frevo Vivo’ gere encantamento em quem está conhecendo o Frevo pela primeira vez e gere também orgulho e sentimento de pertencimento nos pernambucanos”, diz Marina Piquet.
Gerente de conteúdo do Paço do Frevo, Mery Lemos frisa que o público vai encontrar uma exposição leve e fluida, idealizada com muita carinho e respeito pelo Frevo que pulsa nas ruas, nas periferias e nos palcos e que ocupa não só o Recife e Olinda, mas diversos lugares de Pernambuco e do mundo. “Por ser o Frevo uma expressão viva e em transformação, pensamos a exposição como esse lugar que traz as atualizações necessárias e o que há de novidade, mas sempre respeitando quem veio antes, entendendo a luta de quem construiu o Frevo como uma manifestação vinda das mulheres, das classes trabalhadoras, das periferias e do povo negro.
PAÇO DO FREVO – O Paço do Frevo é reconhecido pelo IPHAN como centro de referência em ações, projetos, transmissão, salvaguarda e valorização de uma das principais tradições culturais do Brasil, o Frevo. Patrimônio imaterial pela UNESCO e pelo IPHAN, o Frevo é um convite à celebração da vida, por meio da ativação de memórias, personalidades e linguagens artísticas, que no Paço do Frevo encontram seu lugar máximo de expressão, na manutenção de ações de difusão, pesquisa e formação de profissionais nas áreas da dança e da música, dos adereços e das agremiações do Frevo.
O Paço do Frevo é uma iniciativa da Fundação Roberto Marinho, com realização da Prefeitura do Recife, por meio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife e da Secretaria Municipal de Cultura, e gestão do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). Por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem o patrocínio master do Instituto Cultural Vale, o papel de mantenedor do Grupo Ultra, patrocínio da Rede e da White Martins. Conta com o apoio do Grupo Globo, Pernambucanas e Chevrolet Serviços Financeiros, e o apoio cultural do Itaú Cultural e do Porto de Suape.
SERVIÇO
Inauguração “Frevo Vivo”
Terça, 20 de dezembro
18h: visitação da “Frevo Vivo”
Palco com atrações gratuitas:
19h: performance “Virada no mói de coentro”
19h30: performance “É de fazer tremer: corpos negros no encontro dos tempo”
20h: Maestro Duda
Acesso gratuito
Paço do Frevo – Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Bairro do Recife, Recife
Horários: Terça a sexta, 10h às 17h | Sábado e domingo, 11h às 18h
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia) – entrada gratuita às terças-feiras
*Confira aqui a política de gratuidade e meia-entrada