“Trago comigo a essência do cheiro da terra, das coisas simples da vida – talvez por isto minha inspiração seja a simplicidade do amor – pois não pensamos quando sentimos, ele te toma inteiro e pronto, não adianta fingir. Mas ao pegar a estrada e percorrer os quilômetros que unem o campo a cidade, como se entrasse em um túnel, sou influenciado pelo som das noites roqueiras de Porto Alegre. Em tempos de tanta divisão, convido a falar daquilo que tem o poder de unir as diferenças, aquilo que nos arrebata mesmo quando a razão nos diz para não sucumbir a tentação, aquilo que nos faz sorrir ou chorar, mas que o que realmente importa é sentir o coração batendo forte”, declarou Anka.
O título “Amor sem Fronteiras” não deixa dúvidas sobre qual é o elemento de Anka Brasil: o cantor e compositor fala dos sentimentos e dores, das alegrias e tristezas, dos encontros e infortúnios dos amantes. Mas o nome do seu segundo disco indica também outra característica da trajetória desse intérprete de voz grave e poderosa: se a poesia de Anka tem como destino único o coração, sua música percorre muitos caminhos até chegar ao fundo do peito.
Desde o final dos anos 1980 emprestando seu registro de baixo-barítono para releituras de temas de ícones como Beatles, Stones, Creedence e, especialmente, Elvis Presley, o vocalista estreou seu trabalho autoral solo em “Noite Fria”. No álbum lançado em 2021, essas influências do rock pop internacional conjugavam-se com referências da música regional sulista como Cesar Passarinho, Leopoldo Rassier e João Chagas Leite – compositores e cantores de vozes igualmente marcantes. Em “Amor sem Fronteiras”, Anka amadurece esse projeto artístico em 11 baladas cuja sonoridade evoca estilos das mais variadas origens – traçando uma espécie de viagem musical que vai do Sul ao Norte das Américas.
Responsável pela sonoridade semiacústica de “Noite Fria”, o multi-instrumentista Veco Marques responde de novo pela produção em “Amor sem Fronteiras”, destacando outra vez a presença de violões, guitarras, teclados e acordeões na instrumentação das músicas. A jornada romântica se inicia com o folk rock de apelo radiofônico “Incerteza” e segue com a canção despudoradamente popular “Amor Proibido” – tema que chama para a pista de dança e flerta com gêneros latino-americanos como a guarânia, o bolero e a rancheira. A bússola volta a apontar para a América do Norte no country estradeiro “Vai Querer de Novo”, que desliza conduzido pelos acordes estendidos da guitarra slide de Veco.
“Mi Pecho de Acero”, com sua letra em espanhol e guitarra de timbre semelhante ao do mexicano Carlos Santana, propõe uma curiosa mistura bailante de bolero com milonga. Já “Luz de Neon” volta a namorar com o pop rock, unindo guitarras melodiosas com o acordeão e ecoando a banda norte-americana R.E.M. –acrescentando ainda ao molho multicultural o toque do violão flamenco. O rock sessentista, porta de entrada de Anka Brasil na carreira de intérprete, é a pegada de “Champagne e Caviar” e “No Vazio que Me Cabe” – esta última remetendo saudosamente às canções do beatle George Harrison.
A empolgante “Bate Asa o Coração” é outra prova do ecletismo do álbum, casando o chamamé gaúcho-argentino com o rasqueado pantaneiro e celebrando as pontes culturais nos versos “A saudade é traiçoeira, no Goiás ou na fronteira / Do Uruguai ao meu sertão, todos têm uma paixão”. Depois da balada pop derramada “Ilusão” – outro tema feito sob medida para tocar no rádio e no coração –, Anka interpreta a única composição que não é de sua autoria no disco: a clássica “Medo da Chuva”, de Paulo Coelho e Raul Seixas, em uma versão que enfatiza o espírito de rock rural desse hit do “maluco beleza”. “Amor sem Fronteiras” se encerra em tom maior com mais uma balada, “Ninguém É Sozinho”, tema folk rock com direito a órgão de música gospel ao fundo e letra inspiradora: “Não conte dinheiro, conte as estrelas / (…) / Encontre o caminho, ninguém é sozinho / Se acreditar”.
Andarilho das paixões, Anka Brasil convida o ouvinte a embarcar em seu “Amor sem Fronteiras” e passear pelas várias trilhas do romantismo sem pressa – como ele mesmo canta em “Incerteza”: “Não quero andar ligeiro / Quero ser mais um passageiro / Desta estação”.
Ficha Técnica
Artista: Anka Brasil
Gênero: Vocais/easy listening
Gravadora: Ímã Records
Produção Musical: Veco Marques
Letras do novo álbum:http://ankabrasil.com.br/
Créditos: Roger Lerina – Jornalista Cultural