Marcando o retorno das produções da Garrido Galeria no Recife, será lançada na próxima terça-feira (29 de agosto), a partir das 17h, a exposição coletiva Diálogo fugidio. Com curadoria assinada pelos recifenses Ariana Nuala, Guilherme Moraes e Steve Coimbra, a mostra propõe um exercício de aproximações e evidenciações de intertextualidades entre trabalhos de aoruaura e Véio (artistas do casting da Garrido), Abiniel João Nascimento e Thaes Arruda (artistas convidados), além de Brígida Baltar, John Baldessari e Grupo Urucum, cujas obras pertencem ao acervo de videoarte da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).

Acontecendo enquanto momento de comunhão de uma coletividade formada por curadores, artistas, trabalhos de arte, suportes e instituições dispostos no espaço-tempo, uma situação curatorial é também um estado de diálogo orientado ao público. O experimento aqui realizado parte de um estado de conversa dilatado ao longo de dez meses entre os curadores, a fim atribuir contornos de residência ao grupo de pesquisadores, que puderam confeccionar uma trama composta por tecidos de desejos e saberes distintos, por vezes contraditórios e a todo instante complementares dentro de suas também distintas densidades e texturas.

Diálogo fugidio é tanto produto de um diálogo voltado para o que é inapreensível, lacunar, incomunicável entre quem se propõe a um estado de encontro e desencontro, quanto ao desejo incessante, inerente ao gesto artístico e curatorial, de que se estabeleça um estado de comunicação, quanto continuação deste. É, em suma, o reconhecimento de que pode ser forjado um tipo específico de pertencimento dentro do que é indizível e não pode ser reificado.

A exposição contará com uma roda de conversa, além de uma oficina de tapeçaria ministrada pela artista Thaes Arruda, com datas a serem definidas.

SOBRE OS ARTISTAS
Abinel João Nascimento
Carpina (PE) | 1996

Vive e trabalha no Recife (PE). Artista transdisciplinar, pesquisador, bacharel em museologia (UFPE, 2022), com formação em Fotografia Expandida (EAV Parque Lage). Criou a Ka’a Îuru – Escola da Memória, e é membro do Coletivo de Arte Negra e Indígena – CARNI.  É coautor do livro E se? Arquivos, fotografias e fabulações (Editora Livrinho de Papel Finíssimo, 2023, Org.: Marina Feldhues), e organiza o Ciclo de Estudos Críticos: indigeneidade, mestiçagem e a maquinaria da ausência. Seu trabalho inclui textos, imagem em movimento, performances, fotografias, oficinas públicas e curadoria. Além de participar de residências artísticas nacionais e internacionais, o artista possui obras em algumas coleções particulares e em coleções públicas dentre elas no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife/PE); Museu de Arte Contemporânea de Goiás (Goiás/GO); na Galerie Paradise (Nantes/FR) e na MauMau Galeria (Recife/PE).

aoruaura

Recife (PE) | 1997
Vive e trabalha no Recife (PE). A conexão de si com o mundo tendo o corpo como instância mediadora é o cerne do trabalho proposto por Aura do Nascimento. Em sua pesquisa, a artista provoca e registra transmutações por meio da terapia hormonal, dos filtros de distorção de imagem, do vestível ou do site specific. Através dessa interface em constante metamorfose, propõe fotografias, vídeos, performances, instalações e esculturas. Em muitas de suas propostas, como em Limpando a vista (2019), torce e renegocia a ideia de promiscuidade a partir do contato não somente físico, mas energético, com alteridades animais, vegetais e elementares. Há um ímpeto constante de outrem em sua poética, identificado no desejo e na tentativa de encarnação do que lhe é altero, bem como a frustração de não chegar a sê-lo em transcendência. Nesse fluxo é que a artista faz nascer novos contornos (estes presentes em matizes porosas e voláteis) de seu corpo.

