Como desdobramento da exposição Ocupação Lia de Itamaracá – Paço do Frevo — sucesso de público, em cartaz até 21 de junho —, o Paço, o Centro Cultural Estrela de Lia e o Itaú Cultural unem-se novamente, desta vez para lançar a série em vídeo “Quem me deu foi Lia”. Através de seis episódios semanais, sempre às quartas-feiras, que aprofundam as temáticas de gênero e raça, seis mulheres negras de setores diversos da cultura falam sobre a importância de Lia, que completa 80 anos em 2024, e do protagonismo negro e feminino da mestra cirandeira que influenciou gerações de artistas.

Com o patrocínio do Itaú e da Rede e o apoio cultural e financeiro do Itaú Cultural, a série “Quem me deu foi Lia”, produzida por uma equipe de mulheres negras, estreou na quarta-feira (10 de maio) e o primeiro episódio está no ar nos canais de Youtube do Paço do Frevo, de Lia de Itamaracá e do Itaú Cultural.

Fazem parte da série, nesta ordem, Zenaide Bezerra, mestra passista de Frevo, Patrimônio Vivo reconhecido, assim como Lia; Isaar França, cantora; as Irmãs Baracho, cantoras da cultura popular que acompanham Lia; Maria Gabrielly Dantas, ativista de moda e criadora da casa sustentável Casa de Sal; Dona Onete, a Rainha do Carimbó Chamegado; e Dona Carmem Virgínia, chef de cozinha e apresentadora. Confira mais adiante a minibio das artistas e as datas em que cada vídeo irá ao ar.

“Me sinto muito feliz vendo a minha cor junto comigo, levando a cultura e a história. Isso é muito importante. Essas mulheres para mim representam tanta coisa que muita gente duvida”, comemora Lia, ressaltando a felicidade de estrear a websérie.

“Ao se tornar a maior referência de mestra de cultura popular, com uma merecida projeção de estrela, Lia de Itamaracá levou pioneiramente as mulheres negras a um lugar de representação sempre negado, apagado da história. Sua trajetória, além de singular para a história da música brasileira, é um importante marco para que outras pretas avancem em conquista na cultura, à luz do seu exemplo. É emocionante para o Paço do Frevo, além de receber tão significativa exposição em homenagem a Lia de Itamaracá, registrar esses depoimentos de outras artistas e fazedoras que bebem na ancestralidade de suas águas, criando diálogos entre gerações e patrimônios”, reverencia Geisa Agricio, gerente de Desenvolvimento Institucional do Paço do Frevo.

“Essas mulheres e suas narrativas, construídas historicamente, nos provocam a pensar sobre protagonismo, legitimação e afirmação nos diferentes espaços que ocupamos. Ouvindo sua voz me dizer que temos que juntar mão com mão para formarmos uma roda, fica difícil não perceber a importância de Lia: sua força, vida e obra, sua presença-mar e os movimentos de ir e vir de quem escolhe a vida artística são fonte de inspiração, pesquisa e criação.  Nessa ritualística que acompanha Lia e seus percursos, cirandamos, resistimos e conjuramos futuros com a rainha que emerge da Ilha de Itamaracá, puxando em sua rede o esperançar, o sopro de vida”, comenta Anne Costa, coordenadora da Escola Paço do Frevo. 

A criação da websérie “Quem me deu foi Lia” é de Geisa Agricio, e o apoio de casting é de Anne Costa. A realização é da Gira Conteúdo Audiovisual, com direção de Luara Olívia e produção de Bruna Leite.

AS ARTISTAS

Lia de Itamaracá

Maior voz da ciranda brasileira, Patrimônio Vivo de Pernambuco, Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Lia de Itamaracá negritou a história da cultura popular brasileira, sendo hoje uma de suas maiores representantes. Nascida Maria Madalena Correia do Nascimento, em 12 de janeiro de 1944, filha de uma empregada doméstica e de um agricultor, Lia conta que desde muito nova sabia que queria ser uma cantora. Hoje, com seu canto potente e inconfundível, entoa cirandas clássicas que embalam as danças brasileiras desde os anos 70, quando estreou profissionalmente no palco, para nunca mais sair dele. Detentora do saber de um bem cultural, a ciranda, titulada Patrimônio Imaterial do Brasil, Lia sempre ousou ao quebrar as regras que comumente se aplicam aos chamados artistas da cultura popular.

