A Galatea apresenta “Aislan Pankararu: mitocôndria ancestral”, primeira individual do artista na cidade de São Paulo. Com curadoria e texto da crítica de arte Lisette Lagnado, a mostra reúne um conjunto inédito de obras, entre pinturas e instalação, utilizando materiais até então pouco explorados por Aislan Pankararu.
No encontro de suas vivências em meio à sua comunidade, no interior de Pernambuco e, mais tarde, como estudante de Medicina em Brasília, o artista cria uma visualidade própria e única ao promover uma simbiose entre campos aparentemente distintos. A abertura acontece no dia 11 de novembro (sábado).
As formas orgânicas e o tema da cura caracterizam saberes ancestrais e científicos. O uso inicial do papel kraft — dando lugar ao linho cru de tonalidade semelhante — revela uma superfície cromática que traz a lembrança da terra árida e da pele. Fios, fluxos e círculos se manifestam como traços da pintura corporal de seu povo e da observação de células. As composições abstratas resultantes abrem um horizonte de sentidos responsável por uma complexidade maior a uma obra que recusa definições identitárias e reducionistas.
Histórias indígenas, mostra coletiva organizada pelo MASP em colaboração com o Kode Museum, inaugurada no dia 20 de outubro, também conta com a participação de Aislan, com a pintura Cheiro de terra (2023), trabalho que dialoga com sua primeira individual na galeria Galatea. A exposição apresenta visões variadas das narrativas nativas da América do Sul, América do Norte, Oceania e Escandinávia, por intermédio da expressão artística e da cultura visual. Ela é curada por pesquisadores e artistas indígenas, trazendo trabalhos de diferentes categorias, procedências e épocas, desde o tempo que precedeu a chegada dos colonizadores europeus até os dias atuais.
Sendo um dos artistas mais promissores da cena de artistas emergentes da arte contemporânea brasileira, Aislan ganhará também uma individual na galeria Salon 94 de Nova York, em abril de 2024.
Sobre Aislan Pankararu
Aislan Pankararu nasceu em Petrolândia, em Pernambuco, no Brasil, em 1990. Originário do povo Pankararu, passou a sua infância na aldeia mãe Brejo dos Padres, no interior de Pernambuco, onde sua avó lhe transmitia as tradições dos seus ancestrais. Mais tarde, dirige-se à cidade para estudar, formando-se pela Faculdade de Medicina na Universidade de Brasília. Tendo o costume de desenhar quando criança, Aislan retoma a prática como autodidata no ano de 2019 e decide se dedicar à carreira artística.
O trabalho de Aislan Pankararu nasce da memória de suas origens e da necessidade de entrar em contato e expressar a sua ancestralidade. Produzindo desenho e pintura inicialmente sobre papel kraft e, depois, sobre tela e linho, o artista se utiliza de elementos pictóricos tradicionais da pintura corporal de seu povo para elaborar os seus traços e figuras. Dotadas de movimento, as obras de Aislan Pankararu evocam a riqueza visual e simbólica dos Pankararu a fim de ressaltar a sua luta e resistência.
Em 2020, em parceria com a comissão de Humanização do Hospital Universitário de Brasília (HUB), onde estudou, realizou sua primeira exposição Abá Pukuá (“Abá” significa “homem” em tupi-guarani e “Pukuá” significa céu em kaypó). Em 2021, inaugurou a mostra Yeposanóng no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. No mesmo ano, ilustrou os textos do projeto Teatro e povos indígenas, da n-1 edições; participou da Residência Kaaysá, sob a coordenação de Rodrigo Villela, em São Sebastião, São Paulo; e criou a ilustração utilizada como identidade visual do festival de música Indígenas.BR. Produziu as ilustrações do 1º Festival de Filmes Indígenas do Brasil, que aconteceu no Institute of Contemporary Arts, em Londres.
Em 2023, participou da residência artística no People’s Palace Projects, em Londres, e lá realizou a individual Feel it ao fim da estadia. Entre as coletivas que participou recentemente, destacam-se: Histórias indígenas (MASP, São Paulo, 2023); Brasil Futuro: as Formas da Democracia (Museu Nacional da República, Brasília; Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, Belém; Centro Cultural Ferrão, Salvador, 2023); Refundação (Galeria Reocupa — Ocupação 9 de Julho, São Paulo, 2023); Um século de agora (Itaú Cultural, São Paulo, 2022). Seu trabalho está presente em acervos como o do Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais.
Sobre Lisette Lagnado
Lisette Lagnado (Kinshasa, 1961) é pesquisadora, crítica de arte e curadora independente. Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo, foi curadora da 27ª Bienal de São Paulo (2006) e integrou a equipe curatorial da 11ª Berlin Biennale for Contemporary Art (2019-2020). Em 1993, fundou o Projeto Leonilson para a catalogação de sua obra e coordenou o Programa Hélio Oiticica (Instituto Itaú Cultural, 1999–2002). Em 1996 integrou a equipe curatorial da mostra Antártica Artes com a Folha. Em 2014, foi nomeada diretora e curadora de Programas Públicos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, cargo que ocupou até 2017. Como repórter de arte, coeditou as revistas Arte em São Paulo (1981–89) e Trópico (2001–11), além de ter contribuído com ensaios para catálogos de exposições sobre Arthur Bispo do Rosario, Laura Lima, Marepe, e Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, entre outres.
Sobre a Galatea
A Galatea é uma galeria que surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergaminesteve à frente por quase uma década como sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita é marchand e colecionador, especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo é curador e contribuiu ativamente para a histórica renovação institucional do MASP, de onde saiu recentemente como curador-chefe.
Tendo a arte brasileira moderna e contemporânea como foco principal, a Galatea trabalha e comercializa tanto nomes já consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Tal amplitude temporal reflete e articula os pilares conceituais do programa da galeria: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.
Além dessas conexões propostas, a galeria também aposta na relação entre artistas, colecionadores, instituições e galeristas. De um lado, o cuidado no processo de pesquisa, o respeito ao tempo criativo e o incentivo do desenvolvimento profissional do artista com acompanhamento curatorial. Do outro, a escuta e a transparência constante nas relações comerciais. Ao estreitar laços, com um olhar sensível ao que é importante para cada um, Galatea enaltece as relações que se criam em torno da arte — porque acredita que fazer isso também é enaltecer a arte em si.
Nesse sentido, partindo da ideia de relação é que surge o nome da galeria, tomado emprestado do mito grego de Pigmaleão e Galatea. Este mito narra a história do artista Pigmaleão, que ao esculpir em marfim Galatea, uma figura feminina, apaixona-se por sua própria obra e passa a adorá-la. A deusa Afrodite, comovida por tal devoção, transforma a estátua em uma mulher de carne e osso para que criador e criatura possam, enfim, viver uma relação verdadeira.
Serviço:
Aislan Pankararu: mitocôndria ancestral
Local: Galatea
Endereço: Rua Oscar Freire, 379, loja 1 – Jardins, São Paulo – SP
Abertura: 11 de novembro | 11h às 17h
Exibição: De 13 de novembro a 16 de dezembro
Horários: Segunda à quinta das 10h às 19h | Sexta das 10h às 18h | Sábado das 11h às 15h
Mais informações: https://www.galatea.art/
Estacionamento: Estacionamento no local