Cientista brasileira Jackeline Alecrim explica neste artigo o poder de shampoos e de substâncias como a cafeína para tratar a calvície
A alopecia androgenética (AAG) é caracterizada como uma condição dermatológica de origem genética que pode atingir homens e mulheres e basicamente e se manifesta pela perda progressiva dos cabelos, não necessariamente por aumento da queda capilar, mas principalmente pelo afinamento progressivo dos fios. Isso é resultado de alterações no ciclo capilar que levam à miniaturização dos folículos, o que compromete fisiologicamente a produção da estrutura responsável por dar espessura e resistência aos fios. Existem diversas opções para o controle desta manifestação, incluindo tratamentos tópicos. Neste caso a via folicular (localizada no couro cabeludo) é considerada a mais rápida na disponibilização dos ativos.
Recentemente, alguns estudos mostraram que ativos veiculados por meio de shampoos cientificamente desenvolvidos e englobados na classe de dermocosméticos apresentaram efeitos benéficos em pacientes acometidos por esta condição. Isso representa um avanço importante para o manejo do problema e pode significar um aumento no leque de opções de novas alternativas de tratamento.
Existe uma regra básica para absorção de ativos por via tópica: quanto mais fios tem em uma região, maior é a capacidade de absorção de ativos. Dessa forma, o couro cabeludo pode ser considerado a via externa com a maior capacidade de absorção de ativos, já que cada fio de cabelo está fixado em uma abertura, o poro, que tem comunicação direta para o interior dos folículos pilosos. Este é um fator extremamente positivo para o manejo e tratamento da AAG, já que a disponibilidade do fármaco pela via folicular é extremamente importante para o tratamento.
Eficácia de absorção de ativos em shampoos comparados com o uso de tônicos convencionais:
Antes de tudo, é importante reforçar que todos os estudos referem-se à veiculação de ativos por meio de formulações de shampoos dermocosméticos, os quais são cientificamente desenvolvidos para esta finalidade, não são os de limpeza de fios.
Estes produtos são especialmente desenvolvidos para funcionarem como carregadores de ativos e oferecem formulação capaz de romper facilmente as barreiras do sebo depositado sobre o couro cabeludo devido à presença de tensoativos específicos. Esta reação favorece a absorção de ativos, aumentando assim significativamente a eficiência do tratamento. Além disso, a forma de uso do shampoo deve ser massageá-lo no couro cabeludo para estimular a microcirculação sanguínea local, este modo ajuda ainda mais na chegada dos ativos até o seu alvo terapêutico. Estudos recentes comprovam que uma exposição próxima a dois minutos a ativos veiculados através de shampoos específicos, aplicados no couro cabeludo com movimentos circulares leves, é suficiente para a absorção de substâncias promissoras como a cafeína, molécula que apresenta alta bioafinidade pela via folicular e penetra facilmente.Isso tudo sem contar a praticidade de poder usar no banho, por exemplo.
Já os tônicos não oferecem os mesmos benefícios. As fórmulas podem ter dificuldade de romper as barreiras formadas pelo sebo, não se consegue espalhá-los tão facilmente no couro cabeludo e ainda contém substâncias como álcool, que além de ressecar os fios, tem ação vasoconstritora, o que pode também dificultar a absorção local dos ativos. Geralmente opta-se por veicular ativos em tônicos quando eles não são solúveis em bases de shampoos, que apresentariam uma eficácia de absorção consideravelmente superior.
O conhecimento sobre isso não é recente, mas pode ser considerado pouco explorado, um estudo publicado em 2008 já demonstrava a efetividade da penetração folicular da cafeína em uma formulação de shampoo. Massageado no couro cabeludo durante 2 minutos, observou-se que a penetração pelos folículos capilares era mais rápida e maior com a formulação de shampoo em comparação aos ativos administrados por via interfolicular (Otberg et al., 2008; Otberg et al., 2007).
A cafeína é um alcalóide psicoestimulante pertencente ao grupo das xantinas, utilizada como estimulante cerebral ou psicomotor, mas que também vem apresentando resultados promissores para pacientes acometidos pela calvície quando veiculada a formulações tópicas apropriadas. Em 2016, Sonthalia, Daulatabad & Tosti publicaram estudos demonstrando que a cafeína tem efeitos benéficos em pacientes acometidos pela AAG. O mecanismo proposto que vai contra a miniaturização induzida pelo DHT do folículo capilar inclui a inibição da fosfodiesterase pela cafeína, além de oferecer função protetora para as células do folículo, favorecendo também o crescimento do cabelo. Podendo ser considerado cada vez mais um adjuvante útil para a melhora da qualidade dos fios de quem tem AAG.
Recentemente um shampoo dermocosmético desenvolvido pela cientista mineira Jackeline Alecrim, e produzido no Polo Biotecnológico da Universidade Federal do Rio, ganhou repercussão nacional e internacional pela eficácia. A tecnologia de formulação do Caffeíne´s Therapy, permitiu a obtenção de um extrato biotecnológico de café que preserva propriedades extremamente benéficas para a otimização do ciclo de formação capilar. Tais propriedades estão associadas à presença de substâncias como os polifenóis, que promovem ação antioxidante, triacilgliceróis, esteróis e tocoferóis, bem como dos diterpenos cauranos, que apresentam atividade anti-inflamatória e ainda efeito protetor, todas elas naturalmente presentes no extrato. O produto é um dermocosmético e passou por testes clínicos, apontando um aumento da resistência à tração do cabelo e uma diminuição da perda de cabelo em 100% dos voluntários já após 30 dias de uso, apresentando resultados ainda mais significativos após 3 meses de uso contínuo.
O controle dermatológico confirmou a eficácia do produto, com redução importante na perda prematura do cabelo, uma melhora na textura e aparência dos fios (força, resistência à tração) além de uma melhoria das condições como descamações e irritações do couro cabeludo. Esses resultados comprovam que o uso contínuo do produto pode ser eficaz e bem tolerado, o que o torna um recurso promissor como dermocosmético adjuvante para quem convive com a AAG. O produto já é inclusive prescrito em consultório por dermatologistas e já está disponível no site oficial da empresa Magicscience Brasil.
Atualmente, apenas alguns fármacos como a finasterida oral e o minoxidil tópico são aprovados para tratamento da AAG. Porém, o uso de dermocosméticos adjuvantes clinicamente testados pode ter resultados promissores e ser benéfico para os pacientes.