Com apoio da Lei Aldir Blanc, Ianah Maia borda, sob o olhar feminino e negro, a liquidez das relações afetivas vividas durante o isolamento social

Conversas nos stories, festinhas em salas de conferência, interações online… O afeto em tempos de isolamento social ganha novos contornos através da web. A distância entre o real e o virtual e a solidão da mulher negra durante a pandemia são temas que perpassam o novo trabalho da artista plástica pernambucana Ianah Maia – a exposição virtual “Me apaixonei pelo filtro que eu projetei em você”, disponível exclusivamente no Instagram da artista.

Lançada oficialmente em 18 de janeiro, a expo compilou, até a última semana de fevereiro, escritos e pinturas que compõem narrativas poéticas sobre relações afetivas vividas durante o isolamento na pandemia. Em 26 postagens no perfil @ianah_, o público confere gratuitamente ilustrações, vídeos, fotos que traçam uma narrativa poética sobre o desafio de viver afetos através de interações virtuais e de períodos de quarentena compartilhada.

“Considero importante falar de sentimento, para a gente se entender e ajudar as demais a se entenderem também. Afeto é quase sempre uma ferida para a mulher negra”, relata a artista. Com inspirações verídicas em momentos da quarentena, e no trabalho de artistas como Luedji Luna e da autora e teórica feminista norte-americana Bell Hooks – que defende a lida com o afeto como forma de empoderamento – o projeto lança, sobretudo, uma reflexão sobre a qualidade do afeto vivido em tempos de quarentena e de vida social online.

Entre galerias e murais, Ianah é conhecida por seus traços cheios de personalidade e o uso de tinta natural feita de terra – a geotinta. Na nova exposição virtual, ela inova ao unir o orgânico de sua técnica e o ambiente digital, para abordar o afeto no real, no virtual, e, até mesmo, para além desses campos. Pinturas digitalizadas simbolizam o afeto liquefeito nas camadas de Internet, que amplificam expectativas e encobrem possibilidades reais de sentimento – inclusive de amor próprio. 

“Nas poesias, brinco com essa moda dos filtros que tanto o pessoal usa, uma metáfora para as projeções que fazemos a respeito do outro, e também uma provocação sobre como a gente aparece para as pessoas através das redes”, conceitua ela. A exposição conta com incentivo da Lei Aldir Blanc, Fundarpe, Secretaria Estadual de Cultura, Governo de Pernambuco e Governo Federal.

Foto: Divulgação

SOBRE A ARTISTA – Ianah Maia é artista visual e técnica em agroecologia natural de Recife/PE. Seu trabalho autoral circula entre pinturas, arte urbana, animações e auto-retratos fotográficos. Ianah traz um olhar honesto, enegrecido e de uma beleza incomum sobre afetos e sentimentos que ela encontra em si e em outras mulheres negras. Sua pesquisa artística toca o feminismo interseccional, a agroecologia, a decolonialidade, as culturas afro-diaspóricas e o ativismo afro-eco-feminista ao qual se dedica.

Desde 2012, tem integrado exposições coletivas e individuais entre Olinda e Recife. Em 2017 participou da residência artística InArte/Urbana (Natal/RN), onde começou a investigar a técnica da tinta natural de terra (geotinta) para uso em murais de arte urbana. Desde então vem dedicando a maior parte de suas produções a essa técnica.

SERVIÇO:

Exposição virtual “Me apaixonei pelo filtro que eu projetei em você”, por Ianah Maia

Disponível no Instagram @ianah_

Gratuito