A psicóloga e coordenadora da pós-graduação em neuropsicologia clínica da Faculdade IDE, Eliana Almeida, explica como esse momento nos afeta e dá dicas para manter a produtividade mesmo confinados em casa
Medo, insegurança, impermanência, impotência, falta de perspectiva, assombro pelo invisível. Esses são alguns sentimentos que podem ser desencadeados em todos nós durante este período de isolamento social em que vivemos por causa da propagação do novo coronavírus. Ficar confinado dentro das nossas próprias casas tem causado uma série de sensações que não tínhamos quando se podia ter uma vida social e essas emoções acabam refletindo na concentração e produtividade, principalmente para aqueles que precisam estudar ou trabalhar normalmente, mesmo à distância. O novo normal não está sendo fácil para muitas pessoas e manter a sanidade mental e o bom rendimento em meio a um turbilhão de acontecimentos são os principais desafios enfrentados pela maioria da população.
Além de todas as questões internas que assolam as pessoas, a crise econômica, instabilidade política e relações familiares conturbadas influenciam muito na saúde mental e podem trazer consequências, sendo ainda mais fortes naqueles que já sofrem de depressão e ansiedade. “Para os perfis onde os transtornos de humor se fazem presentes, isso tende a ser potencializado geometricamente. A pandemia afeta exatamente dois dos estados mentais que são centrais nestes dois quadros clínicos, que são o medo, a base da ansiedade, e a desesperança, a base da depressão. Além disso, são potencializados pelos estressores de uma convivência familiar não saudável”, explica a psicóloga e coordenadora da pós-graduação em neuropsicologia clínica da Faculdade IDE, Eliana Almeida.
“Um outro elemento importante neste processo, é o acúmulo de funções. Muitas pessoas estão sobrecarregadas neste cenário. É rotina doméstica, acrescida de todos os cuidados de higienização de cada produto que chega em casa, cuidados com os filhos, rotinas escolares sob responsabilidade dos pais, intensidade dos maus hábitos dos filhos, excesso de celular e jogos virtuais. O uso potencializado de álcool e drogas também é fonte de sofrimento em casa. Tudo isso junto favorece muito o sofrimento psíquico. E quando a estrutura já é fragilizada por quadros clínicos, ainda mais”, esclarece a especialista sobre possíveis causas que podem piorar a saúde mental.
Dicas para produzir melhor em casa
Diante de tantos fatores que desestabilizada quem está passando por um isolamento social, se manter produtivo é um desafio, mas é sim possível conseguir desempenhar bem suas funções. “A necessidade de organização e de disciplina é ainda maior neste cenário. Para quem trabalha motivado é mais fácil, mas mesmo assim precisa de organização. A menos que você seja um cumpridor de tarefas e que trabalhe por demanda específica, é necessário planejamento de rotina. Todo mundo precisa fazer a gestão dos seus processos de trabalho, suas rotinas de atividades precisam ser preservadas”, explica a psicóloga e coordenadora da pós-graduação em neuropsicologia clínica da Faculdade IDE sobre o que é fundamental para todos nesse período.
Lembrando que o melhor a se fazer vai depender de cada um, pois cada indivíduo tem suas necessidades e particularidades. “Alguns poderão se dar à liberdade de trabalhar de pijamas e serão até mais produtivos assim, outros precisarão fazer quebras de padrão para poderem entrar em atividade produtiva e vão precisar tomar um banho, trocar de roupa e buscar um lugar específico. Quando se trabalha motivado, a vantagem é que cada um busca seu estilo que favorece a sua performance. Se a sua rotina não é bem definida e você trabalha por metas, é preciso fazer a gestão da sua rotina de forma bem mais organizada: calendário anual; metas e prioridades do mês; metas e prioridades da semana; e metas e prioridades do dia”, observa a psicóloga Eliana Almeida.
