Teatro Guararapes é palco da turnê dia 28 de setembro; repertório faz link entre a obra do compositor e suas referências artísticas




“Amigo da Arte”, o novo show de Alceu Valença que faz estreia nacional no último fim de semana de setembro, reúne canções que ressaltam o diálogo entre a obra do cantor e compositor pernambucano e suas referências na literatura, poesia, filosofia, nas artes em geral. A turnê começa pelo Nordeste – Natal, Recife e Fortaleza são as primeiras cidades a receber o espetáculo. No Teatro Guararapes, “Amigo da Arte” chega dia 28 de setembro. Os ingressos estão à venda a partir de R$ 60.

Em “Agalopado” (do álbum Espelho Cristalino, 1977), o artista reúne três referências literárias na mesma obra. Em sintonia com os mineiros Guimarães Rosa (“viro rosa, vereda de espinhos”) e Drummond (“viro pedra no meio do caminho”) e o espanhol Cervantes (“Dom Quixote liberto de Cervantes”), a arte é amiga da dor, do amor, do desengano. “Que Grilo Dá” (de Mágico, 1984) aproxima o nordeste do João Grilo de Ariano Suassuna ao Macunaíma, o herói sem caráter, do paulista Mario de Andrade, amigos do “riso e desastre do meu Brasil popular”.

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A Bahia de Jorge Amado ganha contornos olindenses em “Chuva de Cajus” (Estação da Luz, 1985). Aos versos “pastores da noite / meu são Jorge Amado / livrai-me do ódio dos apaixonados”, o amigo das letras Jorge retribuiu: “Canto de pássaro, grito de guerra, a caatinga Arida e o verde canavial, o povo nos limites da vida, eis a música de Alceu Valença, terno e profundo menestrel do nordeste” – escreveu.

A canção e a prosa se encontram como conde e passarinho na crônica de Rubem Braga e na letra de “Na Primeira Manhã” (Coração Bobo, 1980). “Solidão” (Mágico, 1984) aponta para a Macondo de Gabriel García Márquez. Como a poesia brasileira é amiga da lusofonia, “Loa de Lisboa” (Estação da Luz, 1985), exalta a verve de Fernando Pessoa, seguida da récita de “Tabacaria”, um dos maiores momentos do poeta português. “Senhora Dona” (Rubi, 1986) saúda o poeta gaúcho Mario Quintana.

“Belle de Jour” (Sete Desejos, 1992) aproxima a musa existencialista do cineasta espanhol Luis Buñuel do céu azul e das temperaturas sensuais da praia de Boa Viagem. Do cinema para a pintura, “Girassol” (Sol e Chuva, 1997), inspirada em Van Gogh, reaproxima a Holanda de Olinda. “Tropicana” (Cavalo-de-Pau, 1982) deriva das mangas, cajus e outras frutas tropicais que brotam dos traços do artista plástico pernambucano Sérgio de Lemos.

“Seixo Miúdo” (Rubi, 1986) traz a citação “O homem é o lobo do homem” do filósofo renascentista inglês Thomas Hobbes em sua obra “Leviatã”. Como o tempo é amigo do pensamento, a “Embolada do Tempo” (Na Embolada do Tempo, 2005) foi concebida para ecoar a máxima do antropólogo Gilberto Freyre que “o tempo é tríplice”, onde se vivencia passado, presente e futuro no mesmo tempo e espaço de uma canção. Como a canção é amiga da tarde, “Anunciação”, “Belle de Jour”, “Estação da Luz” e “Papagaio do Futuro” – além da novíssima “Eu Vou Fazer Você Voar” (com lançamento digital em outubro) – reinventam seu próprio tempo.

Alceu se apresentará ao lado de Paulo Rafael (guitarra), Tovinho (teclados), André Julião (sanfona), Nando Barreto (baixo) e Cassio Cunha (bateria).