Foto: Thaís Taverna
Apresentação será no próximo dia 20 de dezembro, oferecendo um passeio pela memória e trajetória do poeta e músico nascido em Arcoverde, que sempre fez do Recife casa e palco cativo. Ingressos estão à venda no Sympla
Celebrando em voz, acorde, verso e performance todas as histórias, memórias e inspirações que deu conta de colecionar e experimentar até aqui, o poeta e músico José Paes de Lira, artista de muitos predicados, várias linguagens e todos os tempos da produção musical e poética nordestina e brasileira, apresenta, no próximo dia 20 de dezembro, às 20h, o show “José Paes de Lira canta Lirinha”, no simbólico palco do restaurado e renascido Teatro do Parque. Os ingressos estão à venda no Sympla e custam a partir de R$ 40 (social).
Comemorativo, retrospectivo e ainda inédito no Recife, capital afetiva e efetiva da geografia dos primeiros sonhos de mundo de Lirinha, onde ele começou a ampliar as margens da correnteza desde sempre farta de suas referências e repertórios artísticos, o show celebra os 35 anos de carreira do artista. E marca uma espécie de retorno ao seu ponto de partida. Foi aqui, entre rios, pontes, efervescências culturais e sempre calorosas plateias, que o poeta estreou nos palcos, aos 12 anos, como declamador, no IV Congresso de Cantadores do Recife.
Acompanhado pelos vibrantes multi-instrumentistas Dizin (guitarra), Erik Chapa (bateria) e Rogê Victor (baixo), Lira irá refazer toda a trajetória poética e musical que percorreu, da poesia oral e ancestral do semiárido nordestino em diante, apresentando versos e canções, entre conteúdos alheios e seus, herdados e legados por ele. Celebrará ainda as experimentações sonoras e tecnológicas a que tem se dedicado, como artista inquieto e inventivo, que não abre mão da adrenalina nem do desconforto de se confirmar vanguarda, em sua incansável e ininterrupta busca pela originalidade e ousadia de se posicionar sempre na fronteiriça zona entre a música, a poesia e as artes cênicas, a memória e a investigação de futuros, entre o Lirinha da estreia e o Lira de amanhã.
“O nome Lirinha evoca, para mim, o declamador de poesias, que começou ainda criança, no Sertão de Pernambuco, o seu movimento artístico. Depois estudou teatro e acabou encontrando no Cordel do Fogo Encantado a possibilidade de combinar essas experiências da récita e das cênicas. José Paes de Lira é meu nome completo, que batizou também meu bisavô e meu pai. Com esse nome, eu assino meus trabalhos de escrita literária e também é o nome que acompanha meus trabalhos solo de música, minhas atuais performances. Esse show reúne esses dois universos. Serei José Paes de Lira, em sua completude, interpretando, entre outras coisas, essa memória bonita e importante, do Lirinha que fui e ainda sou”, diz o artista.
Nesse show comemorativo, o repertório, de aproximadamente 1 hora e 20 minutos de apresentação, incorpora canções fundamentais da carreira de Lirinha, recriações do seu trabalho autoral na mítica banda Cordel do Fogo Encantado, além de músicas e poemas dos seus três álbuns solos e composições que foram interpretadas por outras bandas e solistas contemporâneos. O resultado artístico é um show popular, pulsante, dançante e celebrativo da visionária criatividade musical desse importante artista brasileiro.
“Esse espetáculo passa por todas as fases da minha carreira até aqui. Começo como minha história começou: com poesia declamada. Daí em diante, costuro o espetáculo todo com músicas e poesias. Passo por composições dos meus três álbuns solo, algumas do Cordel do Fogo Encantado e também músicas que nunca gravei, nem lancei, além daquelas gravadas por outros artistas, como ‘Jabitacá’, inesquecivelmente defendida por Gal Costa”, conta Lira, que admite, mesmo depois de 35 anos, ainda tentar entender onde começa a música e termina a poesia nos seus processos criativos e artísticos.
“Acredito que todo artista tem uma escola, um lugar de onde ele parte e começa a se entender. O meu é a poesia. Foi através dos exercícios de declamação, que desenvolvi minha capacidade musical. A poesia que faço é muito rítmica. Não se separa da música, de uma certa musicalidade. Hoje consigo dizer que misturei as duas coisas. A verdade é que, na tradição cultural ancestral, elas nunca se separaram”, diz Lirinha, que se autoproclama um memorialista. “Declamadores são instrumentos de profundos segredos da formação de uma sociedade, na sua história, nos seus desejos, nas suas ilusões e desilusões. Também somos depoimento, denúncia, testemunho. Uma das minhas músicas diz: ‘ouvir do velho como faz o novo’. Essa é a dinâmica em que atuo no mundo, na arte, na música e na poesia. Carrego a missão do registro e da travessia entre o que já foi dito e a relação com o hoje e com as imagens do agora.”