Brígida Baltar

Rio de Janeiro (RJ) | 1959-2022
Viveu e trabalhou no Rio de Janeiro (RJ). Artista brasileira que transitou entre diversas mídias como vídeo, performance, instalação, desenho e escultura. Começando nos anos 1990, ela criou gestos poéticos em seu estúdio no bairro de Botafogo, no Rio. Coletando materiais distintos, ela passou de ações internas para processos ao ar livre, exemplificados pela série Coletas que capturava orvalho e neblina do mar. Ela entrelaçou o tangível e intangível por meio da arte, gerando desenhos a partir da poeira de tijolos e mesclando temas humanos e animais. Suas esculturas em cerâmica fundiram conchas marinhas com formas humanas, enquanto trabalhos posteriores abraçaram o bordado, explorando experiências pessoais e conceitos filosóficos. Exposições notáveis incluíram To make the world a shelter, na Nara Roesler (2023, Nova York), Filmes, no Espaço Cultural BNDES (2019, Rio de Janeiro) e A carne do mar, na Galeria Nara Roesler (2018, São Paulo). As obras de Baltar estão em coleções notáveis em todo o mundo.

Grupo Urucum
Macapá (AP) | 1997
Fundado com o nome de CONAR T (consciência artística) por Agostinho Josaphat, Nonato Reis e José Ribas, o Urucum (inicialmente nome do espaço) participa de uma excursão pelo norte da Itália com artistas de outros segmentos, e, ainda neste ano integram-se ao grupo Lethy Caldas e Djalma Santos. Em 1999, Ribas deixa o grupo que recebe mais dois integrantes: Aog Rocha e Rômulo Araújo. Em 2000, com a nova formação, o grupo participa de uma exposição em Caiena, na Guiana Francesa. Em 2002, falece Nonato Reis, e  Djalma Santos se desliga do grupo. No período que compreende junho de 2002 a dezembro de 2003, o grupo recebe outros integrantes: Arthur Leandro, Ronaldo Rony, Patrícia Andrade, entre outros (membros flutuantes), e realiza vários trabalhos entre exposições e intervenções urbanas, como Os catadores de orvalho; Desculpe o transtorno…, no estado do Rio de janeiro no Açúcar Invertido, sob a curadoria de Edson Barrus; e a exposição coletiva do grupo, Máquinas Pré-históricas. Em 2006, o grupo é o Artista Homenageado no VI Salão do Sesc Amapá. As intervenções do grupo são realizadas primordialmente nas ruas e em locais públicos da cidade. Trata-se de buscar espaços de atuação em que a experiência artística não seja mediada pelas dinâmicas institucionais, curadoria, técnicas expositivas, ação educativa, cuidados com a integridade dos trabalhos, etc, nem que esteja impregnada da carga simbólica conferida aos trabalhos pelos tradicionais espaços de exibição.

John Baldessari

Califórnia (EUA) | 1931-2020
Viveu e trabalhou na Califórnia (EUA). Através de uma carreira de sete décadas, John Baldessari foi um artista conceitual estadunidense cujo trabalho enveredou por diferentes linguagens, como pintura, fotografia, apropriação, vídeo, instalação, escultura e arte digital. Em diversos trabalhos, combinou o potencial narrativo das imagens que recorre ao rigor e ao humor, envolvendo-os a objetos ou imagens banais e tarefas ordinárias. Em Ensinando uma planta o alfabeto (1972), o artista age como se ensinasse o alfabeto inglês para um pequeno vegetal envasado. Mediante um exercício tão monótono quanto absurdo, Baldessari dialoga com a popularidade das disciplinas de linguística e semiótica que influenciaram diversos artistas conceituais dos anos 1970. O trabalho também é uma resposta direta para Como explicar imagens a uma lebre morta (1965), do alemão Joseph Beuys (1921-1986).

Thaes Arruda
Aracaju (SE) | 1995

Vive e trabalha no Recife (PE). A obra da artista propõe uma jornada sensível pelas formas e movimentos. É através das artes visuais que manifesta sua vida e conecta-se com o mundo. Nas artes têxteis, suas obras desdobram as cores e figuras primárias em criações únicas marcadas pela expressividade, mas é entre as linhas, nas pausas, que a sutileza se imprime.

