A partir da análise da trajetória de oito tiranos, historiador explica como regimes totalitários se consolidam às custas da adoração da figura do ditador
 

O temido Joseph Stalin, que comandou com mãos de ferro a antiga União Soviética entre 1927 e 1953, se declarava ateu antes mesmo de se tornar um revolucionário bolchevique. Já Papa Doc Duvalier, presidente do Haiti de 1957 a 1971, era um fervoroso praticante do vodu, religião dominante em seu país. Enquanto Mussolini e Kim II Sung costumavam erguer esculturas de si mesmos, num esforço simbólico de se perpetuarem no poder, na Alemanha nazista não havia estátuas de Adolf Hitler. Diferentemente da maioria dos ditadores, o Führer insistia que monumentos deveriam ser construídos apenas para louvar os líderes do passado.
 
Apesar de diferenças pontuais nos estilos, há muitos pontos de conexão entre os tiranos – um deles é o uso sistemático da violência e da repressão contra quem ousar ir contra o regime. Em Como ser um ditador, o historiador Frank Dikötter revisita a trajetória de oito ditadores do século passado e a máquina de propaganda que fomentou o culto em torno de suas personalidades – de Hitler e Stalin a Mao Tsé-Tung e Nicolae Ceaușescu, presidente romeno executado por líderes revolucionários no Natal de 1989. A estratégia foi muito usada para espalhar a ilusão de aprovação popular irrestrita e com isso prescindir de um processo eleitoral legítimo. Dessa forma, centenas de milhões de pessoas foram condenadas a um entusiasmo compulsório, obrigadas a reverenciar os respectivos líderes mesmo enquanto eram conduzidas à servidão.
 
Com desfiles cuidadosamente coreografados e uso deliberado de censura para manter a mortalha de mistério ao seu redor, esses homens trabalharam incansavelmente a própria imagem e encorajaram a população a glorificá-la, perpetuando uma forma de controle que, de certo modo, foram aprendendo uns com os outros e com a história. Em um momento de retrocessos tão flagrantes da democracia em todo o mundo, estaríamos presenciando o renascimento dessas mesmas técnicas entre alguns dos líderes mundiais de hoje? Vladimir Putin, Viktor Orbán e Xi Jinping estariam bebendo da mesma fonte?

“Uma espécie de anatomia do autoritarismo, em grande e pequena escala, de Mao a ‘Papa Doc’ Duvalier. A vida de cada ditador é exposta com uma compreensão hábil e mordaz. A originalidade de Dikötter é narrar crimes contra a civilização em paralelo a crimes contra a humanidade.” 
— The New Yoker

Foto: Divulgação

FRANK DIKÖTTER é professor catedrático de humanidades na Universidade de Hong Kong e membro sênior do Hoover Institution. É autor de People’s Trilogy, uma série de livros que documenta o impacto do comunismo na vida dos cidadãos chineses. O primeiro volume, A grande fome de Mao, ganhou o Samuel Johnson Prize for Non-Fiction (atual Baillie Gifford Prize for Non-Fiction) em 2011, o mais prestigioso prêmio literário de não ficção da Grã-Bretanha. O segundo volume, The Tragedy of Liberation, concorreu ao Orwell Prize de 2014, e o terceiro, The Cultural Revolution, ao PEN Hessell-Tiltman Prize de 2017. Suas obras são consideradas seminais para a compreensão da história da China. Dikötter é casado e mora em Hong Kong.

Como ser um ditador: o culto à personalidade no século XXde Frank Dikötter

Editora Intrínseca
Tradução: Paula Diniz
Páginas: 368
Livro impresso: R$ 69,90
E-book: R$ 46,90