Zenaide Bezerra (no ar)
Passista mais antiga em atuação no Brasil, Mestra Zenaide é Patrimônio Vivo do Recife e foi homenageada do Carnaval da cidade em 2023. Em março, foi coroada Rainha do Passo no Pátio de São Pedro. Em 2019, recebeu do Governo de Pernambuco homenagem pelo Dia do Frevo. Incentivando as novas gerações, Zenaide segue a tradição familiar de ser brincante da cultura popular, herdada do pai, Egídio Bezerra, o “Rei do Passo”. Através do Grupo de Passistas Zenaide Bezerra, é presença tradicional no Ciclo Carnavalesco recifense. Além do Frevo, a mestra interage com outras manifestações populares, como Xaxado, Coco e Ciranda.

Isaar França (no ar em 17/5)

Em processo de produção do seu quarto trabalho solo, que será lançado em 2023, Isaar é cria das rodas de músicas tradicionais do anos 1990. Integrou a banda Comadre Fulozinha, com quem gravou dois discos, cantou com Antônio Carlos Nóbrega, com quem viajou em turnê nacional e europeia, e com Naná Vasconcelos, nos encontros de Maracatus e abrindo o Carnaval de Recife. Fez parte de projetos de Ariano Suassuna, peças de José Celso Martinez (Bacantes e Os Sertões – A Terra) e gravou dois discos com DJ Dolores. Em 2010, ganhou o prêmio Pixinguinha. Em 2016, cantou no show de encerramento das Olimpíadas do Rio de Janeiro. Integra o coletivo de mulheres A Dita Curva, que rodou o Brasil em 2019 e, com elas, subiu ao palco do Marco Zero no Carnaval de 2020. Em 2022, fez sua primeira turnê em continente africano visitando África do Sul e Moçambique ao lado do músico Valdi Afonja e banda.

Irmãs Baracho (no ar em 24/5)

Maria Dulce, natural de Carpina, e Severina, de Nazaré da Mata, carregam um sobrenome de importância histórica para a cultura popular pernambucana e brasileira. Filhas de Antônio Baracho da Silva, ou simplesmente Baracho, falecido em maio de 1988, assumiram a responsabilidade de manter e divulgar o trabalho do pai: a ciranda. Baracho é considerado um dos maiores compositores de ciranda de Pernambuco e Dulce e Severina cresceram nas rodas e cantigas acompanhando o pai nas apresentações respondendo aos versos entoados por ele. Também são conhecidas por acompanhar a cirandeira Lia de Itamaracá em suas apresentações.

Maria Gabrielly Dantas (no ar em 31/5)

Tem 25 anos, é afroempreendedora, designer de moda, estilista e figurinista, além de educadora e ativista socioambiental. Atua com moda preta sustentável e eco-construção. Com uma estética de afirmação, é cocriadora do brechó Cabrochas, junto à mãe, Edna Dantas, um projeto que nasceu em Curitiba em 2014. Elas também estão à frente da Casa de Sal, uma edificação feita totalmente de elementos descartáveis, sobretudo a partir de garrafas de vidro.

Dona Onete (no ar em 7/6)

Rainha do Carimbó, Dona Onete, 83 anos, com quatro álbuns solo, abriu caminhos para muitas vozes femininas do Norte do Brasil e é uma das grandes responsáveis por espalhar a cultura do Pará. Foi ela quem renovou as formas de expressão paraense criando um novo gênero, o carimbó chamegado. Também já atuou na educação, como professora, e na política, quando militou em movimentos sindicais, a partir dos ensinamentos do educador Paulo Freire, e trabalhou com gestão cultural. Com forte influência de encantarias, religiosidades, contação de histórias e lendas em sua vida, foi somente depois dos 60 que Dona Onete dedicou-se inteiramente à música.

