No Recife, todo novo ano começa com fartura cênica. É assim desde 1995, quando estreou na cidade aquela que viria a se consolidar como uma de suas mais acertadas e celebradas tradições culturais: o Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco. Entre os dias 9 de janeiro e 2 de fevereiro de 2025, a maratona se confirma. A programação, realizada pela Apacepe (Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco), abrirá as cortinas da cidade para sua 31ª edição, espalhando mais de 90 espetáculos e de 100 sessões pela cidade, entre produções recifenses, nacionais e uma vinda de Portugal, montagens emblemáticas para a cena local e estreias, além de leituras dramatizadas, oficinas e lançamento de livro.
Dedicadas aos mais variados perfis de público, com diferentes idades e preferências artísticas e estéticas, as programações ocuparão os teatros de Santa Isabel, Parque, Apolo, Hermilo Borba Filho, Capiba, Marco Camarotti, Barreto Júnior, Arraial Ariano Suassuna, Boa Vista, Fernando Santa Cruz e, pela primeira vez, a Sinagoga Kahal Zur Israel. Os ingressos, à venda na Sympla, custarão entre R$ 10 e R$ 120 – alguns projetos terão ingresso solidário, trocado por um quilo de alimento.
Tendo como construção conceitual a liberdade de expressão na cena pernambucana, a diversidade cultural, a arte como instrumento revolucionário e transgressor, este JGE não só homenageia como elege tema desta edição o Vivencial, icônico grupo de teatro pernambucano, que está celebrando 50 anos. Surgido em 1974, em Olinda, esta Janeiro de número 31 organizou a luxuosa Mostra Vivencial, pensada para reverenciar a trupe considerada um marco da contracultura e irreverência dos anos 1970 e 1980, pela coragem de apresentar nos palcos corpos, vozes e temas historicamente silenciados, negados e interditados para falar, com uma corajosa, ruidosa e colorida coragem, sobre assuntos como homossexualidade, drogas, política e cultura de massas.
Entre os sete espetáculos que irão compor a Mostra, estão montagens locais, uma nacional e uma internacional, todas feitas da mesma subversão que era matéria-prima inequívoca das produções cênicas do Vivencial. Cinco das obras são pernambucanas. De Santa Cruz do Capibaribe, “Querida Gina”. Do Recife, “Mainha é uma Resenha”, “Santo Genet e as Flores da Argélia”, além das estreias “Sha da Meia-Noite” e “Vivencial, Revivenciando”, este último com direção de Guilherme Coelho, integrante original do Vivencial. Completam o roteiro as peças “Kassandra”, de Porto Alegre, e “Damas da Noite e uma Farsa de Elmano Sancho”, de Lisboa.
Ainda em homenagem ao Vivencial e seu legado vivido e vivíssimo na cidade, será lançado, na abertura do Janeiro, o livro “Pernalonga, uma Sinfonia Inacabada”, escrito pelo jornalista Márcio Bastos, que conta a história de um dos atores do Vivencial, fazendo da efervescência do grupo e de sua urgência criativa casa e ofício.
Outra grande novidade desta 31ª edição será a Mostra Janeiro de Cenas Curtas, que ocupará o Teatro Barreto Júnior, nos dias 18 e 19 de janeiro, para assegurar palco e visibilidade para atores e autores estreantes da cidade. Serão apresentadas 15 cenas, cada uma com oito a doze minutos de duração e as mais diversas temáticas e estilos, da tragédia à comédia. Para os públicos e profissionais do teatro que quiserem sentar na plateia do futuro das artes cênicas recifenses, os ingressos custarão R$ 20 mais 1 kg de alimento não perecível. Para garantir mais que audiência aos iniciantes, o Janeiro premiará os três melhores trabalhos apresentados na Mostra.
Teatro, música, circo e dança num festival só
Dos 93 espetáculos da programação deste Janeiro, 42 são de teatro adulto, 9 de teatro infantil, 20 de música, 19 de dança e 3 de circo. A estreia, dia 9 de janeiro, será musical. O solene palco do Teatro de Santa Isabel receberá a Orquestra Lunar e a Música Negra de Áurea Martins e Elízio de Búzios, do Rio de Janeiro, com a participação especialíssima da embaixadora da cultura pernambucana, Lia de Itamaracá, uma das vozes que falam mais alto sobre nossas mais autênticas tradições.
Entre as atrações musicais da temporada, nomes como PC Silva, Almério, Martins, Estesia, Geraldo Maia, Igor de Carvalho, Tibério Azul, Afoxé Oxum Pandá numa celebração aos 30 anos de carreira; Irah Caldeira cantando somente composições femininas; Silvério Pessoa e Publius em homenagem a Lô Borges e Beto Guedes.
