Nesta terça, dia 10 de outubro, a partir das 19h, a Amparo 60 recebe a exposição Sobre Alegria e Esquecimento, do artista Marcelo Silveira. Com curadoria de Walter Arcela, a exposição apresenta a série homônima na qual o artista trabalha novamente com colagens recriando mundos e possibilidades. Também no dia 10, Silveira abre site specific na CASACOR Pernambuco, ocupando o espaço destinado a intervenções artísticas na mostra. Lá o artista propõe uma aproximação com Hotel Solidão, série de colagens, apresentada em exposição na Galeria Janete Costa, em 2022.

A memória, as ruínas, o que foi deixado para trás sempre foi material para as criações de Marcelo Silveira. Não é diferente em Sobre Alegria e Esquecimento. Aqui, novamente, o artista se dedica a olhar para o que foi esquecido, reposicionando, repensando e lhe dando nova vida. As obras que compõem a exposição da Amparo 60 estão relacionadas às suas reflexões sobre álbuns de fotografias e caixas de retratos. 

“Tudo começa da minha observação sobre o que leva uma pessoa a fazer uma caixa de retrato ou um álbum de fotografias. Eles têm proximidades, mas guardam particularidades. Os álbuns de fotografias têm outro propósito de existir, diferente das caixas, eles seguem regras, a cada década uma forma de organizar e dispor as fotos. Caixas de retratos guardam aquilo que foi encontrado, recolhido, todo mundo tem uma caixa, na qual não há muitas regras, é um lugar de mais intimidade. O álbum já se relaciona com o outro”, explica o artista, que produziu duas séries anteriores dialogando com esse universo Caixa de Retratos (2008-09) e Paisagens (2008-09).

A matéria-prima, desta vez, vem da coleção de cerca de 5.000 fotografias de formandos das décadas de 1920 a 1940, coletados ao longo de 10 anos por Marcelo Silveira em álbuns encontrados em mercados de pulgas, leilões e antiquários. São essas fotografias em preto e branco e sépia que, inicialmente, são deslocadas e limpas e, depois, recortadas e coladas sobre um papel. Na frente, uma nova composição se forma, cheia de figuras sisudas; no verso, exposto em algumas das obras, o artista pinta com nanquim, criando novas composições. “Nessa série de colagens, seleciono, limpo, recorto e colo no papel imagens tiradas destes álbuns (todas sem rostos, assim como faço com as imagens utilizadas em Hotel Solidão) criando uma trama com os vazios. Assim estamos falando de esquecimento, mas também da alegria de renascer. É uma tentativa de lembrar o que tentam esquecer consciente ou inconscientemente”, pontua Marcelo Silveira, destacando que o nome da série deriva da obra do escritor Milan Kundera, Livro da alegria e do esquecimento. 

Nessas imagens desgastadas pelo tempo, cheias de oxidações, mesmo sem rostos, é possível identificar características marcantes entre os grupos: cortes de cabelos, indumentárias e vestimentas… Tudo isso sobreposto, explorando também os elementos vazados, algo fundamental no processo fotográfico. “O artista intervém nesses arquivos fotográficos criando recortes nas imagens que situam figuras humanas incompletas, ou, mais especificamente, destituídas da singularidade principal dos sujeitos humanos: o rosto. Assim, desrosteificados, o caráter de anonimato e apagamento que paira sobre essas figuras acionam um vazio de maneira lacaniana, relacionando-as à incompletude inerente ao ser humano, e, as relembra por meio do apagamento”, escreve o curador Walter Arcela.

CASACOR PERNAMBUCO

Entre os dias 10 e 22 de outubro, Marcelo Silveira vai apresentar um site specific que é uma porta de entrada para a série de colagens Hotel Solidão no espaço de intervenções da CASACOR Pernambuco. Assim como os álbuns e caixas de retratos esquecidos, Marcelo trabalha com uma matéria-prima desprezada, esquecida. Há alguns anos chegou às suas mãos uma coleção da revistaGrand Hotel – A mágica revista do amor, com exemplares que iam de 1947 a 1955. A publicação, voltada para o público feminino, trazia fotonovelas montadas a partir de ilustrações feitas em nanquim, numa Itália pós-guerra. A partir desses desenhos prontos, a edição brasileira compunha narrativas de amor e paixão com a adição de textos em português, criando uma espécie de pastiche. 

O olhar de Marcelo viu o excesso, os  gestos, as mãos, a ausência de biótipos brasileiros… Com essas imagens, novamente retirando os rostos, ele fez a série de colagens Hotel Solidão (2020/2021) que nos sugere outras leituras, outras narrativas possíveis para essas imagens antes esquecidas. É um pouco deste universo que o público que visitar a CASACOR nos próximos quinze dias vai encontrar. Em ambos os trabalhos, Sobre alegria e esquecimento e Hotel Solidão, Marcelo aponta que é possível (e lindo) olhar para o futuro e viver o presente sem esquecer o passado.

Sobre Alegria e o Esquecimento

Curadoria:  Walter Arcela

Abertura, 10 de outubro, às 19h

Visitação: De 11 de outubro a 11 de novembro.

Segunda a sexta, das 10h às 19h Sábados das 10h às 15h, com agendamento prévio.

Entrada gratuita

Galeria Amparo 60 – No 3o andar da Donna Santa (Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, 187 – Boa Viagem, Recife – PE, 51020-170)

Site Specific – Hotel Solidão

De 10 de outubro a 22 de outubro

CASACOR Pernambuco

Onde: Edf. Chanteclair – Av. Marquês de Olinda, 286 / Recife Antigo

Horário: de terça a sábado, das 14h às 22h (bilheteria até 21h). Domingos e feriados, das 12h às 20h. Ingressos:  R$ 80,00 (inteira) e R$ 40,00 (meia para estudante, professor, PCD e pessoas com 60 anos ou mais mediante documento). Crianças até 12 anos não pagam. Obrigatória a apresentação de documento comprobatório.