Um encontro entre o folk e a música brasileira marca “A Vida do Herói”, canção narrativa de andre L. R. mendes que segue os trabalhos do músico baiano para este ano. O prolífico artista segue construindo sobre sua trajetória solo em composições que mesclam musicalidade e contação de histórias, ritmo e poesia. A letra buscou inspiração na clássica saga do cavaleiro andante Dom Quixote para descrever a história (ora trágica, ora cômica) compartilhada por todos os heróis da história humana. A faixa já está disponível nas principais plataformas.

Ouça “A Vida do Herói”: https://smarturl.it/AVidaDoHeroi 

A composição ambiciosa partiu dos versos para a música. Embora a letra grandiosa possa parecer desafiadora, foi no momento de traduzir aquela narrativa em arranjo que andre teve sua tarefa mais árdua. Sem refrões, pontes ou frases de efeito, “A Vida do Herói” se torna uma saga por si só e, em apenas quatro minutos, conta as desventuras de um personagem universal que busca superar as dificuldades do caminho – apenas para encontrar seu algoz e não ter o final feliz prometido.

“Depois de tentar, um, dois, três arranjos e quase desistir de gravar essa composição, percebi que o mais importante dessa música  era a letra e que o arranjo deveria ser o mais minimalista possível pra não desviar a atenção. Afinal, uma canção que não tem nenhuma frase que se repete já diz obviamente o que mais importa nela”, reflete andre.

A ligação entre a música e a literatura são recorrentes no trabalho de mendes – como é o caso de “Teto de Estrelas”, single inspirado por “Jubiabá”, romance do conterrâneo Jorge Amado. Já “A Vida do Herói” faz uma jornada mais distante, no tempo e espaço, até a mitologia literária do Cavaleiro Andante e seu maior expoente, a saga quixotesca.

“Eu quis falar do ‘mito do herói’ que, apesar de ser  levado por sentimentos nobres, é sempre mal interpretado e, muitas vezes no decorrer da história humana, condenado à forca, à cruz ou à cadeia… Mas conforme a inspiração do livro de Cervantes, eu uso uma linguagem leve e até bem humorada”, conclui. 

O single se une aos demais já revelados do álbum “Rimado”. Este será o nono trabalho de estúdio de andre L. R. mendes em sua carreira solo. O músico de Salvador tem uma longa carreira desde os anos 90 que conta com oito álbuns, um EP, uma coletânea e uma série de singles. Foi integrante da banda Maria Bacana, revelação nos anos 90 e que fazia parte do casting do selo Rock It! de Dado Villa-Lobos. Com o fim do grupo, se voltou para se reinventar artisticamente, deixar o rock de lado e abraçar uma musicalidade mais leve e depurada, próxima da MPB com cuidado ao formato canção. Seu último álbum é “O Rei dos Animais”, de 2021.

Ouça “O Rei dos Animais”: https://smarturl.it/OReiDosAnimais 

Assim como em boa parte de sua carreira solo, andre cuida de todo o processo criativo, da composição à capa do álbum, cantando, tocando, produzindo e fazendo videoclipes enquanto planeja já os próximos projetos. Assim como as canções do novo disco já lançadas “Beatriz”, “O Samba do Homem Comum”, “Beleza Baiana” e “Peixe Pequeno”, “A Vida do Herói” está disponível nas plataformas de música.

Crédito: Cintia M.

Ficha técnica

letra, música, gravação,produção, tocado e cantado por andre L.R. mendes

capa por andre L.R. mendes

foto da capa: Cintia M.

Letra

me procurou nos contos

nos poemas empoeirados

nos filmes embolorados

nas escrituras sagradas 

como sonhaste,

fiz voar o avião 

abri a boca do leão

te entreguei o meu coração

te carreguei nas costas

consumei os seus desejos

eram sete todo dia

sete mil os benfazejos 

mas de mim tu se enjoaste

como é do ser humano 

dispensou-me

me fez dano

e o diabo pisou no meu pão

tu me jogaste na prisão

tu se entregou ao meu algoz 

da cana, só me deu os nós

teve por mim raiva feroz 

me pôs mais baixo que o chão

tu picotou meus paletós 

emudeceu a minha voz

e me bateu com dez cipós 

agora que voltei

feito cavaleiro andante

ouço no vento distante

seu grito de agonia

chamas por mim

já me chamou por toda parte 

sua voz fazendo alarde

tão tristemente dizia:

“fui encantada

pelo canto do tritão

quando da sua prisão

minha raiva por ti rangia

agora que não tenho

nem um prato de feijão

te peço num choro canção

o fim dessa minha sangria”

“perdão pela sua prisão

fui no conto do nosso algoz

no juízo levei meus nós 

tive por ti raiva feroz 

e hoje eu peno sobre o chão

e, sob ele, os paletós 

que emudecem a minha voz

qual sova de dez mil cipós”

pois, gentil senhora

como rezam velhas leis

que esse cavaleiro andante

reza, respeita e se guia

vou te tirar

dessa ingrata aflição

pois essa é a minha função

não importa se tu me cuspia

com a espada e com o braço

destronei o vil algoz 

que, correndo, saiu medroso

até a urina escorria

please, não me aplauda

nem me dia “obrigado”

qualquer um nessa função

da mesma forma agiria

oh,surpresa!

nova agonia

me enganaste

no raiar do dia

de herege

me acusaria

e,pra cela,

me devolveria

ó eu de volta na prisão

tu namorando o meu algoz 

de novo, tu atou meus nós 

e me jogou à fera feroz

olhou pra mim,

cuspiu no chão

me enforcou com paletós 

e sufocou a minha voz

me pendurou pelos cipós 

sorriu com a minha prisão

gritou que eu era o seu algoz 

que nunca never fomos “nós”

que eu sou um louco feroz

que os meus pés só sujam o chão 

rotos eram meus paletós 

que chata era a minha voz 

que alguém me amarre com cipós 

que meu lugar é na prisão

que o seu herói é o meu algoz 

sou laço cego pelos nós

selvagem,bruto e feroz 

me chuta quanto eu to no chão

me tira até os paletós 

não guenta ouvir a minha voz 

que alguém me enforque nos cipós 

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