Brasileira radicada na Espanha, Jeca Mó mostra novas cores de seu projeto solo com o intenso clipe “Deus”. O vídeo integra seu álbum visual “Saturno”, um mergulho imagético tão plural quanto o versátil disco que o originou. Cantando a força e o poder femininos, a artista celebra a arte, a poesia e a natureza como manifestações do sagrado. Em breve, o filme completo “Saturno” será revelado.

Assista a “Deus”: https://youtu.be/H6bKVURB96A

A inspiração para “Deus” vem de um texto bíblico, no evangelho de São Tomé, que define: “‘O reino de Deus está dentro de ti e à tua volta; não em palácios de pedra ou madeiras. Rache uma lasca de madeira e Eu estarei lá; Levante uma pedra e Me encontrarás…’, disse Jesus”. A ideia de encontrar o sagrado fora dos seus lugares mais convencionais já aparecia na letra da música, em que Jeca Mó canta “Agradeço a costela / Mas eu não preciso dela / Devolvi sem nem usar / Ave maria! Quem me dera / Ser menos criatura”, pede.

“A prece que me eleva é a poesia e minhas outras formas de expressão artísticas e expressões de afeto. Afeto pela Natureza, que engloba as infinitas formas de vida. E nos falta espaço para amar. Nos tiram tanta coisa, nos tolhem as nossas singularidades. Existe uma pressão pela padronização humana. Um sufocamento muitas vezes inconsciente que gera guerra. Estamos no cume da produção de vazio existencial. Quem ganha com isso? Cruelmente, esse sistema nos responsabiliza por nossos fracassos (o que é fracasso?) e aponta Deus como o patrão superior e inalcançável: ‘Foi Deus que quis’”, reflete a artista. 

A roteirista e diretora Jéssica Dias partiu da noção intrínseca a todos os humanos: a necessidade de amparo e compreensão. Trazendo essa ideia para o contexto social cada vez mais complexo que vivemos hoje, a reflexão do vídeo se estende à busca por equidade, direitos, liberdade e respeito. 

“O grito que afirma, também pede socorro. O desamparo que nos constitui é central para caminharmos em direção a uma resposta coletiva, organizada, ciente. Talvez seja ele quem nos tire daqui, mas apenas se formos nós, coletivamente. ‘Deus’ é sobre a dualidade, sobre o público e o privado, sobre o íntimo e também sobre a sociedade, sobre a crença e também sobre a descrença, ‘Deus’ é grito, é resistência, é esperança”, resume Jéssica. 

Prestes a completar 33 anos, Jeca Mó comemora um momento prolífico, com livro no forno e disco recém-lançado. Se assumindo uma poeta que canta e interpreta suas inquietudes, ela constrói sobre uma carreira iniciada há 10 anos. Logo assumiu vocais na banda Mestre Madruguinha, potência sonora de sua Aracaju natal. Depois de 5 anos nessa trajetória, Jeca buscou outras viagens e explorações criativas que a levariam até “Saturno”. O trabalho é uma coleção de reflexões sobre tabus: religião, manipulação, prazer, sexualidade, corrupção, mediunidade e o acesso às nossas sombras.

Agora, Jeca Mó começa a revelar o filme de “Saturno” com “Deus”, faixa de abertura que conta com uma introdução de quase dois minutos onde remete à criação: de um ser, de uma guerra ou até da gestação do apocalipse. É uma música larga para os dias de hoje, onde tudo cheira a pressa. Mas, somada à parceria da diretora e roteirista do clipe, Jéssica Dias, traz Deus à terra. As imagens denunciam e chamam para uma retomada de poder, assim como a letra da música estampa. “Deus” reúne duas artistas emotivas mostrando as garras para o que parece indestrutível. O clipe já está disponível no canal oficial de YouTube de Jeca Mó.

Ficha técnica

Jeca Mó – Voz, Letra e Melodia

Dudu Prudente – produção musical, gravações e mixagem

Danyel Nanume – Bateria

Edvan Aragão – Violão 7 cordas

Filipe Williams – Baixo

Ian Ravih – Guitarra 

Sébastien Willemys (Bélgica) – Violino, Philicorda, Synth

Léo Airplane – Masterização

Direção Geral: Jéssica Dias 

Roteiro: Jéssica Dias

Direção de Arte: Jéssica Dias

Direção de Fotografia: Jéssica Dias

Assistência de Arte: Felipe Félix

Figurino: Jéssica Dias  

Assistência de Figurino: Felipe Félix

Maquiagem: Dany Queiroz 

Direção de Produção: Eluar Melo

Assistência de Produção: Sara Almeida

Gaffer: Eluar Melo 

Operação de Câmera: Clara Leite e Jéssica Dias

Fotografia Still: Clara Leite 

Montagem e Edição: Nathan de Souza 

Atores e Performers: 

Daniel Moura 

Felipe Félix 

Willams Santos

Isa Barreto

Gladson Galego

Karen Urpia

Liliana Duarte

Mariana Galvão

Maísa Nascimento

Mídia Ninja

Mary Barreto

Raquel Rocha

Saulo Matos

Tarcila Arciery

Letra

Alimento com palavras repetidas 

Poesia é minha prece

Tomara que um dia me apareça Deus 

E estremeça sua razão na minha carne

Piedade à minha caneta

Com a cabeça sempre falha

Mas coração aguenta 

Todo dia

Todo dia tenta

Um pulso encarando outra navalha

A tinta me espalha 

por toda a parte

Escrevo torto 

e certo o grito sai:

Que derme não repele,

E Deus não é pai!

*Deus sou Eu*

*Deusa Ele*

*Deus é Ela (x2)*

Agradeço a costela

Mas eu não preciso dela

Devolvi sem nem usar

Ave maria! Quem me dera

Ser menos criatura

Lacunas, complexa, saudade

pra quê essa mania de

 acumular?

pra quê essa mania de

 colecionar?

A tinta me espalha 

por toda a parte

Escrevo torto 

e certo o grito sai:

Que derme não repele,

E Deus não é pai!

*Deus sou Eu*

*Deusa Ele*

*Deus é Ela (x2)*

(Poema)

Máquinas caras de fazer análise

Corpos eatranhos em constante autólise,

Se esfacelam em potes herméticos

Esperando modernos remédios

De colar os restos

E fugir da morte

Medo de morrer?!

Medo de amar, e de sofrer

De tudo medo

De dormir comigo e ver

Que sente abrigo

Debaixo do meu sonho

E do meu teto esquisito

Alarido chega aos ossos

Queima de bandeiras 

E ajoelha.

Pede perdão.

Põe peso na articulação

Vira muda de janela 

E segue enfeite da obrigação

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