Apesar de ter começado a circular há pouco esse espetáculo, Lira faz questão de avisar que já estava ansioso pela oportunidade de trazê-lo ao Recife. “A relação com o público do Recife é diferente: íntima e afetiva. É uma plateia que me acompanha desde o começo, conhece todas as mudanças do meu trabalho. E potencializa essa dinâmica de transformações, originalidade e de desejo por movimentos novos”, diz.
O palco, segundo ele, não poderia ser outro. “O Teatro do Parque atravessa minha carreira inteira, tendo sido cenário para muita coisa importante que vivi como artista e também na plateia, como público. Foi lá que lançamos o primeiro disco do Cordel, em três noites de apresentações. Na plateia, também vivi coisas muito importantes para a minha formação artística, vi shows ali que foram fundamentais na minha busca por uma expressão musical”, lembra.
Sobre o Cordel, Lirinha faz questão de avisar ao saudoso e fiel público recifense que a banda não acabou. “Tenho muito amor pelo Cordel do Fogo Encantado. E muita gratidão também por todas as trilhas abertas pelo grupo na minha trajetória pessoal. O Cordel é de uma originalidade emocionante, que eu acho impossível ser substituída na música brasileira por outro projeto artístico. Demos uma pausa, sim. Mas não acabou. Estamos criando e tentando compreender com cuidado a narrativa do próximo espetáculo, que marcará nosso retorno aos palcos. E isso não deve demorar muito para acontecer.”
Sobre Lirinha – José Paes de Lira, Lirinha, é um inventivo artista brasileiro que atua na zona de fronteira entre a música, as artes cênicas e a literatura. Começou sua carreira artística ainda criança, como declamador de poesias na sua cidade natal, Arcoverde, sertão de Pernambuco e, hoje, representa uma geração de criadores que rompe paradigmas na produção musical e investigação sonora. Refletindo, na sua original obra, uma intensa experiência sensorial e emocional, na mixagem entre a poesia e a música.
Em 1997, idealizou e construiu o espetáculo cênico musical “Cordel Do Fogo Encantado”, novidade impactante e original vivenciada pela música pernambucana. O espetáculo acabou dando origem ao grupo de mesmo nome, que tem quatro discos gravados: “Cordel do Fogo Encantado” (2000), “O Palhaço do Circo sem Futuro” (2002), “Transfiguração” (2006) e “Viagem ao Coração do Sol” (2018) além do DVD “MTV Apresenta: Cordel do Fogo Encantado” (2005).
Lançou, em setembro de 2011, seu primeiro disco solo, “LIRA”, produzido por Pupillo (Nação Zumbi), que também assina a produção do segundo álbum, “O Labirinto e o Desmantelo”, de 2015.
Como compositor, assinou canções interpretadas por artistas como: Gal Costa (“Jabitacá”), Céu (“Sangria”), Pitty (“Lágrimas Pretas”), Elba Ramalho (“Nossa Senhora da Paz”), Natiruts (“Não Chores meu Amor”), Otto (“O que dirá o mundo” e “Meu Mundo”) e Fábio Trummer – Eddie (“Ela Vai Dançar”, “Só Faltou Você Dizer Adeus” e outras).
Lirinha viu ainda suas canções serem trilhas de diversas obras audiovisuais, como nos filmes “Deus é Brasileiro” (Cacá Diegues), “Os anjos caídos”, e “Lisbela e o Prisioneiro” (Guel Arraes).
Também autor literário, assina três livros: Coletânea virtual “Geração 00”, organizada por Heloísa Buarque (2005), “O Garoto Cósmico”, da FTD (2007) e “Mercadorias e Futuro”, do Ateliê Editorial (2008).
Enquanto diretor artístico, atuou em projetos como: “Alfarrábio Sonoro – Sesc Vila Mariana: Um encontro entre as obras Morangos Mofados (Caio Fernando Abreu) e Grande Sertão: Veredas (João Guimarães Rosa)”, em 2018, e “João Cabral 100 anos, por Lirinha e Letícia Sabatella”, no Festival de Natal da Cidade de São Paulo, em 2020.
Esses predicados todos já lhe renderam várias premiações. Em 2006, foi reconhecido, pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), como melhor compositor nacional. Recebeu ainda os prêmios TIM, Qualidade Brasil e Hangar, em 2003; BR Rival de Melhor Grupo, Hangar e Caras, em 2002; e APCA Revelação, em 2001.