Quando olha para seu passado, sua infância na China, o diretor e roteirista C.B. Yi gosta de lembrar dos filmes do taiwanês Hou Hsiao Hsien. “Eu tive a infância mais livre que eu poderia querer, e gosto de olhar para trás com nostalgia. Nos primeiros filmes desse diretor, eu encontro lugares e traços do passado”. E são essas experiências que ele evoca em seu primeiro longa, MONEYBOYS, que chega aos cinemas brasileiros em 8 de fevereiro com distribuição da Pandora filmes.

Nascido na China, Yi passou a adolescência na Áustria, onde, posteriormente, estudou na Academia Vienense de Cinema. Ele se lembra de que na infância não havia crimes na pequena cidade onde vivia, que as pessoas podiam deixar a porta da casa aberta. Porém, para seu longa de estreia, ele pensou numa situação diferente, mais contemporânea.

O filme lida com um problema muito específico, a migração de um jovem da China rural, mas para mim é uma história universal sobre relacionamentos interpessoais que poderiam acontecer em muitos lugares ao redor do mundo”. MONEYBOYS fez sua estreia mundial na mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes.

Trazer a história de Fei (Kai Ko) para a China rural era uma necessidade, pois o diretor, que também assina o roteiro do filme, não conseguia imaginar situar na Europa as situações retratadas ali. “Lidar com o cenário da terra natal me deu confiança e segurança no meu trabalho, pois sinto uma conexão especial com as pessoas, suas peculiaridades e conflitos. Acredito também que seja importante lidar pelo menos uma vez com as origens de uma carreira artística.”

Fei sustenta sua família como traficante, porém tudo muda quando percebe que eles aceitam o seu dinheiro, mas não a sua homossexualidade. Vivendo um relacionamento com Long (Yufan Bai), ele acredita que as coisas podem ser melhores, mas o reencontro com um antigo amor Xiaolai (J.C. Lin) abala as certezas do protagonista.

Abandonar o passado ou viver com ele é um dos assuntos principais de MONEYBOYS. Mas eu sempre elaboro as histórias com vários assuntos em mente. É, por exemplo, também sobre encontrar coragem para ser feliz. Ou você nem sempre está fazendo um favor ao outro e a si mesmo quando você se sacrifica por eles. Estes são temas que quero abordar em meus filmes e roteiros: até que ponto posso estar lá para os outros sem me machucar? Até que ponto preciso me preocupar comigo primeiro para poder fazer o bem aos outros?

Aluno de Michael Haneke, Yi conta que no set tenta criar um ambiente de segurança e liberdade, para que o elenco possa se entregar ao filme. “Enquanto diretor, as várias personagens exigem que você lide de forma diferente com cada um: alguns atores querem açúcar, outros querem o chicote, outros ainda preferem ser ignorados por um tempo para que eles possam desenvolver seu papel sem ser incomodados.”

A característica mais marcante de MONEYBOYS é sua estética: direção elegante, belas molduras, um esplêndido uso de espaço e escopo que lembra Nicholas Ray, que captura e examina o protagonista até a medula”, escreveu o jornalista espanhol Jordi Batlle Caminal sobre o filme, no site Fotogramas.

Sinopse
Fei trabalha ilegalmente como traficante para sustentar sua família, mas quando percebe que eles estão dispostos a aceitar seu dinheiro, mas não seu modo de vida, ocorre um grande colapso em suas relações. Através de seu relacionamento com o teimoso Long, Fei parece capaz de encontrar um novo sopro de vida, mas então ele reencontra Xiaolai, o amor de sua juventude, que o confronta com a culpa de seu passado reprimido.

Ficha Técnica
Direção: Alejandro Landes
Roteiro: Alejandro Landes & Alexis Dos Santos
Produção: Gabriele Kranzelbinder, André Logie, Barbara Pichler, Guillaume de la Boulaye
Elenco: Kai Ko, Chloe Maayan, Yufan Bai, JC Lin, Qiheng Sun
Direção de Fotografia: Jean-Louis Vialard
Trilha Sonora: Yun Xie-Loussignan
Montagem: Dieter Pichler
Gênero: drama
País: Áustria, França, Bélgica,Taiwan
Ano: 2021
Duração: 120 minutos

Sobre a Pandora Filmes
A Pandora é uma distribuidora de filmes independentes que há 30 anos busca ampliar os horizontes da distribuição de filmes no Brasil revelando nomes outrora desconhecidos no país, como Krzysztof Kieślowski, Theo Angelopoulos e Wong Kar-Wai, e relançando clássicos memoráveis em cópias restauradas, de diretores como Federico Fellini, Ingmar Bergman e Billy Wilder. Sempre acompanhando as novas tendências do cinema mundial, os lançamentos recentes incluem “O Apartamento”, de Asghar Farhadi, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; e os vencedores da Palma de Ouro de Cannes “The Square: A Arte da Discórdia”, de Ruben Östlund e “Parasita”, de Bong Joon Ho.

Paralelamente aos filmes internacionais, a Pandora atua com o cinema brasileiro, lançando obras de diretores renomados e também de novos talentos, como Ruy Guerra, Edgard Navarro, Sérgio Bianchi, Beto Brant, Fernando Meirelles, Gustavo Galvão, Armando Praça, Helena Ignez, Tata Amaral, Anna Muylaert, Petra Costa, Pedro Serrano e Gabriela Amaral Almeida.