Neste domingo (13), será realizado o tradicional Festival da Cultura Judaica, evento que integra o calendário cultural da cidade do Recife. Em sua 29ª edição, o Festival assume, este ano, uma nova perspectiva, saindo do modelo de uma grande festa na rua para ser transmitido ao vivo das 16 às 19h, pelo canal do youtube da Federação Israelita de Pernambuco (Fipe), a partir da Sinagoga Kahal Zur Israel, localizada na Rua do Bom Jesus. A mudança se faz necessária devido às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus. As vibrações culturais e artísticas judaicas, emanadas desse importante rincão histórico, viajarão pelas nuvens, possibilitando que sejam recebidas e compartilhadas por um grande universo de pessoas em todo o mundo. O link para acompanhar é o https://www.youtube.com/channel/UCD0tsOfYp3QsdAd4VJoivaw

Por considerar este um ano muito especial, já que é o ano do centenário do nascimento da nobre escritora, Clarice Lispector, uma referência da literatura nacional, que no início do século passado emigrou com sua família da longínqua Ucrânia para o Brasil, a organização do evento irá homenageá-la. Com o tema Clarice – de Recife para o mundo – o Festival Judaico irá reverenciar e celebrar o universo da renomada escritora. Da menina da Boa Vista à grande escritora universal. “Vivenciaremos a cultura judaica integrando o Recife às diversas comunidades judaicas brasileiras e aquelas espalhadas ao redor do mundo”, enfatiza Sônia Sette, presidente da Fipe. Nesta edição, de formainédita, o evento contará com interações ao vivo diretamente de Israel.

Foto: Divulgação

Na programação haverá apresentações musicais, dança, literatura e história judaica. Na cena musical contará com vários artistas. Santanna, o Cantador, homenageará o Recife. Betto do Bandolim, evocará músicas locais do período que aqui Clarice viveu. Fortuna Safdié, trará tanto a música íidiche, da Europa Oriental de onde veio a família de Clarice, como a música em ladino, típica do judaísmo ibérico. Diretamente de Tel-Aviv, Joca Perpignan mostrará uma mescla de músicas brasileiras e israelenses. E ao longo de todo o Festival, a Orquestra Messibah, formada por David Katz, Marcio Guendler e Paulo Ludmer, junto com Lucio Azevedo, embalará a todos os espectadores com a diversificada música judaica, em particular com músicas da festividade de Chanuká, que estará ocorrendo na ocasião do Festival.

No aspecto memória, o evento terá a participação da professora de literatura, Tereza Monteiro e Leonardo Dantas. Autora de “Eu sou uma pergunta”, uma biografia de Clarice Lispector e “O Rio de Clarice – passeio afetivo pela cidade”, Monteiro vai contar sobre a trajetória da personagem, desde as suas origens na Ucrânia, passando por sua infância e início da adolescência no Recife, e chegando ao Rio de Janeiro. Ela trará nuances da obra da grande escritora. O jornalista e historiador, Leonardo Dantas, ajudará a compreender o Recife em que Clarice viveu, particularmente as nuances da vida no bairro da Boa Vista. Ele transportará o público para aquela época, com a bagagem de conhecimento da história e das curiosidades que marcavam a capital pernambucana de outrora. Conduzirá a compreensão daquele período que certamente marcou a formação de Clarice Lispector.

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O judaísmo se expressa de várias formas. Uma das mais tradicionais é a dança. Essa expressão artística reflete a diversidade do povo judeu que ao longo da história transitou por diversas terras. Nesse percurso influenciou e foi influenciado por várias culturas. O Festival mostrará como a dança refletia a vida judaica na Europa Oriental, berço da família Lispector, no princípio do século passado. E elementos que unem a dança judaica com algumas de nossas mais caras tradições nordestinas. As apresentações são do grupo de danças folclóricas judaicas, Ietzirah (Criação). 

Os atores Germano Haiut e Roseane Tachlitsky, ambos recifenses e membros ativos da comunidadejudaica local, que seguem trajetórias muito próprias, costumam se unir quando a motivação é retratar vivências judaicas ou trabalhar com personagens que vêm desse universo. Sob a direção de Carlos Carvalho, vão brindar os telespectadores com dois contos e uma crônica de Clarice Lispector.

O Festival da Cultura Judaica é um evento da maior magnitude. Representa o encontro da comunidade judaica de Pernambuco com a sociedade em geral. Desde o ressurgimento da Kahal Zur Israel, a primeira sinagoga das Américas, o Festival deixou de ser um evento de salão para ocupar a rua, a antiga Rua dos Judeus, do período do domínio holandês. E não é que esta rua acaba de ser eleita uma das mais belas do mundo pela revista norte-americana Architectural Digest.

Sobre a homenageada – Emigrante da Ucrânia, a pequena Clarice Lispector aportou no Brasil chegando à cidade de Maceió. Lá viveu por um período até chegar à capital pernambucana, onde se estabeleceu no bairro da Boa Vista. Residiu em um prédio, com vista para a Praça Maciel Pinheiro, reduto de encontro da comunidade judaica, à qual sua família se incorporou. Ela viveu sua infância e início da adolescência no Recife. Foi aluna do Colégio Israelita, na Torre, educandário esse que se tornou centenário pouco antes dela. “Temos orgulho da nova comunidade que aqui se formou no século XX e que entre tantos expoentes contou com a jovem Clarice. E mais ainda, nos orgulhamos pela trajetória do Colégio Israelita Moysés Chvarts, que ao longo de mais de 100 anos tem educado e formado tantas outras “Clarices” para abrilhantar o mundo”, comemora Sônia Sette.