Países com estilos de vida aparentemente diferentes são unidos por um fenômeno impressionante: a disparada das taxas de miopia. Nos Estados Unidos, cerca de 40% dos adultos são míopes, contra 25% em 1971. Mas esta situação parece menos significativa em comparação com a de adolescentes e jovens adultos da Coreia do Sul, Taiwan e da China continental, onde as taxas de incidência de miopia variam entre 84 e 97%.

O aumento da doença em crianças e adolescentes vem sendo apontado pela Organização Mundial da Saúde como um desafio e foi tema de um levantamento divulgado no ano passado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Na ocasião, cerca de 70% dos oftalmologistas consultados pela entidade afirmaram ter identificado progressão da doença em crianças durante a pandemia.

De acordo com o médico oftalmologista José de Barros, do Instituto de Olhos Clovis Paiva (IOCP), o fenômeno preocupa porque tem aparecido cada vez mais cedo e porque, conforme o olho cresce durante a infância, o grau também aumenta. “Essa progressão favorece altos graus de miopia na vida adulta e eleva o risco de doenças oculares mais sérias, como glaucoma e descolamento de retina. O nosso olho continua em formação na infância, ele não nasce pronto, e nesse desenvolvimento ele sofre influência do ambiente e das atividades que fazemos”, explica o médico.

Para ele, a redução das brincadeiras ao ar livre e as horas em frente a videogames, tablets e celulares, que exigem apenas a visão de perto, estão literalmente mudando a forma como os mais novos veem o mundo.

“Quando as crianças ficam menos horas expostas à luz do ambiente externo, as estruturas fotorreceptoras não são estimuladas e o olho cresce mais, favorecendo a miopia”, comenta.

ORIENTAÇÕES

Para minimizar as chances da doença, o médico José de Barros ressalta que as crianças precisam ter, no mínimo, cerca de 1 hora e 40 minutos de atividades ao ar livre por dia.

O médico também destaca a necessidade de seguir as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria em relação ao tempo máximo de tela por idade e respeitar a distância de 33 a 38 centímetros entre os equipamentos eletrônicos e o rosto.

Já em relação ao diagnóstico e ao uso dos óculos, ela ressalta que é importante integrar as crianças no processo de escolha e encorajá-las a utilizar o recurso. E lembra que há novos colírios e lentes que ajudam a reduzir a velocidade de progressão da doença e são indicados em alguns casos.