Projeto gratuito, acontece no dia 15, com artistas e coletivos negros como Marconi Bispo  e o espetáculo re_Luzir, Ara Agotimé, Brunna Martins, Maestro Parrô Mello, musicista Neris Rodrigues e Casarão das Artes.

A itinerância histórico-performativa Ọ̀NÀ DÚDÚ acontece na próxima quinta (15), buscando compartilhar as histórias e presenças dos negros e negras na construção do Bairro do Recife. Apesar de ter sido o 5ª centro mundial de tráfico negreiro (3º do Brasil), pouca gente sabe que o Recife tem na presença africana um dos elementos basilares de sua formação citadina. Ọ̀NÀ DÚDÚ será experienciado das 15h às 18h, sendo totalmente gratuito – com inscrição prévia por email – e levará 50 pessoas a quatro estações-territórios negros do Recife Antigo: Cruz do Patrão, a Rua da Guia, a Comunidade do Pilar, culminando a vivência com o espetáculo re_Luzir, no Centro Cultural Cais do Sertão. Na sexta (16), haverá uma roda de conversas para aprofundar os conhecimentos vistos no dia anterior.

Projeto do ator, dramaturgo, produtor e sacerdote de Candomblé Marconi Bispo, Ọ̀NÀ DÚDÚ terá a participação de Ara Agotimé, Brunna Martins, Maestro Parrô Mello, a musicista Neris Rodrigues e o Casarão das Artes. “Os processos histórico-sociais que foram tessitura para a página escravocrata em Pernambuco carecem de maior publicização e discussão. É importante reconstituir narrativas e o Ọnà Dúdú quer escavar no Bairro do Recife essa presença negra que atravessa cinco séculos. Este circuito é uma fricção de histórias, subjetividades, corpos em incessante diáspora, re-existências e impermanências. Neste caminhar artístico-performático perguntamos: quem começou esse Recife Antigo?”, explica Marconi Bispo

As performances questionam que cidade negra é essa que, a despeito de tanta presença – até o fim do tráfico [1856] registrou em torno de um milhão de africanos e africanas – ainda se faz ignorada e invisibilizada?  Que caminhos estas pessoas abriram nesta cidade aquática? Onde estes caminhos desaguaram? Nós aqui estamos reunidos por eles e elas. Toda uma cidade foi erguida a partir desta presença.

“Atuaremos como este rio africano chamado Ọnà, reabrindo sulcos nessa terra racista onde pisamosAinda: somos artistas negros e negras, cada qual aqui movendo suas expressões artísticas a partir desta singularidade e ancestralidade. Nossa ação é escavatória, uma tentativa de fazer lembrar que as ruas [Ọ̀nà] deste Bairro são negras, ontem e hoje”, comenta Marconi.

O projeto tem apoio da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco e Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco|Fundarpe, além de parcerias com o Centro Cultural do Cais do Sertão e Ka Ferreira Assessoria de Comunicação.

A itinerância

o   Primeira Estação: Cruz do Patrão. O que assombra aquele lugar a não ser esses dados e o triste quinto lugar mundial no tráfico de africanas e africanos? Nossa itinerância começa pela Cruz do Patrão tentando um outro gesto, distante do discurso folclorizado de lugar mal assombrado. A realidade é/foi histórica e a fantasia só nos servirá, aqui, para lembrar: chegamos da África por ali. Vivos, quase-vivos e mortos.

o   Segunda Estação: Comunidade do Pilar. Uma Pequena África? Que artistas negros lá residem? O que significa – no meio da comunidade! – uma Igreja Católica do século XVII ensimesmada em seu projeto colonial e circundada, por tudo e portanto, de tanta pobreza? Ao redor do Porto, do Cais, quantas existências negras reclamam uma história quando a própria História se nega a registrá-las?

o   Terceira Estação: Rua da Guia. Prostitutas têm memória? Marujos, no seu ir e vir, são capazes de registro? Lugares de prazer, de beber, são válidos documentos – ignorados pelos monumentos? Quais memórias são possíveis de se escavar das ruas?

o   Quarta Estação: Espetáculo re_Luzir, do ator Marconi Bispo, no Centro Cultural Cais do Sertão. De outubro de 2016 a março de 2020, Marconi Bispo protagonizou o espetáculo autobiográfico Luzir é Negro!. Foram 39 sessões e, na última, saiu de cena para o isolamento que a Covid-19 nos obrigou. A pandemia marcou o fim do espetáculo e de sua trajetória no grupo Teatro de Fronteira. Em seu novo projeto, a montagem re_Luzir, Marconi inaugura o início de projetos autônomos, fincados na elaboração de uma cena onde suas encruzilhadas afrográficas sejam percurso e performance. E se [nos] indaga: O que um ator negro tem a dizer/fazer/projetar nestes cruzos de tantos desafios, de tantas indefinições, de tantos medos? Quais as implicações destes percursos em sua existência – no tocante à sua subjetividade negra, sobretudo! –  e que agora, pelo viés do teatro, torna-se documento para todes nós, “sobreviventes” destes tempos sombrios — mas que nos lançam tanta luz?

Participa do espetáculo re_Luzir o músico Miguel Mendes, que também assina a trilha sonora original da peça.

Entendendo as palavras na Língua Yorùbá

Ọ̀NÀ: 1. rua, caminho, estrada, acesso, indicação.

                        2. método, maneira, forma de se fazer algo.

ỌNÀ: 1. arte, obra de arte.

                        2. nome de um rio africano.

DÚDÚ: Ser preto. Negro.

Entendendo os dados históricos:

o   Recife: quinto maior centro mundial de tráfico escravista. O terceiro do Brasil. [1°- Rio de Janeiro; 2°- Liverpool; 3° – Bahia; 4° – Londres e 5° – Recife].

o   Primeiro navio negreiro em Pernambuco: 1560, a pedido de Duarte Coelho.

o   853.000 pessoas trazidas escravizadas para Pernambuco [período que durou o tráfico: 1560 a 1856].

o   Recife foi campeã no tráfico de crianças africanas. Um caso: num navio capturado haviam 1.683 cativos, 1.033 eram crianças. [Muleke, do quimbundo, dependente.]

SERVIÇO:

Projeto Ọ̀NÀ DÚDÚ Caminhos Negros do Bairro do Recife

Itinerância histórico-performativa: quinta (15), das 15h às 18h

Roda de conversa: Sexta (16), das 14h às 17h, no Centro Cultural Cais do Sertão.

Gratuito

Inscrições: enviar e-mail para [email protected]