Diversos estudos vêm relacionando a nutrologia e a psiquiatria e os benefícios dessa interdisciplinaridade com o tratamento de doenças como a depressão

Distúrbios da mente estão entre um dos maiores desafios da saúde mundial. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas ao redor do mundo sofrem com depressão. Em outra vertente, ainda segundo o órgão, o Brasil é o segundo país com a maior taxa de ansiosos: 9,3% dos brasileiros. 

Apesar do cenário, que pode piorar ainda mais no contexto pós-pandemia, a evolução dos diagnósticos, rompimento de tabus e o número cada vez maior de estudos na área vêm tornando possível abordagens mais diretas e tratamentos mais eficientes. Há, por exemplo, diversos estudos nas áreas da psiquiatria e nutrologia que relacionam esses problemas com a alimentação. 

À exemplo, pesquisadores da Harvard School of Public Health, nos Estados Unidos, estudaram por 12 anos a conexão entre padrões alimentares de mais de 43.685 mulheres, entre 50 e 77 anos, e o Distúrbio Depressivo Maior (DDM). Sob padrões rigorosos — nenhuma das voluntárias possuía diagnóstico de depressão anterior — os cientistas evidenciaram que a propensão à depressão era de 29% a 41% maior em pacientes com hábitos alimentares nocivos, ricos em açúcares, excesso de carne vermelha, grãos refinados e com pouco consumo de produtos de origem natural.  

Essa relação se dá, segundo o Dr. Lucas Costa Felicíssimo porque essas classes de alimentos são mais propensas a desencadear processos inflamatórios no organismo, entretanto, não é correto apontar comidas “maléficas”. É a composição da dieta em toda a sua complexidade que torna a pré-disposição mais elevada. “Alimentos e nutrientes não são ingeridos de maneira isolada, trata-se de um conjunto, que deve ser analisado de forma combinada. Não é porque uma pesquisa relacionou o alto nível de açúcar com doença que você deve excluir os doces da sua dieta. É muito mais sobre montar um cardápio onde haja equilíbrio e boa qualidade de insumos”, aponta. 

Entre as substâncias que, quando ingeridas em excesso causam aumento no risco de desenvolvimento de distúrbios emocionais estão, por exemplo, as gorduras trans. Pesquisa conduzidas pelas universidades espanholas de Navarra e Las Palma analisaram ao longo de seis anos, 12 mil voluntários e inferiram que 48% dos que consumiam a substância tinham maiores riscos de desenvolver depressão. “Esse excesso de gorduras trans aumenta a produção de citocinas, moléculas pró-inflamatórias que pode desencadear o mau funcionamento dos neurônios, o que pode diminuir a transmissão nervosa e consequentemente a formação de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar”, exemplifica Dr. Lucas Costa Felicíssimo.  

Da mesma forma que podem desencadear, alguns alimentos também são capazes de ajuda a superar o quadro depressivo. Nutrientes como fibras, magnésio, vitaminas C, B1, B9, zinco, ferro e ômega-3, atuam na prevenção e no combate à depressão. “Alimentos compostos por esses nutrientes promovem a produção de serotonina e dopamina, hormônios relacionados ao bem-estar e isso quando alinhado ao acompanhamento médico pode tanto prevenir quanto minimizar sintomas e acelerar o tratamento”, diz.