Véio

Nossa Senhora da Glória (SE) | 1948
Vive e trabalha na Nossa Senhora da Glória (SE). As esculturas de Cícero Alves dos Santos (Véio) ocupam uma posição singular no meio de arte brasileiro, embora esta seja apenas sua segunda exposição individual. As obras que ele vem mostrando revelam dimensões que se diferenciam marcadamente do que denominamos “arte popular”. Suas esculturas combinam aspectos da tradição popular (a escultura em madeira, o aproveitamento das figuras sugeridas por troncos e galhos e o uso de ferramentas rudimentares) com cores intensas – muito mais próximas das cores industriais do que dos matizes delicados da natureza. Essa estridência algo pop é intensificada por uma imaginação formidável, que nos faz ver em suas madeiras figuras híbridas, que compartilham traços dos bichos que conhecemos com os androides e transformers de filmes e desenhos animados. Por outro lado, com um simples canivete, Cícero esculpe formas diminutas em tamanho, mas com uma figuração enigmática, que lhes restitui a força reduzida pela escala. Homens e mulheres sobem e descem montes sem razão aparente, entram e saem de portas que não conduzem a parte alguma, bichos cavalgam bichos, mulheres carregam pedaços de animais na cabeça. Há nesses pequenos entalhes um aspecto mais realista na realização das feições de pessoas e animais.

SOBRE OS CURADORES

Ariana Nuala

Recife (PE) | 1993

Atualmente é Gerente de Educação e Pesquisa na Oficina Francisco Brennand, onde também atuou como curadora. Além disso, foi coordenadora do setor educativo do Museu Murillo La Greca (2018 – 2020). É mestranda pelo PPGAV da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em História da Arte, e possui formação em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Complementou seus estudos no programa acadêmico de campus expandido Museos/Anti-Museos na UNAM (2019) e obteve um diploma superior em Estudos Latinoamericanos e Caribenhos pela CLACSO (2021). Atua também como articuladora no Coletivo de Arte Negra e Indígena – CARNI e no Nacional TROVOA. Além disso, coordena a plataforma independente Práticas Desviantes e o PULO – Plataforma de Estudos sobre Imagens da Diáspora. Através desses coletivos artísticos, ela busca ampliar as discussões sobre questões relacionadas ao poder e à permanência, explorando as tramas visíveis e invisíveis que sustentam as práticas coletivas e que constantemente atualizam as noções sobre diáspora.

Guilherme Moraes

Recife (PE) | 1998

É curador, educador e editor da Propágulo, espaço autônomo de pesquisa, difusão e criação em arte localizado no Recife (PE). É licenciado em artes visuais pela UFPE e pesquisador no Programa Associado de pós-graduação em Artes Visuais UFPB/UFPE, onde pesquisa a curadoria enquanto práxis educativa e o curatorial enquanto metodologia de aprendizado.

Steve Coimbra

Recife (PE) | 1991

Curador Curador de arte, DJ e produtor de eventos, com formação em Sistemas para Internet, Steve Coimbra é fundador da Devil’s Den (festa underground que mistura música eletrônica com variadas linguagens artísticas) e do Phantom 5 (grupo de curadoria independente), além de atuar como curador da Garrido Galeria. Em 2016, estudando sobre finanças descentralizadas, passou a se aprofundar no universo das criptomoedas, o que possibilitou o investimento em sua pesquisa artística para seguir caminhos curatoriais. Com os resultados obtidos, realizou viagens para exposições, bienais e coleções privadas e institucionais pelo Brasil, consolidando um repertório conceitual e prático, que permitiu a realização de exposições de artistas emergentes. Atualmente, segue investindo em seus projetos artísticos e desenvolvendo pesquisas na área de Tecnologia, que unem Inteligência Artificial e banco de dados para mapeamento de coleções e acompanhamento artístico, além de empreender estudos sobre o mercado de NFT.

SERVIÇO

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO COLETIVA DIÁLOGO FUGIDIO

Curadoria: Ariana Nuala, Guilherme Moraes e Steve Coimbra

Local: Garrido Galeria (Rua Samuel de Farias, 245, Casa Forte, Recife/PE)

Data da inauguração: 29 de agosto de 2023 (próxima terça-feira), a partir das 17h

Visitação: De 30 de agosto a 4 de outubro de 2023

Contato: [email protected] | (81) 99573-4867| (81) 99873-2450