Por Paulo Exel
Esses dias me deparei com um dado da Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação) que me deixou extremamente intrigado: Em apenas três anos, a demanda por profissionais de tecnologia no Brasil será de 420 mil profissionais.
Me recordei ainda de um outro dado que aponta que a média de profissionais formados em TI é de apenas 46 mil ao ano, ou seja, se seguirmos nesse ritmo, nós precisaríamos de 10 anos para formar o que o mercado precisará em apenas três. Isso quer dizer que a disputa por eles será enorme!
Como headhunter da área de tecnologia há mais de 12 anos, essa é uma realidade que me preocupa, uma vez que observo uma demanda crescente por profissionais qualificados de tecnologia, porém, um déficit cada vez maior na oferta qualificada destes.
Isso porque, o que acreditávamos ser aspectos do ‘futuro do trabalho’, já é o nosso presente. As relações de trabalho, as formas de contratação, os processos seletivos e a forma de se consumir produtos, serviços e informações mudaram de forma consubstancial a partir de 2020. E isso, consequentemente, tornou algumas funções em tecnologia muito mais valiosas do que antes.
Ainda que dados do IBGE apontem que há 14 milhões de brasileiros desempregados, posso dizer, com toda a certeza e responsabilidade profissional que, 2021 ficará marcado como um ano de grande disputa por profissionais da área de tecnologia. A oferta de vagas continuará sendo muito maior do que a disponibilidade de profissionais.
Mas, afinal quais funções e/ou áreas estarão mais aquecidas este ano?
Eu destaco cinco. São elas:
- Engenheiros de Cibersegurança: entre os especialistas mais disputados, muito impulsionado pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e por constantes ataques a organizações e base de dados governamentais;
- Cientistas e Engenheiros de Dados: que se concentram em transformar dados em informações que impulsionem o negócio das empresas ou melhorem a qualidade da tomada de decisão;
- Engenheiros de software: que atuam no desenvolvimento de código orientado a sistemas, aplicativos, etc;
- Arquitetos Corporativos / Enterprise Architects: profissionais com vasta experiência de aplicação de sistemas e com ampla visão de negócios. Garantem que a estratégia atual e futura da corporação esteja em linha com uma arquitetura de tecnologia sustentável e inovadora;
- Líderes em TI: capazes de assumir cargos de gerência e diretoria da área.
Só na Yoctoo, consultoria especializada no recrutamento e seleção de executivos de tecnologia e digital, em 2020, a demanda por especialistas em cibersegurança correspondeu a 22% do total de vagas trabalhada no período, enquanto especialistas em engenharia de software representou 27%.
Diante da grande oferta de vagas, os profissionais mais qualificados nas áreas as quais destaquei possuem o privilégio de escolher seu próximo emprego. Dessa forma, as empresas apresentam um desafio enorme não só para atrair, mas principalmente, reter esses talentos.
Por esse motivo, uma parte delas estão experimentando os benefícios do employee experience, que nada mais é do que cuidar de cada detalhe da jornada do colaborador dentro da corporação, desde seu acolhimento até seu plano de capacitação e crescimento.
Além de um bom ambiente de trabalho, que privilegie a autonomia e espaço para experimentação, a empresa precisa oferecer uma grande pluralidade de tecnologias, permitindo que o colaborador tenha a oportunidade de conhecer, testar e estar sempre antenado ao que existe de mais novo nesse universo.
Vemos também em alguns casos, empresas estruturando planos de retenção, que além do salário e benefícios, oferecem também o ILP – Incentivo de Longo Prazo. Algumas, chegam a pagar quantias significativas para estimular a permanência desses profissionais por um determinado período (em média 18 meses). Caso o profissional peça seu desligamento antes desse período, o bônus, ou parte dele, deve ser devolvido. Passado esse tempo, um novo bônus é oferecido no intuito de incentivar sua permanência.
As empresas também têm adotado novas metodologias de entregáveis e ferramentas colaborativas que acompanhem a produtividade dos times e mantenham o engajamento mesmo com a distância física. Entre os frameworks em alta destaco o Ágil, que preza pela fragmentação dos projetos em etapas de curta duração (chamada de sprints), onde equipes conseguem colaborar em busca de um mesmo entregável.
Por fim, a mensagem que ressalto aqui é que as empresas não têm poupado recursos na hora de atrair e reter esses talentos. A eles, cabe o papel de se manterem sempre atualizados do ponto de vista técnico, sem deixar de lado as soft skills – habilidades comportamentais. Competências como: resiliência, visão de negócios, adaptabilidade, humildade, comunicação e bom relacionamento com pares e superiores também continuam em alta em 2021.
Paulo Exel é administrador de empresas com MBA em Gestão Estratégica de Negócios e Certificação Profissional em Coach. Apaixonado por pessoas e tecnologia, há 12 anos atua como headhunter de TI. Desde 2017, está no comando da operação da Yoctoo na América Latina. É palestrante e tem diversos artigos publicados na mídia.