Caique Ferraz e Laís Senna participam da 20ª edição do Baile do Menino Deus no Marco Zero do Recife – obra faz 40 anos como referência de identidade nacional
O tradicional Baile do Menino Deus, maior espetáculo natalino do país baseado na cultura popular, terá um ator indígena – pela primeira vez – e uma atriz negra nos papéis de José e Maria, os pais de Jesus. Os escolhidos são Caique Ferraz, da etnia Fulni-ô, população aldeada no município de Águas Belas, no Agreste de Pernambuco e a única do Nordeste a preservar a língua originária, o yaathê, e Laís Senna, cantora, compositora, bailarina popular e atriz de 26 anos – 18 deles com experiências artísticas profissionais.
Encenado no Marco Zero do Recife desde 2004, o espetáculo tem apresentações programadas para os dias 23, 24 e 25 de dezembro (as exibições ficarão acessíveis no canal do Baile no YouTube). A obra comemora 40 anos desde o lançamento, em 1983, quando o premiado escritor Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima e Antonio Madureira se juntaram para criar um auto de Natal sem neves, renas, Papai Noel e outras referências sem conexão com a cultura brasileira. Em contraposição, a história é adaptada sob influências de brincadeiras populares, reisados, pastoris, cavalo marinho, maracatus e outras manifestações artísticas.
O ator Caique Ferraz nasceu em Flores, no Sertão, e tem experiência em produções feitas para os palcos e a TV – a mais recente é uma participação na série brasileira “Cangaço Novo” (Prime Video), sobre as ações de enfrentamento lideradas por um bando armado e violento a situações de absoluta penúria, politicagem e injustiças sociais no interior nordestino.
“Eu me sinto honrado e privilegiado por fazer parte de um trabalho tão bonito, construído por uma imensidão de profissionais competentes. Música, dança, canto e teatro fazem do “Êdjadwa êka Sat’k’felinêsse” (Baile do Menino Deus em yaathê, língua Fulni-ô) um espetáculo inigualável e enraizante para a nossa existência.”, exalta Caique, acostumado a contemplar o espetáculo na plateia. Ele faz par com a atriz Laís Senna, admiradora da montagem cênica desde pequena. “Participar é um sonho profissional”, ela diz.
Laís se especializou no canto popular brasileiro durante passagem de 12 anos pelo Conservatório Pernambucano de Música e bebe da influência poética dos cantadores do Sertão do Pajeú, dos forrozeiros do Agreste caruaruense e dos brincantes característicos da Zona da Mata. Em novembro, concluiu a formação também em canto lírico.
A escalação dos atores reflete o caráter representativo e inclusivo do espetáculo ao valorizar identidades brasileiras e absorver urgências sociais por mais visibilidade a segmentos em geral marginalizados do protagonismo artístico. Essa sensibilidade está na alma da dramaturgia criada para incorporar as culturas brasileiras à narrativa sobre o nascimento de Jesus. Às montagens em vários estados, somam-se mais de 700 mil exemplares do livro homônimo, já publicado por quatro editoras.
O idealizador, diretor do espetáculo e responsável pela definição dos personagens é o escritor cearense radicado no Recife Ronaldo Correia de Brito, expoente da literatura brasileira agraciado, entre outras premiações, com o Prêmio São Paulo de Literatura. O autor mantém um ciclo anual de renovação na montagem para expandir o horizonte cênico, reafirmar a tradição e espelhar a dinâmica das mudanças culturais brasileiras – mas sem descuidar da referência primordial e religiosa da encenação, o nascimento do menino Jesus. “Uma das nossas ideias era passar para os nossos filhos o que é o Natal sem esse artifício de neve, Jingle Bells e renas. Eles precisavam conhecer o Natal brasileiro”, afirma.
O Baile do Menino Deus tem espaço cativo no Marco Zero, principal praça de eventos e shows da capital pernambucana, e tem público estimado de 75 mil pessoas por temporada, sob coordenação geral de Carla Valença, da Relicário Produções. Narra a busca dos brincantes Mateus pela casa onde Jesus nasceu para iniciar uma comemoração. A empreitada deles é dificultada pela mudança constante do endereço e pela dificuldade de abrir a porta do local – mote para transformar o percurso em peregrinação pelas manifestações da cultura nordestina, de brincadeiras, rezas e cantigas a apresentações de maracatu, caboclinhos, frevos e personagens do imaginário regional.
O Baile do Menino Deus – uma brincadeira de Natal conta com o incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura, é apresentado pela Prefeitura do Recife e pelo Itaú, com o patrocínio master do Grupo Parvi, da Sherwin-Williams, Uninassau, Copergás e Sesc-PE, com apoio do Governo de Pernambuco e realização da Relicário Produções Culturais e Ministério da Cultura.
Baile do Menino Deus: Uma brincadeira de Natal
Quando: 23 a 25 de dezembro, às 20h
Onde: Praça do Marco Zero do Recife (Recife Antigo, Recife)
Acesso gratuito | Classificação: Livre | Duração: 60 minutos
Acessibilidade: Cadeirante, Audiodescrição e Intérprete em Libra