Na próxima quarta-feira (20/7), a partir das 17h, a Garrido Marinho (Boa Viagem, Recife/PE) recebe a exposição Quem será o próximo a me decepcionar?, de Bruno Alheiros. Com texto crítico assinado por Heitor Dutra, a individual reúne 30 trabalhos que retratam a icônica personagem do clássico Alice no País das Maravilhas como um alter ego do artista recifense. Nas pinturas, a metáfora para uma jornada interior, em direção às vontades incontroláveis do subconsciente, amarra situações vivenciadas por Bruno, apontando reflexões sobre ansiedade e o enfrentamento de profundas decepções.

As obras que compõem Quem será o próximo a me decepcionar? surgiram após um período de depressão enfrentado pelo artista, no qual foi desencadeada uma espécie de bloqueio, principalmente criativo. Ao imergir no universo visual de Alice, Bruno consegue colocar para fora os sentimentos que o consumiam, numa metáfora para o potencial artístico como um poder de enfrentamento. Todos os seus medos e traumas foram transferidos para as pinturas. “A presença de Alice é uma forma que eu encontrei de me retratar. Todas as cenas são situações que aconteceram comigo, ou até mesmo sentimentos que marcaram quem eu sou”, explica Bruno Alheiros.

        O fanatismo pelo clássico infantil sempre existiu, mas, na fase adulta, com um repertório de interpretação amadurecido, Bruno passa a absorver o filme como uma profunda reflexão existencial: “Há uma teoria que elabora a ideia de Alice ter esquizofrenia, deslocando, ainda, todos os personagens do filme como uma materialização de transtornos psicológicos. As falas, inclusive, são muito simbólicas, existe uma grande profundidade em tudo o que está sendo debatido”. A experiência se torna, assim, motor criativo para os seus processos, uma vez que até as falas do filme são “emprestadas” para intitular as obras.

Foto: Divulgação

Quem será o próximo a me decepcionar? também elabora um estudo das cores para costurar conceitos. A escolha de retratar Alice sempre em tons azuis, por exemplo, tem a ver com a ideia de que as imagens do inconsciente tendem a essa cor. Além disso, grande parte dos trabalhos da última exposição de Bruno seguiram os tons azulados – mais uma forma de identificá-lo em Alice. O rosa, cor relacionada a um começo de vida, compõe o fundo de várias cenas, o que pode ser associado à expressão “mundo cor-de-rosa”, simbolizando a romantização e ingenuidade presentes na maneira de enxergar a vida. Com o desenvolver da narrativa, as pinturas foram se soltando. É possível perceber um escurecimento da paleta, gestos mais rápidos e soltos, além de uma carga maior de tinta. 

O olho branco de Alice representa um estado de transe, assinalando que todas as cenas fazem parte de um universo imaginativo. Por isso, as pinturas apresentam apenas uma figura principal, sem nada ao fundo. É um estado de mente, de lembrança. Medo e exaustão são palavras-chaves para leitura dessa série. Por mais que Alice – ou Bruno – esteja numa situação de diversão, fazendo uso de poppers ou outras drogas, existe a presença do medo do que pode acontecer. 

A ocasião de abertura da exposição também marca o aniversário de 30 anos do artista, o que justifica a quantidade de obras integrantes. “Agora, eu me sinto maduro o suficiente para expor esses trabalhos. O conceito está todo amarrado. Expô-los também é uma forma de enfrentamento dos meus medos. E essa exposição tinha que acontecer na Garrido Marinho. Além de João Marinho ser um amigo de longa data, uma obra minha integrou a coletiva de inauguração da galeria. Então, acho coerente ter essa retomada num espaço em que eu me sinto imensamente acolhido, que eu tenho uma identificação”, finaliza. Os horários de visitação são de segunda a sexta, das 10h às 19h, e, aos sábados, das 10h às 14h, mediante agendamento.

SOBRE O ARTISTA

Recife (PE) | 1992

Bruno Alherios cursou bacharelado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Aeso-Barros Melo (UniAeso), além de Drawing, Painting, Color & Design pela The Art Students League of New York (EUA). Participou de exposições coletivas na Arte Plural Galeria, onde também realizou a individual Contraponto (2018). Atualmente, é integrante do Ateliê Pangeia, localizado no Centro do Recife, e trabalha com pintura, desenho e escultura, tendo seu processo criativo pautado pela experimentação de técnicas. A colagem também se faz presente em seu percurso, a partir de um banco de imagens que são transfiguradas e reconfiguradas a fim de investigar situações de pintura através do gesto.

SERVIÇO

ABERTURA DA EXPOSIÇÃO QUEM SERÁ O PRÓXIMO A ME DECEPCIONAR?

Data: 20 de julho de 2022 (próxima quarta-feira)

Horário: A partir das 17h

Local: Garrido Marinho (Rua Professor José Brandão, n° 163, Boa Viagem, Recife/PE)

Visitação: Segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 10h às 14h (com agendamento)