Junho é mês de festa no Nordeste, onde as celebrações juninas tomam conta das ruas, escolas e comunidades com fogueiras, comidas típicas, danças e músicas tradicionais. Para que essa celebração tão popular seja de fato para todos, é essencial que seja pensada também sob a perspectiva da inclusão, e isso inclui as pessoas com autismo, que podem se sentir sobrecarregadas com os estímulos sensoriais intensos dessas comemorações. Com planejamento e sensibilidade, é possível adaptar o ambiente e permitir que crianças, adolescentes e adultos autistas também possam vivenciar a alegria dessas celebrações.
“Pessoas neurodivergentes também têm o direito de viver as festas e tradições culturais. Participar dessas comemorações, não só as juninas, é uma forma importante de estimular a socialização, fortalecer vínculos com a comunidade e se conectar com a nossa cultura”, ressalta a psicóloga Frínea Andrade, especialista em autismo e em Análise do Comportamento Aplicada.
Orientações para uma festa junina mais acessível
A psicóloga Frínea Andrade, que também é diretora e fundadora do Instituto Dimitri Andrade, orienta como tornar as celebrações mais inclusivas.
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Oferecer espaços mais silenciosos e tranquilos onde a pessoa possa se reorganizar sensorialmente, caso necessário
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Adaptar o volume do som e a intensidade das luzes
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Utilizar fogos silenciosos
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Explorar a comunicação visual com uso de cartazes com imagens e programações visuais para facilitar a compreensão da rotina do evento.
“Seja nas festas escolares ou em outras programações sociais é fundamental realizar uma aproximação gradual da pessoa com autismo aos estímulos da celebração. Isso significa apresentar, aos poucos, os elementos novos do ambiente para que a experiência seja positiva. Famílias, profissionais e a rede de apoio podem utilizar estratégias como histórias sociais com imagens e marcar os dias de festa no calendário para dar previsibilidade. Para quem tem sensibilidade auditiva, o uso de abafadores de som pode ser um recurso importante”, orienta Frínea Andrade.
A família tem papel fundamental na preparação para o São João
Para as famílias que gostam de participar das festas juninas, é essencial adaptar as experiências às necessidades dos filhos autistas, para que eles também possam aproveitar as celebrações com conforto e segurança. Uma das estratégias é introduzir gradualmente os elementos da festa no cotidiano da criança. Isso inclui, por exemplo, experimentar a roupa típica alguns dias antes, em casa, para que ela se familiarize com o tecido, os acessórios e eventuais desconfortos. Quando possível, essa etapa também pode ser feita com o apoio de um terapeuta ocupacional, dentro do processo de dessensibilização sensorial. Outra dica importante apontada pela psicóloga é incluir, nas brincadeiras em casa, as músicas e os passos das danças típicas, criando um ambiente lúdico e previsível.
A especialista ainda destaca que as histórias sociais também são ferramentas eficazes para ajudar na preparação: “Como muitas pessoas autistas têm um pensamento mais concreto, a apresentação antecipada do que irá acontecer na festa, por meio de imagens, vídeos e sequências visuais, auxilia na organização mental e na redução da ansiedade. Além disso, é recomendável chegar mais cedo ao local da festa, quando o ambiente ainda está calmo. Isso facilita a adaptação gradual da da pessoa com autismo aos estímulos do espaço”, orienta a especialista.
Como oferecer acolhimento em casos de desorganização?
“A preparação ajuda a reduzir as chances de desregulação, mas é importante lembrar que, mesmo que ela aconteça, está tudo bem. A desorganização é uma forma de expressão que indica que a pessoa com autismo não está à vontade e não deve ser encarada com medo ou culpa pelos familiares. O mais importante é oferecer acolhimento e garantir que a pessoa autista tenha apoio para lidar com aquele momento. Se houver desorganização, retire-a do ambiente de forma acolhedora e leve-a para um local com menos estímulos, como uma sala preparada para isso ou até mesmo para dentro do carro. Também pode ser útil fazer pausas, sair e voltar à medida que a pessoa se reorganiza. Com respeito e previsibilidade, é possível adaptar a experiência e permitir que a pessoa com autismo também aproveite a festa à sua maneira”, afirma a psicóloga Frínea Andrade.
Frínea Andrade é psicóloga especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA), especialista em Análise do Comportamento e do Comportamento Aplicada e mãe atípica. É fundadora e diretora do Instituto Dimitri Andrade, que atende pessoas neurodivergentes da infância à vida adulta, incluindo adultos com nível 2 e 3 de suporte. O Instituto possui três unidades: em Boa Viagem e Barro, no Recife (PE) e em Palmares, Mata Sul do Estado. Ao longo do ano, Frínea Andrade promove iniciativas como mutirões gratuitos de atendimento, o bloco de carnaval inclusivo Ser Diferente é Normal, o Congresso Autismo na Vida Adulta Nordeste, formações e palestras sobre autismo e maternidade atípica, entre outras atividades. Frínea Andrade também está à frente do videocast Autismo & Superação, disponível nas plataformas Youtube e Spotify, com o objetivo de levar informação qualificada sobre autismo, neurodivergência e inclusão (https://www.youtube.com/@
@frineaandrade