Juliana Lapa – Foto: Danilo Galvão

Com curadoria de Bruna Rafaella Ferrer, mostra coletiva propõe diálogo entre as obras dos artistas pernambucanos e será inaugurada em 29 de janeiro, às 18h

A Galeria Marco Zero inicia seu programa artístico de 2025 com a exposição Serpentário, no dia 29 de janeiro, às 18h. A mostra reúne trabalhos de Bruno Vilela, Giovanna Simões e Juliana Lapa, com curadoria assinada por Bruna Rafaella Ferrer, e parte de simbologias ligadas às serpentes para trabalhar as poéticas e pesquisa dos três artistas pernambucanos. Entre pontos de encontros e particularidades, a mostra propõe caminhos sinuosos, que rejeitam dicotomias e convidam o público a refletir sobre temas como a passagem do tempo, a inevitabilidade da mudança, a ficcionalização, construção de contranarrativas e de paisagens externas e interiores.

Amigos há mais de uma década, Bruno Vilela, Giovanna Simões e Juliana Lapa são, também, admiradores dos trabalhos uns dos outros, com interesses comuns, como a relação entre arte, espiritualidade e psicanálise, com investigações dos mitos ancestrais e do inconsciente. Desta amizade e profícua troca artística, nasce Serpentário, como um processo colaborativo que contou com a participação ativa da curadora Bruna Rafaella Ferrer. As obras presentes na exposição são, em sua maioria, pinturas inéditas que desdobram veredas que vêm sendo investigadas pelos artistas há alguns anos, além de pesquisas mais recentes.

Segundo a curadora, que no processo também contou com a assistência de George Henrique Pereira, historiador e pesquisador, os estudos para Serpentário foram dilatados, frutos de muitas conversas e intercâmbios de ideias que acontecem de forma sistemática desde julho de 2024. A imagem da serpente e suas várias simbologias foram dispositivos para pensar a expografia de forma sinuosa, sensual e misteriosa, como o próprio animal. Não por acaso, a data de abertura da exposição também coincide com o início do Ano da Serpente no calendário chinês. O título remete também ao conjunto de estrelas homônimo que, na simbologia astrológica, habita um lugar transitório.

“Representada por Asclépio, deus grego da medicina acompanhado por uma serpente, a constelação vaga os céus ocupando uma região de fronteira entre os elementos fogo e água, onde a serpente representa tanto o poder de cura e a busca por saber, quanto a possibilidade de destruição, de imagens que condicionam e insistem em governar o sentido de realidade”, explica a curadora Bruna Rafaella Ferrer.“ A serpente também está envolta nesta atmosfera de perigo e de mistério. Passa por ideias de dualidade (o veneno, mas também o antídoto, por exemplo), mas não de dicotomia. E a exposição passa por este lugar de respeito às individualidades dos projetos artísticos dos três, ao mesmo tempo em que encontra confluências de interesses. Nesta ‘cozinha da pintura’, cada um trouxe suas substâncias e ferramentas, propondo uma grande alquimia de materiais e um aprendizado coletivo.”

Na exposição, Giovanna Simões, apresenta as pinturas originais das 22 cartas do Tarô Aurora, criadas ao longo de dois anos, no que ela classifica como um processo profundo de autodescoberta e conexão espiritual. As telas representam os arcanos maiores de cartas de Tarô, com o título de cada pintura seguindo a ordem que a jornada completa do “jogo” indica: A Louca, O Mago, A Sacerdotisa, A Imperatriz etc. Ela também expõe trabalhos relacionados à sua atuação como terapeuta radiestésica, como o O Grande Mestre (reprodução do pêndulo em madeira utilizado pela artista nos processos de radiestesia terapêutica, em maior escala) e o Labirinto de Amiens (impressão em fine art sobre tela de algodão com pirâmide vazada em cobre no centro), que, para a artista, também atuam energeticamente no espaço expositivo. Outro destaque é O Oráculo da Serpente (gaveteiro em madeira com machetaria que guarda mensagens impressas com base no tarô), peça interativa que convida o público a vivenciar uma experiência individual e reflexiva.

“Para mim, a arte é reflexo de um processo espiritual, de uma busca que me acompanha há muito tempo. Trabalhar ao lado de Bruno e Juliana nesta exposição é um momento especial, porque além de artistas, somos amigos muito próximos há mais de 15 anos. Sempre houve uma troca intensa entre nós, seja artisticamente, como ao posar um para o outro, compartilhar técnicas ou espiritualmente, discutindo nossas vivências e estudos. Essa conexão profunda se reflete nas nossas obras, que dialogam entre si de forma única. Expor juntos é a realização de um sonho e carrega uma força mágica que traduz a essência da nossa amizade e troca”, afirma Giovanna.

