Com direção e produção de Valentina Homem, A MENINA E O POTE ganha trailer oficial. O curta-metragem terá sua estreia mundial no Festival de Cannes. O curta em animação será exibido na mostra competitiva da Semana da Crítica, e terá sua primeira sessão no dia 21 de maio, às 14h15 e às 20h (horário local), no Cinéma Miramar (35 rue Pasteur).

Confira o trailer:

O curta parte de um conto escrito pela própria cineasta em 2012, um parábola que nasceu de uma tentativa catártica de traduzir experiências do início da vida adulta. “Alguns dos símbolos que organizam a narrativa são metáforas de episódios bastante íntimos: o pote, o seu rompimento, o vazio que o preenchia, a perda de contornos, a busca por uma tampa e a integração final com o vazio dentro do pote. Anos depois, eu estava investigando a cosmogonia ameríndia e fazendo experiências com Plantas Sagradas Amazônicas, e percebi como a trajetória da Menina espelhava, de alguma forma, a de uma iniciação xamânica. Quando começamos a fazer o filme, decidi imbuir a história com símbolos que enraizassem a menina na cultura ameríndia.”

Para transformar isso em filme, Valentina contou com a consultoria da antropóloga indígena Francy Baniwa, e o roteiro, além delas duas, teve a colaboração, também, de Nara Normande, Tati Bond e Eva Randolph.

A história foi construída com referências à cosmologia Baniwa e também algumas influências da mitologia Yanomami, conforme descrito no livro seminal de Davi Kopenawa Yanonmi, A Queda do Céu. A realização do filme foi colaborativa durante todo o processo. Nara Normande foi a diretora de animação e Eva Randolph editou o filme. Tati Bond foi responsável pela direção artística e foi a única animadora do filme, assumindo a função de codiretora de Valentina.

O filme utiliza a técnica de pintura sobre vidro, que reflete a jornada da Menina, que está em constante transformação, materializada na fluidez, fusão e perda de contornos da animação. A escolha da técnica se deu, principalmente, pela possibilidade de trabalhar com traços, que são explorados em um crescendo: nos dois primeiros atos são dadas pistas sobre o que predominará no terceiro ato – uma metamorfose permanente que conecta tudo em um único todo.

A Menina fala Nheengatu, ou Língua Geral, que se desenvolveu a partir de uma língua indígena de influência europeia no século XVI, e se tornou então a língua mais falada em território brasileiro. Posteriormente foi proibida, mas continuou sendo a língua principal de alguns grupos indígenas da região do Alto Rio Negro. A Menina fala Nheengatu porque é a língua materna de Francy Baniwa e também pelas conexões que Valentina estabeleceu com a comunidade da antropóloga. Por conta da parceria no filme, Francy e Valentina se tornaram colaboradoras em um projeto na aldeia natal da antropóloga, Assunção do Içana: AMARONAI – dignidade menstrual e geração de renda para mulheres indígenas, que está profundamente ligado simbólica e politicamente ao filme.

A MENINA E O POTE nasce na distopia em presente contínuo em que vivemos: o fim do mundo é agora, não num futuro distante. A floresta amazônica está perigosamente perto do ponto sem volta, só perceberemos isso quando não houver mais nada para ver?

O filme é fruto do nosso sonho coletivo: sonhar com a floresta, ser floresta – resgatar memórias ancestrais, que conservam também o que está por vir. As mitologias ameríndias, ao contrário do pensamento ocidental, não concebem um mundo sem nós, por isso penso no nosso tempo como uma era pré-cosmogónica, mas é urgente reflorestar os nossos imaginários – E espero que o filme possa ser um portal para uma futuro possível”, conclui a diretora.

A MENINA E O POTE é uma produção da Sempre Viva

Sinopse

Em um mundo distópico, uma menina quebra o seu pote, objeto que guarda um segredo em seu interior. A quebra do pote abre portais para universos paralelos e a menina adentra um tempo de transformação em que a criação de um novo mundo é finalmente possível.

Ficha Técnica

Direção & Produção: Valentina Homem
Roteiro: Valentina Homem, Francy Baniwa, Nara Normande, Tati Bond e Eva Randolph.
Elenco: Francy Baniwa
Gênero: drama
País: Brasil
Ano: 2024
Duração: 12 min.

Sobre a Valentina Homem

Valentina é mestra em Cinema e Artes da Mídia pela Temple University (EUA), onde também atuou como professora assistente e adjunta, ministrando cursos práticos e teóricos (2012-2016). Sua pesquisa de mestrado a respeito da performatividade no fazer documental foi orientada por Tim Corrigan, autor de Essay Film. Valentina realiza documentários como roteirista, diretora e produtora desde 2002. Ao longo dos anos, seus trabalhos passaram a se desenvolver na intercessão entre documentário, artes visuais e performance e mais recentemente tem se dedicado também a projetos de ficção. Seus curtas documentais e experimentais foram exibidos em dezenas de festivais nacionais e internacionais (Semana da Crítica, Annecy, Quinzena dos Realizadores – Cannes, Havana, Ann Arbor Film Festival, Cartagena, Vila do Conde, Brasília, Festival dei popoli etc) e seus roteiros têm participado de mercados e laboratórios (DocMontevideo, Brasil Cinemundi, MiradasDoc). Valentina foi artista residente da Fundação Sacatar (Brasil) em 2019 e da Millay Colony (Estados Unidos) em 2016, mesmo ano em que recebeu a bolsa do Flaherty Seminar. Desde 2020 começou a atuar como consultora de projetos e facilitadora de processos criativos e, em 2021, teve dois ensaios publicados em revistas (Nerva e Bacanal).

Sobre a Sempre Viva

Sempre Viva é uma pequena produtora familiar que atua nas áreas de cinema, TV, literatura, jornalismo e artes visuais. Atualmente em pós-produção Sempre Viva tem O Dia Anterior, longa narrativo escrito e dirigido por Valentina Homem. A empresa está em pré-produção de Under The Baobab Tree, longa-metragem documental coproduzido pela Bubbles Projects, também escrito e dirigido por Valentina. Sempre Viva está desenvolvendo a Série Na Caatinga a Vida Pulsa e o longa-metragem CAVALO. A empresa produziu os curtas Nem Spring Nor Estuary (Ann Arbor Film Festival, 2019), Abigail (Quinzaine des Réalisateurs, 2016) e Brócolis (CinePE, 2015), todos dirigidos por Valentina Homem. Em 2016, Sempre Viva produziu Rede Patativa, programa de TV de 26 episódios veiculado em diversos canais públicos de TV.