Com programação majoritariamente pernambucana, o festival destaca a estreia de “Senhora dos Nossos Sonhos”, dias 15 e 16 de janeiro, no Teatro Capiba. O espetáculo documental, com dramaturgia e atuação de Ceronha Pontes, fala sobre Nise da Silveira, médica que humanizou o tratamento de doentes mentais no Brasil. Na grade, também obras do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre, Maceió e Caaporã (Paraíba). Entre elas, um clássico: com monólogos extraídos de “Hamlet”, “Medida por Medida” e “Macbeth”, de Shakespeare, o ator Thiago Lacerda apresentará “Quem Está Aí?”, no Teatro do Parque, com sessões nos dias 30 e 31. O Janeiro orgulhosamente estreará também na cidade os espetáculos “O Alienista – Casa de Loucos”, de Maceió; “Céu em Si”, de Belo Horizonte; “Esquecidos por Deus”, de Caaporã; e “A Mulher que Queria ser Micheliny Verunschk”, de Porto Alegre.
Teatro infantojuvenil traz clássicos como “O Pequeno Príncipe”, “A Bela e a Fera”, “Os Saltimbancos”, “Aladdin” e “Enrolados”, e também “O Livro da Alegria”, “Pra Não Dormir”, “Lua, Estrela e Baião”, “O Dia em que a Morte Sambou”.
Na categoria circo, “Dunga In Concert”, “Circo Science – Do Mangue ao Picadeiro” e “Em Busca de um Emprego”. Em dança, entre outros, chegam os projetos “Cabras de Lampião – 30 Anos de Xaxado”, o musical “Capiba – Pelas Ruas Eu Vou”, o Festival Florescer de Danças Árabes e o Festival Pole Dance de Pernambuco
Oficinas e leituras dramatizadas
Além de grandes espetáculos, esta 31ª edição oferecerá quatro oficinas para formação e qualificação da mão de obra cênica recifense, três delas gratuitas: “Teatro em Ação”, com o grupo Cobogó das Artes; “Dança Palavra-Movimento: Recontando Histórias”, com o grupo Rosa-Rizoma Pontes de Criação; “O Batuque do Corpo”, ministrada pela Companhia Uno de Dança; e “Dramaturgias Feministas: Panorama Brasileiro, Agendas e Modos de Fazer”, pela Decanter – Articulações Culturais. As inscrições abrem, em breve, no site do JGE.
As leituras dramatizadas encontrarão os públicos do Janeiro em seis performances: “Auto da Compadecida”, no Teatro Marco Camarotti; “Condenadas à Vida”, “Mão na Luva” e “Frei Caneca – Um País chamado Pernambuco”, no Teatro Capiba; “Ensaio para Velhos Pretos”, no Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel; e “Josephina”, produção conjunta entre São Paulo e Rio de Janeiro, no mesmo Santa Isabel.
Homenageados
A grande tradição de reconhecer e enaltecer importantes nomes da cultura ficará maior ainda nesta 31ª edição, quando serão rendidas homenagens a dez importantes personalidades que há muito contribuem para a história e a cultura pernambucanas.
Na lista do Janeiro 2025 estão a atriz e produtora Paula de Renor, representante de todas as classes artísticas, que sempre enalteceu, valorizou e lutou pelos direitos das artes cênicas de Pernambuco; Marcia Souto e André Campos, representando a política cultural; Bernard Peixoto, do Sistema Fecomércio Sesc/Senac Pernambuco; e a a vereadora, poeta, autora e militante cultural Cida Pedrosa. Simbolizando as linguagens culturais em que o Recife é mais fluente e eloquente, serão homenageados Guilherme Coelho, fundador do Vivencial (teatro); Mister Brynner (circo); o maestro da Banda Sinfônica do Recife, Nenéu Liberalquino (música); o bailarino e professor Alexandre Macedo (dança), e Maria do Céu, enquanto representante dos artistas e da causa LGBTQIAPN+.
Prêmio Copergás
Em reconhecimento aos fazedores de cultura da cidade, o festival vai assegurar, afora passarela, pódio para os artistas cênicos, com a realização do Prêmio Copergás. Dia 1º de fevereiro, no Teatro de Santa Isabel, serão distribuídos 25 troféus, sendo cinco destaques em cinco categorias: Teatro Adulto, Teatro Infantil, Dança, Circo e Música.
Conselho Consultivo
Formado por artistas, estudiosos e personalidades da cultura pernambucana, o Conselho Consultivo do Janeiro de Grandes Espetáculos, instituído em 2019, contou este ano com as participações, esforços, crivos e sensibilidades para a elaboração cuidadosa e democrática do JGE de Simone Figueiredo, Álcio Soares e Genivaldo Fernandes. A Comissão de Seleção de Espetáculos é formada por Ana Nogueira, Jorge Féo, Silvério Pessoa, Valéria Barros e Paulo de Castro, produtor-geral do festival que é coordenado por Paulo de Pontes.
Apresentado pela Prefeitura do Recife e pelo Governo do Estado, o 31º Janeiro de Grandes Espetáculos é uma realização da Apacepe (Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco). Conta com parceria do Sesc, patrocínio de Suape e Fundarpe, tem produção geral de Paulo de Castro e apoio da Nuvon, Roda, Virtual, TV Jornal, TV e Rádio Universitária. A Copergás patrocina o Prêmio JGE Copergás de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco.
SERVIÇO
31º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco
De 9 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025
Programação e informações no site www.festivaljge.com.br
Ingressos: www.sympla.com.br/festivaljge