Longa, que estreia na 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, foi gravado na APAC de São João del Rei (MG) e contou com a participação ativa dos apenados

Com o que pode sonhar uma pessoa em situação de cárcere? Quais possibilidades de fabulação e subjetividades lhes são socialmente permitidas ou negadas? Com uma abordagem que propõe uma reflexão sobre o potencial criativo das pessoas encarceradas, assim como do próprio gênero do documentário e de sua relação com a verdade (em toda a amplitude e contradição que ela carrega), o filme “Grade”, dirigido por Lucas Andrade, estreia no dia 28 de fevereiro, na 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Este ano, o evento acontece integralmente online.

Filmado entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020, um pouco antes da eclosão da pandemia de covid-19 no Brasil, “Grade” acompanha as experiências diárias e os sonhos dos moradores da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – APAC de São João del Rei (MG), um tipo específico de reclusão de liberdade em que os apenados assumem a manutenção do espaço, o controle das próprias atividades e de sua segurança. O projeto nasceu com a intenção de ser um meio de expressão direta para os apenados e, em seu processo, contou com a participação ativa deles.

Entre as atividades, foram realizadas oficinas, além da proposição de dispositivos de cena que, ao longo do processo, serviram para desenvolver compreensão das ferramentas imagéticas e sonoras. O projeto também buscou habilitar tecnicamente os apenados para a produção de filmes. Foram ofertadas 20 vagas para homens do regime fechado e, nas aulas, abordou-se o funcionamento dos equipamentos (câmeras, luzes, gravadores, microfones), assim como os procedimentos e as linguagens audiovisuais necessárias para que a equipe do filme pudesse criar, junto com os apenados, uma narrativa que mergulhasse no universo ali vivido.

A produção, que integra a Mostra Aurora, é resultado desses esforços coletivos e do desejo de retratar os personagens em um processo de auto-representação e a partir da mediação do cinema. Real e imaginário, portanto, são conceitos  com os quais eles puderam brincar e trabalhar de acordo com suas próprias percepções. 

“No processo de feitura do filme, buscamos propor que se alguém estava nas imagens e sons que produzimos no local, seria por vontade de se colocar para câmera e para o gravador, a partir da sua maneira de se perceber, dos questionamentos coletivos que poderiam surgir disso e com os artifícios cinematográficos que nós, tanto equipe de cinema quanto apenados, tínhamos em nossas mãos para realizar tal empreitada. Quando as cenas eram construídas sem tanta presença dos apenados, a equipe buscou observar com o cinema, sabendo também que essa observação não é uma mosca na parede”, enfatiza o diretor Lucas Andrade.

Ficha técnica:

Documentário, Cor, DCP, 101min, SP/ MG/RJ/PB/PE, 2022Direção: Lucas Andrade
Roteiro: Alisson Zanetti, Alex André, Alison Clemente, Anderson Soares, André Felipe Calsavara, Clayton Paixão, Felipe Quintiliano, Felipe Alves, Giuliano Gerbasi, Kesley Tadeu, Lucas Andrade, Edvaldo José (Neneco), Mauro D’àvila, Mauro Sérgio, Michel De Carmo, Pedro Felix, Pedro Lessa, Renato Loureiro, Ricardo Domingos, Rober Correa, Sebastião Batista, Tomaz Viterbo, Vitor Alves, Victor De Beija, Welynton Carmo, Werekson Pablo, Wilmar Guilherme
Produção: Carolina Rocha, Giuliano Gerbasi, Lucas Andrade, Pedro Felix, Rober Correa
Montagem: Giuliano Gerbasi
Fotografia: Pedro Felix
Direção de arte: Pedro Lessa, Victor De Beija, Werekson Pablo
Trilha sonora: Paulo Beto, Tomaz Viterbo
Som direto: Pedro Lessa, Rober Correa, Tomaz Viterbo
Correção de cor: Pedro Pipano
Efeitos Especiais: Isabel Xavier
Design de Animação: Leonardo Petty
Planta baixa da APAC utilizada nos créditos: Pedro Britto
Edição de som e mixagem: Tomaz Viterbo