Em seu novo e aguardado romance, vencedor do prêmio Herralde, autora argentina une realidade e terror sobrenatural de maneira brilhante
A música de Bowie, o fetiche por pálpebras, cartas do tarô, sociedades secretas. Esses e muitos outros ingredientes criam a atmosfera perturbadora que compõe a escrita de Mariana Enriquez em seu novo e aguardado romance, vencedor do 37º prêmio Herralde, um dos mais importantes de língua espanhola. Em Nossa parte de noite, que chega às lojas brasileiras em julho, pela Intrínseca, Mariana exercita com maestria um dos seus maiores talentos: dar contornos sobrenaturais às tragédias palpáveis, extraídas da realidade de um país que viveu sob uma sangrenta ditadura e que hoje busca acertar as contas com o passado. Em maio, os assinantes do intrínsecos, o clube de livros da Intrínseca, receberam antecipadamente uma edição exclusiva do livro.
O romance começa com pai e filho viajando de carro até Corrientes, depois Missiones, regiões fronteiriças da Argentina com o Paraguai e o Brasil, e mergulha num universo em que mansões abandonadas se misturam com crenças presentes no imaginário da autora. São os anos da repressão, com soldados armados no controle, e o ambiente é de tensão. Com o corpo debilitado, marcado por cirurgias e por uma vida intensa, o pai tenta proteger Gaspar, seu filho, do destino que lhe é designado, fazendo o máximo para que o menino não tenha contato com o restante da família nem herde sua mediunidade. A mãe dele morreu em circunstâncias obscuras, em um suposto acidente.
Como o pai, Gaspar provavelmente receberá o chamado para ser médium em uma sociedade secreta, a Ordem, que se relaciona com a Escuridão em busca da vida eterna por meio de rituais atrozes envolvendo sacrifícios humanos. Para tais rituais, é imprescindível a presença de um médium, mas o destino desses detentores de poderes especiais é cruel, já que o desgaste, físico e mental, é rápido e implacável. As origens da Ordem, comandada pela família da mãe de Gaspar, remontam a séculos, quando o conhecimento da Escuridão foi levado da África para a Inglaterra e dali se estendeu à Argentina.
Reconhecida como uma das principais representantes da nova literatura argentina, Mariana já conquistou projeção mundial. Ela foi selecionada para a final do International Booker Prize de 2021 com um volume de contos (Los peligros de fumar en la cama). Em julho de 2021, a produtora RT Features, de Rodrigo Teixeira, anunciou que vai produzir um filme inspirado no conto As coisas que perdemos no fogo, que dá título ao livro lançado no Brasil pela Intrínseca em 2017. Chamada de “princesa do terror” na Argentina, a autora — que busca inspiração nas tramas psicológicas de Stephen King — tem um público fiel no país. Em 2019, foi destaque da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty.
MARIANA ENRIQUEZ (Buenos Aires, 1973) é jornalista e subeditora do suplemento Radar, do jornal Página/12, além de professora. Escreveu novelas, relatos de viagens e biografias. Pela Intrínseca, publicou a coletânea de contos As coisas que perdemos no fogo e o romance Este é o mar. Nossa parte de noite ganhou, na Espanha, o Premio Herralde de Novela e o Premio de la Crítica 2019. (Foto: Nora Levano)
NOSSA PARTE DE NOITE, de Mariana Enriquez
Tradução: Elisa Menezes
Editora: Intrínseca
Páginas: 544
Impresso: R$ 79,90
E-book: R$ 54,90