Reduzir, reciclar, reutilizar, repensar e recusar, são estratégias que devem nortear o planejamento urbano das cidades

Nas últimas semanas, todo o Brasil se voltou para a catástrofe que ocorreu no Rio Grande do Sul (RS), ocasionado por fortes chuvas que atingiram o estado provocando a morte de mais de 150 pessoas e deixando muitas desabrigadas. Vários são os pontos que vêm sendo levantados para identificar as causas da tragédia, tais como: intensas chuvas, ocupações e a falta de planejamento urbano. Contudo, a situação de calamidade que está acontecendo no Rio Grande do Sul não é apenas uma realidade das cidades desta região.

De acordo com o Arquiteto e Urbanista, mestre em planejamento urbano e professor do Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG), Ivan Marques, apesar dos desastres climáticos serem uma triste realidade nas cidades brasileiras e do mundo, a grande questão está no modelo de desenvolvimento econômico que tem norteado o planejamento das cidades.

“Primeiro, faz-se necessário entender que a cidade é um ambiente construído pela humanidade, a partir do meio ambiente natural e busca uma organização das atividades humanas. Cidades quando voltadas e planejadas para o lucro, acabam privilegiando algumas áreas em detrimento de outras. Ocorre que, as cidades deveriam ser planejadas para uma boa convivência de todo esse aglomerado de pessoas em equilíbrio com a fauna e com a flora.  É por isso que surgem trechos urbanos planejados e verdadeiros territórios citadinos esquecidos e abandonados. Assim, quando as cidades são planejadas para o capital e para o lucro, acaba por acirrar o déficit habitacional e a promoção de espaços públicos e privados planejados, pois o planejamento urbano deixa de acontecer para todos e passa a ser privilégio de alguns”, destaca Ivan Marques.

O especialista ainda informa que a disputa por espaços na cidade gera o uso e a ocupação do solo, de maneira que frentes d’água – Walter Front– passam a ser territórios vendáveis. “É assim que se produz e fomenta os desrespeitos, as negligências e o desequilíbrio ambiental nas cidades, pois as áreas verdes, os cursos d’água e as demais expressões de ecossistemas passam a serem ocupados em busca do lucro, ampliando o desequilíbrio ambiental. Mudanças, flexibilização e afrouxamento da legislação ambiental, muitas vezes voltadas para o desenvolvimento econômico e lucrativo das cidades, podem ter como consequência alagamentos, cheias, inundações e deslizamentos”.

Por fim, Ivan Marques conclui enfatizando que é importante planejar a infraestrutura verde e azul, bem como infraestrutura urbana, garantindo o direito à cidade a toda a população. “Reduzir o espraiamento das cidades e ocupação desordenada, seja pelo mercado ou pelas ocupações irregulares, promover uma educação ambiental pautada em reduzir, reciclar, reutilizar, repensar e recusar, são estratégias que devem nortear o planejamento urbano das cidades do RS, do Brasil e do mundo. Não podemos esquecer que é preciso, é mister, vivermos em equilíbrio e aumentando nossas relações com a mãe Natureza, afinal de contas, mesmo com tanta tecnologia e desenvolvimento, ainda somos seres humanos”.