Nutricionista conta que crianças com o transtorno do espectro autista frequentemente apresentam seletividade alimentar

No dia 31 de agosto é comemorado o Dia do Nutricionista e a nutrição é fundamental para introduzir uma alimentação equilibrada, balanceada, respeitando o tempo e a individualidade fisiológica, promovendo qualidade de vida para o indivíduo com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em especial, as crianças, tendo em vista que comer é um ato aprendido e a ingestão nutricional é parte essencial no crescimento e desenvolvimento de todas, proporcionando uma relação benéfica em relação a comida e consolidando hábitos alimentares saudáveis.

A seletividade alimentar pode ser entendida como um comportamento que tem como característica principal a recusa de alimentos, tendo repertório nutricional limitado e/ou a ingestão dos mesmos alimentos ou grupos alimentares.  Enquanto pesquisas indicam que 30% das crianças típicas podem se encaixar em algum tipo de seletividade, 89% das crianças com autismo se enquadram no espectro da seletividade alimentar.

De acordo com a nutricionista Rafaella Crespo da Clínica Ninho, a limitação na variedade e na quantidade dos grupos alimentares de frutas e vegetais, pode acarretar alterações no estado nutricional da criança. “De um lado sobrepeso e obesidade, de outro a desnutrição, em ambas as deficiências de micronutrientes como as vitaminas e minerais, que podem interferir no seu desenvolvimento e crescimento. A ingestão adequada de macro e micronutrientes estão estritamente relacionadas com a ingestão de uma alimentação variada e diversificada”, explica.

O comportamento mais comum em crianças com TEA é justamente a recusa de frutas e vegetais e a tendência a selecionar ou excluir alimentos de um único grupo alimentar. Um estudo (Dietary Patterns of children with autism spectrum disorder: A Study based in Egypt, 2015) concluiu que a Nutrição e suplementação adequada de macro e micronutrientes podem amenizar sinais e sintomas, potencializar capacidade cognitiva e interação social. Embora os parâmetros de crescimento e peso dessas crianças estejam adequados para a idade, a restrição da dieta leva ao quadro de desnutrição subclínica.

A baixa aceitabilidade de alimentos pode estar relacionada a causas orgânicas, as patologias que mais contribuem para baixa adesão da dieta são os distúrbios gastrointestinais, como o refluxo gastresofágico e inflamação intestinal. Sintomas como flatulência, inchaço abdominal e fezes alteradas são comuns no paciente autista e ocorrem, principalmente, devido à disbiose que é um desequilíbrio da microbiota intestinal, onde as bactérias patogênicas estão em maior quantidade em relação às bactérias benéficas.

Respostas sensoriais de dificuldades de discriminação ou hiperresponsividade relacionadas aos alimentos estão comumente presentes no autismo, conhecido como disfunção de integração sensorial (DIS), tratado exclusivamente por Terapeuta Ocupacional especializado em terapia de Integração Sensorial.

Ainda de acordo com a nutricionista Rafaella Crespo, o tratamento da seletividade alimentar é transdisciplinar. “É necessário investigar as causas orgânicas, qual é a condição nutricional atual, corrigi-las através de plano dietético, removendo alimentos alérgenos e incluindo suplementação nutricional individualizada para que a criança permaneça nutrida durante todo o tratamento”, finaliza.