Não é difícil compreender por que a diretora Rachel Daisy Ellis decidiu investigar os motéis no seu primeiro longa-metragem, EROS. Quer você nunca tenha pisado em um estabelecimento como este ou seja frequentador recorrente, fato é que estes são locais, no mínimo, intrigantes. Se por um lado, como instituição de sexo mais importante do pais, os motéis integram a paisagem urbana de todo o Brasil, com seus letreiros luminosos e entradas chamativas, por outro há um genuíno mistério sobre o que acontece ali e quem são as pessoas que ocupam suas suítes.

Ciente da riqueza deste tema, Ellis viu em EROS uma oportunidade de explorar e provocar uma reflexão sobre o que é o motel. Curiosamente, a forma de conduzir o público por sua pesquisa veio mais tarde, quando ela mesma teve uma noite frustrada em um destes quartos, enquanto ouvia as pessoas das suítes vizinhas e imaginava as histórias por trás daqueles gemidos. Tendo escutado depoimentos de frequentadores de motel de vários cantos do país, Ellis convidou alguns deles a se filmarem durante uma das suas noites. O resultado está no documentário: uma costura de experiências e visões que, por mais distintas que sejam, compartilham entre si olhares profundos sobre as relações de intimidade e afeto.

Desta forma, a intimidade que EROS registra não se resume a sexo: há prazer e fantasias sim, mas há também amor, solidão, liberdade, confiança e introspecção. Quer dizer, entre as quatro paredes de um quarto de motel, existe uma vulnerabilidade reveladora muito rica – não só para entender os indivíduos retratados, mas a própria relação do Brasil com estes estabelecimentos tão tradicionais.

“Quando vi as primeiras filmagens dos personagens, fiquei impressionada com a intimidade compartilhada”, lembra a cineasta. “Tinha algo mágico ali, entre o exibicionismo e a partilha íntima, que foi muito especial. Os momentos capturados antes e depois do sexo, onde a intimidade se constrói eram fascinantes.”

O autorregistro se mostrou uma linguagem interessante também do ponto de vista estético: as imagens mudavam não só conforme o aparelho usado para registrá-las, como também pela própria individualidade das personagens. Com a câmera na mão, viravam diretores e gravavam sua experiência como bem entendessem. “Me interessava pensar também até que ponto as pessoas usariam o palco da suíte do motel como espaço de performance de suas histórias e reflexões e como seria a mistura de performance e registro de observação”, explica Ellis.

Todas as filmagens foram realizadas com os celulares das próprias personagens que foram convidadas a se filmar durante uma estadia, numa suíte de sua escolha. “Escolhi o dispositivo do auto registro como maneira de adentrar a intimidade e explorar a auto-representação. O filme acabou sendo um mergulho nas relações íntimas, a liberdade sexual, o refúgio, a relação corpo-espaço, a auto-representação, a performance, o amor romântico e a solidão.”

Com distribuição da Fistaile, EROS convida públicos de todo o Brasil a se surpreenderem e, claro, a refletirem sobre suas próprias relações de intimidade e afeto a partir de 12 de junho, quando o documentário chega aos cinemas.

Sinopse:
O filme EROS acessa a intimidade vivenciada na maior instituição erótica do Brasil: o motel.  Pessoas frequentadoras foram convidadas a se filmar durante uma noite e compartilhar os seus vídeos para fazer parte de um filme.

Ficha Técnica
Direção e Argumento:
Rachel Daisy Ellis
Produção: Dora Amorim, Rachel Daisy Ellis
Empresa Produtora: Desvia
Coprodução: Ponte
Montagem: Matheus Farias, Edt
Desenho de som: Nicolau Domingues

Mixagem: Nicolau Domingues e Mauricio D´Órey

Participantes & Filmagens de:  Marlova Dornelles & Andrade, Gabriel Soares & Hagar, Joana & José dos Santos, Ale Gaúcha & amigos, Fernanda Falção & Ribersson, Camila & Heber, Barbara Drummond & Paulo Vela, Luis de Basquiat, Rachel Daisy Ellis

Assistência de direção: David Moura, Everton Federico, Hellyda Cavalcante 

Pesquisadores: Victoria Alves, Bruna Leite, Chico Ludemir, Chico Ludemir, Vanessa Forte,  Maria Clara Escobar, Fernanda Luá, Tainã Aynoã dos Santos Barros, Mayara Sanchez, Laura Dornelles

Assessoria de Imprensa: Sinny Assessoria
Distribuição: Fistaile

Cartaz: Guilherme Luigi

Trailer: Matheus Farias e Will Oliveira

Este projeto foi contemplado pelo Edital da Lei Paulo Gustavo (LPG) do município de Recife, com recursos da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, da Prefeitura de Recife, e do Ministério da Cultura, Governo Federal.

Sobre Rachel Daisy Ellis
Rachel Daisy Ellis é cineasta brasileira/britânica radicada em Recife, Brasil desde 2004. É mestre em Política Social e Participação e frequenta atualmente uma pós-graduação em Artes Visuais: Fotografia e Pós-Cinema na Universidade NOVA de Lisboa. Em 2010 co-fundou a produtora Desvia com o diretor/artista Gabriel Mascaro com o objetivo de produzir filmes por autores com fortes visões estéticas que levam aos espectadores a pensar o mundo ao seu redor de novas maneiras. Produziu cinco longas e um curta de Gabriel Mascaro, com quem mantém uma forte parceria criativa, tendo co-escrito três desses projetos com ele. Rachel também coproduziu vários filmes, incluindo Rojo (2018) de Benjamin Naishtat e Prayers for the Stolen (2021) de Tatiana Huezo. O primeiro filme de Rachel como diretora foi o curta documentário Mini Miss, que estreou em 2018 no True/False e foi exibido em mais de 40 festivais, incluindo Sheffield, Doc Aviv, AFI Docs, É Tudo Verdade e ganhou vários prêmios, incluindo prêmio de aquisição Canal Brasil de melhor filme no É Tudo Verdade. O filme é um dos três curtas sobre primeira infância (os outros dois estão em produção). Eros é seu primeiro longa-metragem. Atualmente, desenvolve outros projetos como diretora.

Sobre a Fistaile
Fistaile é uma empresa de distribuição, curadoria e desenho de audiência. Tem atuação voltada para o audiovisual brasileiro, prioriza trabalhar projetos desde o desenvolvimento e que possibilitem circulações inovadoras.

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