Novas leis foram publicadas no Diário Oficial do Município na última semana. Também instituiu-se 12 de novembro como o Dia Municipal do Maracatu de Baque Solto
Três tradições culturais celebradas por pernambucanos e brasileiros, hoje e ao longo da história, foram reconhecidas como Patrimônio Imaterial Artístico e Cultural do Recife. O prefeito do Recife, João Campos, sancionou as leis que foram publicadas no Diário Oficial do Município na última semana. O Maracatu de Baque Solto (Maracatu Rural), o Maracatu de Baque Virado (Maracatu Nação) e a Ciranda agora contam com, além da estima de quem brinca e de quem admira essas artes, reconhecimento oficial da capital pernambucana. Além disso, agora o Dia Municipal do Maracatu de Baque Solto passa a ser comemorado, anualmente, em 12 de novembro.
“A força e a diversidade das nossas manifestações culturais, tão presentes no cotidiano da cidade, nos trazem mais do que memória, trajetória, elas traduzem a ancestralidade. Iniciativas de reconhecimento, entre as quais a patrimonialização é uma das mais significativas, ampliam visibilidade e incentivam os movimentos de salvaguarda”, comentou o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello. “Assim a cultura popular se fortalece, mas ela também se renova, na ocupação de mais espaços, no engajamento de novas gerações, na valorização de mestres e mestras, neste encontro crescente com uma infindável fonte de inspiração. Também por isso intangível, imaterial. O Recife se torna ainda mais universal nesta marca única e plural, de uma verdadeira matriz da cultura popular”, acrescentou.
Distinções às tradições afro-brasileiras já têm acontecido ao longo dos últimos anos. Em 2014, o Maracatu Nação e o Maracatu Rural receberam o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O título foi concedido em votação unânime do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Já a Ciranda do Nordeste foi registrada como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2021, após reunião do mesmo Conselho, coordenada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo.
Outras expressões culturais, que também fazem parte da identidade pernambucana, receberam reconhecimentos que contribuem com a propagação de seus elementos pelo mundo. O Frevo, em 2012, foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como patrimônio cultural da humanidade. E, desde 2007, já era considerado Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, pelo Iphan. A Capoeira é Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 2014. E os Caboclinhos são Patrimônio do Brasil desde 2016.
MARACATU RURAL – O Maracatu de Baque Solto é uma rica expressão da cultura afro-indígena no Carnaval de Pernambuco e também em outras épocas do ano. Também pode ser chamado de Maracatu de Trombone, de Orquestra ou Rural. Esta manifestação cultural evidencia a fusão de diversos folguedos populares originários das áreas canavieiras do interior do Estado, tais como reisado, pastoril, cavalo-marinho, bumba-meu-boi, caboclinhos, entre outros. No início do século XX, a crise na indústria açucareira levou trabalhadores rurais em direção à capital. Ao se integrarem à vida urbana, adaptaram-se à nova realidade social, utilizando suas próprias referências. A prática do Maracatu de Orquestra foi uma dessas adaptações. A migração para o Recife teve impacto na estrutura da brincadeira, em suas representações, concepções estéticas, na realidade sociocultural dos participantes, assim como nas práticas religiosas que fundamentam o brinquedo. Trata-se de um veículo importante para preservar e celebrar as influências culturais afro-indígenas, mantendo viva a memória e as práticas dos antepassados. Saiba mais: http://www.recife.pe.gov.br/
MARACATU NAÇÃO – Os grupos de Maracatu Nação, também conhecidos como Maracatu de Baque Virado, têm sua origem nas cerimônias de coroação dos Reis do Congo. Estes grupos, configurados como verdadeiras nações, apresentam-se ao público como cortes ricamente adornadas, com tecidos de seda, veludo, bordados e pedrarias. À frente do cortejo encontra-se o Porta-Estandarte, seguido pela Dama-do-Paço, responsável por conduzir a calunga, o ícone consagrado detentor do axé do maracatu. Assim como nas outras agremiações, cada maracatu tem uma batida ou baque próprio. O instrumental do brinquedo, composto de tarol, caixa de guerra, mineiro, agbê, gonguê e alfaias (tambores confeccionados com madeira), também varia em número e tipo, e é comandado pelo Mestre de Apito. Mais informações sobre essa expressão que celebra as contribuições culturais e históricas dos africanos e afrodescendentes para a formação da sociedade brasileira em: http://www.recife.pe.gov.br/
CIRANDA – A Ciranda tem origem portuguesa e era uma dança de roda infantil. No Brasil, é dançada por pessoas de todas as idades, e é encontrada no litoral e na Zona da Mata Norte. Suas cantigas são influenciadas por diversas culturas. Tradicionalmente realizada em locais populares, como praias, era frequentada por trabalhadores rurais, pescadores e operários. É uma dança simples e comunitária, sem restrições de idade, cenário ou vestimenta. O mestre, contramestre e músicos ficam no centro da roda; e o instrumental típico inclui ganzá, bombo e caixa, podendo ter outros instrumentos como triângulo, pandeiro e metais. O mestre cirandeiro, com um apito, inicia os versos, frequentemente improvisados. Para mais detalhes sobre essa arte que transmite valores tais quais solidariedade, cooperação e pertencimento comunitário: http://www.recife.pe.gov.br/
O Recife já conta com uma extensa lista de patrimônios imateriais. A Orquestra Sinfônica do Recife, a mais antiga em atividade ininterrupta do Brasil, e o Balé Popular do Recife, um dos primeiros grupos de dança profissional de Pernambuco, já têm o reconhecimento desde 2018. O movimento Brega também é patrimônio municipal desde 2021. Festas religiosas e tradicionais da cidade, a de Nossa Senhora da Conceição e a da Vitória Régia, são consideradas patrimônio desde o ano passado.
As leis Nº 19.186, Nº 19.187, Nº 19.188 e Nº 19.189 foram sancionadas pelo prefeito do Recife, João Campos, na segunda-feira (18). Elas são de autoria do vereador Almir Fernando e foram aprovadas pela Câmara Municipal do Recife em setembro e agosto do ano passado.