Observar os seus comportamentos é a melhor forma de decidir qual estilo é melhor para você. “Analisa o horário do seu dia em que você é mais produtivo e reserva para estes horários as atividades que lhe demandam melhor performance. Se não observa grandes variações ao longo do dia, opte sempre por começar o dia pelas atividades mais importantes e mais desafiadoras, deixando para o final do dia aquelas que podem ser realizadas mesmo quando você estiver mais cansado”, orienta a psicóloga sobre como se organizar melhor.
“Mesmo em home office, não esqueça de delegar as atividades que não compensam serem feitas por você, quando você tiver oportunidade de fazer esta escolha. Se perceber que rende melhor no período da tarde, se fizer uma pequena pausa para descanso após o almoço, pode ficar à vontade para incluir esta pausa como parte da sua rotina de produtividade. Do contrário, seu segundo turno funcionará bem aquém do seu potencial. Muito mais saudável um cochilo após o almoço do que xícaras e xícaras de café para lhe manter acordado à tarde. E não esqueça de ingerir bastante água”, recomenda a psicóloga e coordenadora da pós-graduação em neuropsicologia clínica da Faculdade IDE.
Como melhorar a saúde mental, mesmo confinados?
“Primeiramente, para reduzir a ansiedade, é parar de contar os dias, pois não adianta! Viver em contagem regressiva frustrada é muito sofrido. Então, aceitar que é esta a condição do momento e que precisamos nos adaptar a ela, é a primeira postura a ser tomada. O respeito e empatia por si e pelos outros são também fundamentais e entender que são necessários alguns níveis a mais de tolerância para conviver tanto tempo com pessoas tão diferentes”, indica a psicóloga Eliana Almeida, do núcleo de pós-graduação em psicologia Faculdade IDE, sobre os primeiros passos para melhorar a saúde mental mesmo estando confinado em casa.
Para Eliana, tolerância também é fundamental, pois estamos todos no mesmo barco e precisamos entender também as necessidades dos outros que estão a nossa volta. “Ainda como alternativa para melhorar a saúde mental, é incluir na sua rotina coisas que você gosta de fazer e buscar evolução pessoal permanente. Se participava de grupos, como de igrejas, escolas, clubes e amigos, tentar manter a rotina de encontros virtuais. Separar horários de trabalho e horários de descanso. Mudar rotina de atividades nos dias úteis e nos finais de semana. Flexibilizar e se adaptar são as palavras-chave”, comenta.
Investir em exercícios físicos também é importante, pois eles são aliados da nossa saúde mental. “Autocuidado, autoconceito, auto responsabilidade, disciplina e alta performance. Todos estes são pontos favoráveis à promoção da nossa saúde mental. Quem, mesmo em casa, pode manter a rotina de atividades físicas, consegue experimentar positivamente cada um destes pontos. Além da produção de endorfina, durante o exercício físico, que favorece a sensação de bem-estar e alegria”, revela.
Cuidados com o uso de redes sociais em excesso
É preciso ter cuidado também com o tempo de exposição nas redes sociais e jogos online, pois esses entretenimentos podem acabar prejudicando a saúde mental e fazendo com que a pessoa perca um pouco da produtividade. “O uso excessivo de qualquer coisa é prejudicial. A tecnologia está aí para ser utilizada e pode ser uma parceira dedicada e amorosa. Os cuidados são para evitar o uso inadequado: atrapalhando a rotina de atividades necessárias, se expondo a notícias que vem a lhe fazer mal, evite envolver-se em embates acalorados nas redes sociais, cuidado para não se expor de modo a colocar em risco o seu emprego, seus relacionamentos familiares e conjugais e cuidado como se comporta nos grupos da família”, atenta a profissional.
