Delly foi destaque em primeira coletiva do Cine PE. Foto: Felipe Souto Maior/Divulgação
Até a próxima quarta-feira (14), a 26ª edição do Cine PE movimenta jornalistas, cineastas e produtores culturais em torno do cinema nacional e independente. Na manhã deste sábado (10), o festival realizou a primeira coletiva de imprensa deste ano, com realizadores dos filmes exibidos na abertura do evento. O debate, mediado pelo jornalista Edu Fernandes, começou com a participação da catadora de recicláveis do Cabo de Santo Agostinho Delly Batista. Figura central do curta “A Vida Secreta de Delly”, de Marlom Meirelles, a estudante de Direito e catadora discorreu sobre sua vida e detalhes dos bastidores do documentário, ovacionado na noite de sexta (9).
O curta-metragem, gravado ao longo de dois dias, descortina uma história real que dialoga com boa parcela da comunidade LGBTQIA+. “Eu sou uma pessoa muito forte, que passou por muita rigidez, mas quando comecei a abrir a minha vida e desenterrar coisas que enterrei ao longo da minha vida, foi muito difícil pra mim. Às vezes a gente parava as gravações porque eu chorava muito”, relembrou Delly. Durante as entrevistas, Delly foi bastante elogiada e aplaudida pelo público presente. “As travestis costumam ser tratadas como lixo, mas você foi no lixo para resgatar a sua dignidade”, comentou o cineasta Luiz Carlos Lacerda, que é jurado do festival neste ano.
Dando continuidade aos debates, o cineasta Halder Gomes, a produtora Mayra Lucas e a atriz Samantha Müller falaram um pouco sobre a estreia do longa “Vermelho Monet”, gravado em Lisboa com grandes nomes no elenco, como Chico Diaz e Maria Fernanda Cândido. Conhecido por grandes sucessos de bilheteria e público, como “Cine Holliúdy” e “O Shaolin do Sertão”, Halder contou sobre a experiência de gravar um filme que passeia pelas artes plásticas sempre intrincado com a música e a poesia, e sobre a escolha do elenco. “Tem uma coisa importante sobre esse personagem, que é a necessidade de um ator que entendesse o que é pintar e o sentimento da imersão do que é pintura, então, tinha que ser aquele cara que quando triscasse no pincel, você pensasse ‘nossa, esse cara é um pintor espetacular’. Eu fui na casa do Chico [Diaz] e ele pinta muito, a casa dele não tem um dedo de parede sobrando, é quadro para tudo que é lugar”, comentou Halder.
Por fim, o primeiro homenageado deste ano, o cineasta Sérgio Rezende, rememorou sua história na indústria cinematográfica e comentou seus planos para o futuro. “Agora eu estou pensando em trabalhar com falsos documentários. Por exemplo, penso em fazer um sobre o cara que deu uma facada no Bolsonaro”, revelou.
ACESSO À CULTURA
Uma das pautas que aqueceram a manhã de debates foi a falta de incentivo e acesso à cultura, e como os preços salgados das entradas de cinema afastam o público das salas de exibição, afetando assim o cinema nacional. Em um momento em que o celular se popularizou e os streamings e a tecnologia engolem o cinema tradicional, os cineastas presentes falaram muito sobre as dificuldades atuais de produzir filmes e fazer com que essas produções sejam vistas nos telões.
“No Brasil, hoje em dia, existe uma coisa contraditória e que me fez pensar em parar várias vezes: o audiovisual está bombando, mas o cinema está num buraco profundo”, lamentou Sérgio Rezende. E complementou: “Nem que seja com um celular na mão, eu vou fazer cinema pelo resto da vida, ninguém vai me impedir de fazer cinema, mas eu não vou mais fazer um ‘Canudos’”.