Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os eventos adversos – incidentes indesejados que resultam em algum dano ao paciente – estão entre as dez principais causas de morte no mundo. Em países desenvolvidos, estima-se que um em cada dez pacientes sofra algum dano ao receber cuidados hospitalares.
As questões relacionadas à segurança do paciente receberam grande atenção do público e das comunidades científicas após o relatório “Errar é humano”, da American National Institute of Medicine (NIH), em 1999. Segundo o estudo, a cada ano, 98 mil pessoas morrem em hospitais dos EUA como resultado de erros médicos evitáveis. Atualizações recentes sobre esta análise registram resultados mais alarmantes, com estimativas pelo menos duas vezes maiores.
No Brasil, segundo um levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar da Universidade Federal de Minas Gerais (IESS-UFMG), todo ano, das 19,4 milhões de pessoas tratadas em hospitais no país, 1,3 milhão sofre pelo menos um efeito colateral causado por negligência ou imprudência durante o tratamento médico.
Como forma de reverter esses números, um dos objetivos da simulação médica é a redução da possibilidade de eventos adversos durante procedimentos de saúde. Para isso, os treinamentos buscam reconstruir um ambiente real hospitalar para que os estudantes e profissionais de saúde consigam colocar em prática o seu aprendizado e continuem ampliando seu conhecimento.
“Na área da saúde, um profissional competente precisa integrar de maneira eficiente o conhecimento, as habilidades e as atitudes. A simulação oferece a oportunidade de um ambiente o mais autêntico possível para seu aprendizado, treinamento e aprimoramento, melhorando assim a segurança do paciente”, explica Brena Melo, tocoginecologista e coordenadora do Centro de Simulação (CSim).
A coordenadora também reitera que “a grande vantagem da simulação é a possibilidade de reproduzir uma réplica de um espaço real de prática. Assim, o indivíduo consegue treinar em um ambiente seguro de aprendizagem, sem risco para o paciente”.
Os treinamentos de simulação médica são divididos em briefing, momento de conversa anterior ao cenário; cenário, que é a simulação de um atendimento real; e, por fim, o debriefing, que é a aprendizagem reflexiva no momento pós prática. No CSim, há o suporte de equipamentos audiovisuais de última geração, que gravam a simulação para o grupo analisar e discutir, para auxiliar no debriefing.
Além da parte técnica, dentro do treinamento também são trabalhadas questões éticas, de empatia, comunicação, relações interpessoais – que muitas vezes podem ser conflituosas e impactar o paciente. Há também o aspecto psicológico, pois, por ser um ambiente seguro, ajuda na redução da ansiedade e do nervosismo para executar os procedimentos médicos.
A simulação médica é uma técnica e estratégia de treinamento que busca melhorar a segurança, eficácia e eficiência dos serviços de saúde. “Um bom paralelo para entender o que é a simulação médica é utilizar o exemplo do piloto. Ninguém consegue entrar em um avião sem um piloto ter passado por horas de treinamento, seja em situações rotineiras como também para situações de crise. Não há porque ser diferente na saúde”, explica Brena.
A coordenadora do CSim também afirma que o treinamento individual é importante, mas há também a parte em grupo, que merece tanta atenção quanto. “Nos aspectos de comunicação e de atitude, as práticas em grupo conseguem melhorar e desenvolver a capacidade do profissional de saúde de chegar no melhor resultado para o paciente, estando seguro para tomar a frente da situação e se comunicando de forma efetiva com os colegas de trabalho”, completa Brena.
O comprometimento e atuação dos aprendizes durante a prática conseguem deixar o ambiente mais real e ajudar na eficiência do treinamento. “A mistura de realidade e ficção nos dão a possibilidade de desbravar diversas situações e contribuir na formação de profissionais de saúde que vão prestar assistência a toda população”, conclui a coordenadora.