Exposição fica em cartaz até 26/08 no espaço que fica no Sion, casa tem papel fundamental na experiência 

Está em cartaz na Casa Gal a exposição coletiva “Quando For Sair Lá Fora”” que reúne uma seleção de trabalhos em pintura, desenho, escultura, fotografia, vídeo e instalação dos artistas Alexandre Brandão, Bicho Carranca, Brígida Campbell, Daniela Paoliello, Giulia Puntel, Julia Baumfeld, Letícia Grandinetti, Louise Ganz, Marcela Novaes, Manuel Carvalho & Roberto Freitas, Pedro Veneroso e Rodrigo Borges. 

Com curadoria de Marina Romano, a exposição oferece paisagens e horizontes para pensar o futuro. Elementos naturais, figuras incomuns e rastros de intervenção humana se sobrepõem e se acumulam, em um ambiente que reflete a transformação contínua do todo. A mostra reúne trabalhos de 12 artistas em pintura, desenho, escultura, vídeo, fotografia e instalação. 

“É uma excelente oportunidade para conhecer o trabalho da galeria e ter contato com obras de artistas importantes da produção contemporânea, em diversos suportes” conta Marina. “A experiência de visitar uma exposição de arte costuma ser um instante de pausa. É como se fosse um breve deslocamento do fluxo de pensamentos cotidianos, para mergulhar em pensamentos novos que vão ser disparados por uma visão ou outra das obras “, completa. 

Quando For Sair Lá Fora é uma mostra que convida a pensar sobre o espaço e o tempo já a partir do nome, que traz a possibilidade de pensar no futuro e lembrar de onde estamos agora. Há também uma paradoxo que se dá pela ideia de que não há dentro ou fora, só o todo, que é uma reflexão que aparece em alguns trabalhos. “A ação humana no ambiente aparece de formas diferentes, evidente ou sutil e sugerindo a transformação contínua daquilo que está em volta e, por causa ou consequência, do que está em nós” finaliza Marina.

Quando For Sair Lá Fora

A capacidade de imaginar outras existências e universos movimenta transformações em tudo o que se pode ver ao redor e também no que há por dentro. Interrupções contundentes no curso das coisas provocam reflexões e ajustes para caminhar pela próxima fatia de tempo com outros olhos. Olhos que viram a praga e a incerteza, aprendem e percebem maneiras diversas de enxergar adiante. Mas é preciso parar para imaginar. 

“Quando For Sair Lá Fora” reúne trabalhos que acessam a condição de transmutar ambiente e matéria. O gesto humano, ora destacado e explícito, ora sutil e indissociável, aparece como atuação decisiva no conjunto. A noção de que haja o que está dentro e o que está fora é reorientada – há somente o todo. Transitar por entre as paredes brancas da casa não equivale à experiência do cubo asséptico da galeria, como nomeou O’Doherty. O ambiente figura no universo das coisas comuns, como uma casa com janelas para a rua, a calçada e os prédios ao redor. A clareza da luz natural que ilumina o que há dentro, assume sentido oposto ao da esterilidade: um ambiente apropriado àquilo que é fértil. 

Pelo percurso através de um emaranhado de galhos retorcidos, que transmitem algo de artificial em sua composição fria e monocromática, Louise Ganz cria a possibilidade de enxergar uma passagem, como um portal luminoso. Não há como ter acesso ao que está do outro lado, no tempo, sem se embrenhar por ali até fundir-se com a paisagem. A possibilidade de atravessar a superfície também aparece no desenho da série Lençol Freático, de Brígida Campbell, que conduz ao aprofundamento, utilizando símbolos e outros recursos gráficos. Em Caatinga e Cerrado, trabalho feito a quatro mãos por Manuel Carvalho & Roberto Freitas, a paisagem surge a partir do acúmulo de matéria, em uma sequência de sobreposições em camadas de tinta que sugerem a continuidade dos processos no ambiente natural. A ação humana é vista pouco depois, com o efeito de apagamento apresentado por Letícia Grandinetti e, em seguida, nos trabalhos da série Entrenós, de Alexandre Brandão, em que interferências precisas reconfiguram o que, aparentemente, tem natureza orgânica. Como quem disseca e depois ordena elementos fundamentais desse cenário, a ação se mostra de outra maneira, em sua obra da série Fio de Pedra. 

Rodrigo Borges utiliza o recurso da ilusão, quando a visão das pedras em representação se confunde com a imagem de pedras reais, coletadas pelo artista no entorno da cidade, formando um jogo de espelhamento e engano. O retrato de um animal, em estado de descanso, imita a forma dos objetos que estão pelo chão e também ilude, ao mesmo tempo que insinua uma postura constrita do corpo. O corpo comprimido é visto com mais evidência na pintura de Giulia Puntel, em que as formas de uma figura de aparência mutante parecem não caber no espaço limitado da tela. Então, esses limites aparecem com contornos bem delineados, nas estruturas translúcidas desenhadas por Marcela Novaes, em cenas que colocam a presença imaginada da casa em paisagens dominadas por criaturas da selva e da fantasia. 

Julia Baumfeld demonstra a relação do corpo com o ambiente em sua volta, quando evidencia marcas e vestígios que sugerem uma origem em comum. Esta separação é diluída na obra de Bicho Carranca, que apresenta imagens da série Vultos, sob o olhar que compreende o respeito pelo rio em sua potência, que manifesta o pacto entre a vida e o espaço. O encadeamento das ações ao longo do tempo é percebido no trabalho de Pedro Veneroso que desperta a possibilidade de uma inversão da ordem. Essa ordenação é totalmente desconstruída no vídeo Caracol de Giulia Puntel, em uma sucessão de transformações vívidas e delirantes. 

A presença humana perturba a paisagem, a princípio, como uma interrupção aguda, na fotografia da série Que Horas São No Paraíso de Daniela Paoliello. Também no trabalho Assentamento, de Letícia Grandinetti, em uma visualidade que incorpora construção e ruína. Então, essa interferência aparece no políptico de Louise Ganz, que traz a variação da perspectiva como recurso de uma narrativa complexa que se desenvolve no tempo presente.

Construir o imaginário de outras realidades sem se descolar da condição integral de todas as coisas. A exposição Quando For Sair Lá Fora surge nesse paradoxo, convidando ao exercício criativo de visualizar a existência como um conjunto de relações, a partir da apresentação de trabalhos que ocupam e dizem do todo.

Serviço

Quando For Sair Lá Fora

Em cartaz de até 26.8.23

Casa Gal: Rua Groenlândia 50, Sion. Belo Horizonte – MG

Horário de funcionamento: terça a sexta 14 – 19h e sábados 10.30 – 13.30h

Visitas em outros horários disponíveis por agendamento.

Entrada Garatuita