Juliana Lapa também retoma processos iniciados em sua última exposição individual, Casa Viva, realizada em Carpina, sua cidade natal, localizada na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Esse cenário é fundamental nas produções mais recentes da artista, tornando-se personagens de suas narrativas. Em Serpentário, a artista apresenta 20 trabalhos, entre desenhos e pinturas estratigráficas. Em grande parte das obras, protagoniza as composições o corpo feminino-paisagem como local de ativação do encanto de contar: testemunhos de dor e gozo, memórias de territórios do mistério, como indica a curadora. São os casos de Constelação da serpente (pastel a óleo, lápis de cor sobre papel), Aguaceiro (estratigrafia em massa corrida policromada, lápis de cor e tinta acrílica sobre madeira), Alagado (estratigrafia em massa corrida policromada, lápis de cor e tinta acrílica sobre madeira), Desenhar sonhando (estratigrafia em massa corrida policromada, lápis de cor, grafite e tinta acrílica sobre madeira), Das tripasjustiça e a flor do perdão (óleo , grafite e lápis de cor sobre papel), Colhedora de laranjas(estratigrafia em massa corrida policromada, lápis de cor e tinta acrílica sobre madeira) e Roda a saia, espalha as entranhas (lápis de cor e guache sobre papel).

“São trabalhos onde vou revelando em camadas as histórias e situações que surgem num processo de sonhar desenhando. Uma maneira intuitiva de produção de imagens que deságuam em temas sobre o feminino, a violência, o sonho e o espírito. Iniciei esse diálogo com Bruna Rafaella, que foi curadora da minha última individual e vem acompanhando meu trabalho de perto e, agora, junto com George. E tem sido muito rico, pois acompanho também os sentidos que eles vêm desdobrando no meu próprio trabalho”, pontua Juliana.

As 19 obras que Bruno Vilela expõe em Serpentário dão continuidade a uma investigação interessada em fenômenos ópticos e podem ser pensadas em dois grandes grupos, de acordo com a curadora Bruna Rafaella Ferrer. O primeiro constitui as séries Nuvens Estranhas(formada por duas pinturas a óleo monocromáticas em vermelho urucum) e 7 mares (com sete telas que são composições de frente, em óleo azul ultramar, e verso, com desenhos cartográficos em carvão e chassis de madeira aparentes). Telas que contrapõe paisagens de pontos de vista inversos; as primeiras da praia, como um “mar de dentro”, onde pairam no ar sólidas e fantasmagóricas nuvens, e a segunda, uma vista da costa a partir do “mar de fora” dos sete oceanos presentes nos atlas contemporâneos, nomeados em letras cursivas nas laterais das telas: Pacifico Norte, Pacifico Sul, Atlântico Norte, Atlântico Sul; Índico, Ártico e Antártico.

Já o segundo grupo é fruto de uma viagem ao México, realizada em 2024, e é representado pelos trabalhos A porta da América, Oaxaca, Yukatan e a série Sapare Sunrise, com sete pinturas multicoloridas a óleo, com inserção de folhas de ouro ou de prata. Os três primeiros quadros “assemblam” de frente sarapes, tradicionais mantas mexicanas em tecelagem adquiridos na visita ao país, e no verso, desenhos em carvão de mapas que representam cada região indicada nos títulos. As pinturas a óleo Sapare Sunrise desdobram os trabalhos anteriores, “e atestam a percepção acurada do artista-surfista que assimila nas linhas coloridas do design das mantas mexicanas, horizontes do alvorecer e do crepúsculo”, reforça a curadora.

“Os 25 dias que fiquei no México foram muito transformadores. Meu interesse pela luz, pela cor, já vinha de uma pesquisa da arte japonesa, que abordava bastante o céu, o pôr do sol e, um dia, em um mercado local, vi um tecido colorido, listrado, e nele identifiquei as cores da alvorada e do crepúsculo. Esses tecidos, os sarapes, são muito populares no México e também no Peru e na Colômbia e, nas minhas pesquisas, vi que as cores vêm deste entendimento da abstração que eles têm em relação ao nascer e ao pôr do sol. Nasceu, então, esta série que considero de pinturas a óleo abstratas neoconcretas, de influência modernista latina. As séries Nuvens Estranhas e 7 mares nascem de leituras mais políticas, como o livro As veias abertas da América Latina, também com influência do realismo mágico”, explica Bruno Vilela.

CADERNOS

Além das obras, o público terá acesso aos processos criativos dos três criadores, por meio de cadernos e diários, evidenciando as referências de cada um. Como pontuou a curadora, se a colaboração aconteceu em uma espécie de “cozinha da pintura”, essas obras são como livros de receita sem a intenção de ensinar como fazer, mas sim de apresentar os ingredientes, texturas, cores e sensorialidades de cada produção.

No caso de Bruno, o caderno tem um caráter mais parecido com um diário de bordo, capturando as experiências de sua viagem ao México, grande influência de seu trabalho mais recente. O caderno de Juliana apresenta desenhos, esboços e ideias dos projetos, com referências que ajudam a entender mais sobre o seu fazer artístico. Por fim, Giovanna Simões lançará a publicação de Tarô Aurora, uma espécie de livro de artista focado no projeto.

Serviço:

Exposição Serpentário, com Bruno Vilela, Giovanna Simões e Juliana Lapa

Local: Galeria Marco Zero

Abertura: 29 de janeiro de 2025, às 18h

Visitação: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h, até 28 de fevereiro de 2025

Endereço: Avenida Domingos Ferreira, 3393, Boa Viagem, Recife – PE

Entrada franca

Informações: (81) 98262-3393 / www.galeriamarcozero.com / @galeriamarcozero (Instagram)

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