Dona Carmem Virgínia (no ar 14/6)
Nasceu em Pernambuco e é chef, pesquisadora, influenciadora digital e jurada dos reality shows Cozinheiros em ação (GNT) e FFF Brasil (SBT). Especialista na gastronomia brasileira, é proprietária do Altar Cozinha Ancestral, no bairro de Santo Amaro (Recife) e na Vila Madalena (SP), além de ser embaixadora do Coca-Cola dá um Gás no Seu Negócio. Possui mais de 300 mil seguidores no Instagram, rede social onde comanda o quadro “Comida de Quinta”, voltado para ensinar pratos simples para seu público e está à frente do programa Uma Senhora Panela, do GNT.

OCUPAÇÃO LIA DE ITAMARACÁ – Já visitada por mais de 15 mil pessoas desde o dia 21 de março, a Ocupação Lia de Itamaracá – Paço do Frevo celebra a terra, o mar, os sons e todo o universo de uma das maiores artistas da música popular brasileira, no segundo andar do museu. A exposição é um tributo e um reconhecimento à trajetória de uma artista cuja vida e obra vêm seduzindo gerações e fortalecendo a identidade do povo pernambucano a partir da Ciranda e de outros gêneros da cultura popular.

A Ocupação Lia é composta por documentos, figurinos, objetos pessoais, fotografias, mobiliários e diversos recursos audiovisuais, como videoclipes e imagens recentes de apresentações da artista pelo mundo. A exposição conta também com materiais exclusivos como uma entrevista e um ensaio fotográfico inédito, com autoria de Ytallo Barreto. As canções de Lia, como parte de um cancioneiro popular que aborda as questões mais simples e cotidianas do povo, como o amor, o trabalho e as brincadeiras, também têm o devido destaque na mostra. É possível perceber os sons de Lia com os ouvidos, com os olhos e com a pele.

Idealizada pelo Itaú Cultural, estreou em São Paulo, em abril de 2022, e permaneceu em cartaz até julho. Depois seguiu para a terra natal da artista, acompanhando os desejos da própria. Com o patrocínio do Itaú, da Rede e o apoio cultural e financeiro do Itaú Cultural, a exposição tem a realização do Paço do Frevo e do Centro Cultural Estrela de Lia. A coordenação geral é de Beto Hees, empresário e produtor da artista, a produção é de Marcos Paulo, também da equipe de Lia, e a curadoria é de Michelle de Assumpção, biógrafa da cantora.

O acesso à Ocupação Lia – Paço do Frevo se dá através do ingresso do museu, que custa R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), com gratuidade para todos os públicos às terças-feiras.

PAÇO DO FREVO – Reconhecido pelo IPHAN como centro de referência em ações, projetos, transmissão, salvaguarda e valorização de uma das principais tradições culturais do Brasil, o Frevo. Patrimônio imaterial pela UNESCO e pelo IPHAN, o Frevo é um convite à celebração da vida, por meio da ativação de memórias, personalidades e linguagens artísticas, que no Paço do Frevo encontram seu lugar máximo de expressão, na manutenção de ações de difusão, pesquisa e formação nas áreas da dança e da música, dos adereços e das agremiações do Frevo.

O Paço do Frevo é uma iniciativa da Fundação Roberto Marinho, com realização da Prefeitura do Recife, por meio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife e da Secretaria Municipal de Cultura e a gestão sob o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). Por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tem o patrocínio master do Instituto Cultural Vale, o papel de mantenedor do Grupo Ultra, patrocínio do Banco Itaú e da White Martins. Conta com o apoio do Grupo Globo, Pernambucanas, Rede e Valgroup.

SERVIÇO

Série de vídeos “Quem me deu foi Lia”
No Youtube do Paço do Frevo, de Lia de Itamaracá e do Itaú Cultural

Paço do Frevo – Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Bairro do Recife, Recife
Horários: Terça a sexta, 10h às 17h | Sábado e domingo, 11h às 18h
Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia) – entrada gratuita às terças-feiras
*Confira aqui a política de gratuidade do museu