OMS alerta aumento de 77% no número de casos de câncer em todo o mundo até 2050. O que é possível fazer para estar fora dessa estatística?
Janeiro verde, março azul marinho, agosto branco, outubro rosa. Você já deve ter ouvido e visto sobre várias dessas campanhas relacionadas ao câncer que, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), terá um aumento de 77% no número de casos até 2050. O objetivo das ações é o mesmo, conscientizar sobre os diferentes tipos da doença e assim ajudar a prevenir ou promover o diagnóstico precoce. Mas o que os cânceres têm em comum, além de muitas vezes exigir um tratamento longo e com desafios para o paciente?
Há bastante tempo, sabe-se que hábitos saudáveis estão entre os pilares que contribuem para diminuir as chances de adoecimento. Atividade física, controle do sobrepeso/obesidade, evitar o consumo de alimentos ultraprocessados e embutidos, como bolos industrializados para lanche e salsichas, não fumar e reduzir ou eliminar o consumo de bebidas alcoólicas são práticas que auxiliam na prevenção ao câncer, de acordo com o oncologista clínico José Fernando Moura, do Real Hospital Português. Ocomplexo hospitalar integra a Rede Einstein de Oncologia e Hematologia, potencializando sua referência nesses atendimentos.
Para Moura, a prática de hábitos saudáveis pode ser trabalhada desde a infância, quando a criança deve ser estimulada a consumir frutas, verduras e fibras, evitar refrigerantes e doces em excesso, além de fazer atividade física. Na fase adulta, a adoção de hábitos positivos tende a ser mais desafiadora, dependendo não só de vontade e motivação, mas de foco e disciplina. Nesse caso, pode ser necessária a ajuda de profissionais, como nutricionista, educador físico e psicólogo.
“Às vezes pode ser trabalhoso combater o sobrepeso e a obesidade, mas a alimentação tem um peso fundamental para evitar o surgimento de tumores malignos, principalmente no trato intestinal. Uma dieta rica em fibras e vegetais ajuda o sistema imunológico a ficar mais vigilante contra o surgimento de tumores”, alerta o médico. “É mais fácil consumir comida pronta, ultraprocessada (rica em carboidratos, gorduras saturadas, açúcar e sódio). Preparar comida saudável dá mais trabalho, porém a maneira certa de se alimentar é como nossos avós faziam.”
Segunda causa de morte no mundo – a primeira são as doenças cardiovasculares -, Moura chama atenção para outros fatores que podem implicar na maior incidência de câncer. O sedentarismo, que aponta como consequência da vida moderna, é um deles. Advento que levou o homem a andar mais de carro, o substituiu pela máquina em alguns trabalhos pesados e o faz passar mais tempo sentado em frente ao computador ou de outros dispositivos eletrônicos. “O sedentarismo é causa não só do câncer, mas também de várias doenças crônicas, como o diabetes. É necessário se movimentar o mínimo que seja. Se não tem tempo ou não gosta de fazer alguma atividade física, desça do ônibus duas, três paradas antes de chegar ao trabalho ou suba as escadas do prédio para chegar ao seu apartamento”, completa Moura. Ele atua no Centro Integrado de Oncologia do Real Hospital Português, que reúne especialidades médicas, equipe multidisciplinar, tecnologia e infraestrutura para o melhor atendimento ao paciente oncológico, sem precisar sair do Recife.
Mais um fator de risco para o surgimento do tumor maligno, o tabagismo tem relação com mais de dez tipos de câncer. Entre eles, o de pulmão, o mais associado a essa prática, o de faringe, laringe, pâncreas, fígado, boca, rim e ureter. Já o consumo de bebida alcoólica pode provocar o aparecimento do câncer por diferentes mecanismos que podem, por exemplo, alterar o metabolismo hormonal ou facilitar a penetração de agentes carcinogênicos ambientais nas células, como a poluição atmosférica. “Há tumor de pulmão em pessoas que nunca fumaram. Exemplo disso ocorre com mais frequência na Ásia e na Inglaterra”, comenta o oncologista clínico.
Os hábitos de vida são classificados como fatores de risco modificáveis para o câncer. Os não modificáveis são questões como herança genética, idade e etnia. “Em qualquer fase da vida podemos admitir que é preciso mudar hábitos e procurar um profissional capacitado para solicitar um check-up, acionar mecanismos de prevenção e fazer exames de detecção precoce da doença”, aconselha José Fernando Moura. Ele também chama atenção para a importância das vacinas na imunização de doenças. “É possível tomar a vacina contra o HPV, principal agente causador do câncer de colo de útero, e contra hepatite B, que pode levar ao desenvolvimento do câncer de fígado ou da cirrose”.