“Quanto aos jogos, eles são psicoestimulantes e o uso excessivo coloca o sistema neurológico em estado de alerta por muito tempo. Alguns deles, a depender do tema do jogo, também vão colocar a criança ou jovem em posição de combate e pode aumentar a vulnerabilidade a reações de estresse, confrontação, combate e de competição como modus operandi básico. O uso abusivo em horários próximos ao horário de dormir, deve ser evitado pois dificulta a desativação do sistema reticular ascendente que leva ao adormecer e a luz mantém ativa a produção de melatonina que mantém desperto o usuário”, explica a coordenadora da pós-graduação em neuropsicologia clínica da Faculdade IDE, Eliana Almeida.
Crises de ansiedade e surtos: como agir?
As crises de ansiedade e surtos psicóticos também são mais frequentes em situações difíceis como essa e precisamos saber como lidar com essas situações. “Esses quadros representam fragilidades da saúde mental. Diante de situações extremas e de crise como a que estamos todos vivendo, tudo isso se potencializa. Você é responsável pela preservação da sua saúde mental. Portanto, precisa garantir, tanto quanto possível, que seu sistema neurológico não esteja submetido a agentes estressores. Quando o estresse for inevitável, enfrente-o de cabeça erguida, quando for evitável, recue três passos e garanta condições de paz para você”, receita a psicóloga Eliana Almeida.
“Isso serve para que utilizemos em nosso próprio benefício quando nosso aparato mental permite. Quando as pessoas são muito comprometidas, quem precisa agir como agente de proteção são as pessoas com quem elas convivem. Familiares e cuidadores precisam, tanto quanto possível, promover um ambiente que favoreça a calmaria e o equilíbrio. Profissionais da saúde mental precisam ser acionados para ajudar no suporte tanto dos pacientes quanto dos familiares”, descreve.
Aqueles que já usam medicamentos para controlar esses quadros devem procurar um profissional, se houver mudanças negativas. “Psiquiatras podem analisar a possibilidade de fazer ajustes nas dosagens de psicofármacos de modo que o estresse seja enfrentado com suporte médico. Caso uma crise se instale, é necessário buscar ajuda profissional. E atenção: em casos mais graves de expressão de sofrimento psíquico o atendimento precisa ser presencial, nas unidades de saúde em que os serviços estejam sendo oferecidos”, alerta Eliana sobre os casos mais graves.
Como a família ou quem está próximo pode ajudar quem não está bem?
Paciência, respeito e empatia. Essas são as palavras-chave para conseguir ajudar quem amamos. “A situação é desafiadora para todos, inclusive para os melhores adaptados. É preciso que os familiares saibam que os limites das pessoas podem ser variados, mas eles existem também e precisam ser respeitados. Não é porque aquela é a pessoa mais prestativa da família que ela poderá agora ser sobrecarregada. Ela é prestativa e está em equilíbrio, mas se por isso ela tiver que pagar o preço de ser explorada por outros membros, esta sobrecarga pode lhe custar a saúde mental”, instrui.
“A melhor forma de ajudar uns aos outros é sendo sensível às necessidades de cada um. Em algum momento, um vai precisar de silêncio para poder relaxar, em outro momento, o outro vai precisar colocar uma música para poder relaxar. E as pessoas que estão dividindo a vida neste momento, precisam aprender a dançar juntas a dança da vida saudável. Mas não é fácil, e é por isso que surgem tantos divórcios em cenários como este”, explica a coordenadora da pós-graduação em neuropsicologia clínica da Faculdade IDE como a compreensão é essencial para se viver bem com o outro.
FACULDADE IDE – A Faculdade IDE, mantida pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional, desde 2006, promove pós-graduações na área de saúde, contando com mais de 120 cursos nas áreas de medicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, educação física, psicologia e fonoaudiologia. Autorizada pelo MEC, na portaria nº 852, de 30/12/18, passou a oferecer também graduações, como de Estética e Recursos Humanos. Com matriz no Recife e atuação no interior de Pernambuco, como Caruaru, Garanhuns e Petrolina, tem unidades também espalhadas por vários estados do Norte e Nordeste, como Ceará, Bahia, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Belém. Mais informações (81) 3465.0002, 0800 081 3256 e www.faculdadeide.edu.br.