A organização realiza o plantio participativo de miniflorestas de Mata Atlântica nas escolas, além de formação de professoras e professores em formato on-line

A relação entre a destruição de florestas e a emergência climática que vivemos é direta. Entretanto, a grave situação divulgada por cientistas do mundo todo ainda não tem produzido as ações políticas necessárias para revertermos essa situação. Por isso, o número de eventos climáticos extremos tendem a aumentar a cada ano. No relatório de agosto de 2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), foi indicado que a temperatura média do planeta tende aumentar 1,5ºC nas próximas duas décadas, trazendo graves consequências para a vida no planeta. Esse aumento de temperatura altera o ciclo de chuvas e reduz as áreas agricultáveis, por exemplo, comprometendo a sobrevivência de todas as espécies.   

Apesar disso, no Brasil, apenas nos anos de 2019 e 2020, os índices de desmatamento aumentaram 14% em relação ao biênio 2017-2018, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica. É inegável: o “alerta vermelho” ambiental da humanidade está aceso, de acordo com o secretário geral da ONU, António Guterres, fazendo com que a organização declarasse a década de 2021-2030 como a “Década da ONU da Restauração de Ecossistemas”.

Há muito a ser feito, portanto, em termos de educação ambiental e exercício de cidadania, construção coletiva de conhecimentos e engajamento de pessoas de todas as faixas etárias na viabilização de um futuro mais sustentável. 

“Através da pedagogia de projetos levamos a restauração ecológica para dentro das escolas, de forma que as comunidades escolares se sensibilizem e atuem no enfrentamento das mudanças do clima e conservação e regeneração da biodiversidade”, contextualiza Rafael Ribeiro, cofundador da organização sem fins lucrativos formigas-de-embaúba, que vem realizando programas de educação ambiental a partir do plantio comunitário de miniflorestas de Mata Atlântica em escolas públicas na Grande São Paulo. Rafael é mestrando em Antropologia da Natureza pela Universidade de São Paulo (USP) e, em 2019, juntou-se com a educadora ambiental Gabriela Arakaki para criar a organização. Atualmente, em conjunto com a educadora ambiental Sheila Ceccon, os três coordenam o projeto, que está atuando na Grande São Paulo e expandindo para outras regiões. 

Os processos pedagógicos da formigas-de-embaúba passam pela problematização e contextualização de temas da realidade  dos estudantes, através de uma abordagem interdisciplinar, para, a partir disso, desvelar e transformar a realidade socioambiental na qual estão inseridos. 

“É preciso cultivar desde cedo nas crianças os princípios de sensibilidade à terra, responsabilidade ecológica e incentivar os envolvidos a se compreenderem parte da natureza e não à parte dela.”, diz Gabriela, cofundadora.

Os trabalhos da organização acontecem por meio de duas frentes: através de um programa de formação on-line de professoras e professores para que desenvolvam projetos de educação ambiental crítica em suas escolas, que já atendeu em 2021 mais de 300 participantes das redes públicas municipais das cidades de São Paulo, São Bernardo do Campo, Ribeirão Pires e Diadema, e a frente presencial, que envolve atividades diretamente relacionadas ao plantio das  miniflorestasnas escolas, um processo realizado por alunas e alunos de 2 a 14 anos e comunidade escolar através de um percurso pedagógico que dura um semestre.

O programa de plantio de miniflorestas, em 2021, está sendo implementado em quatro Centros Educacionais Unificados (CEUs) na zona sul da cidade de São Paulo, que se mobilizaram para receber o projeto, atendendo cerca de 1.500 crianças e jovens e com o plantio de mais de 2.000 mudas de aproximadamente 130 espécies de árvores nativas da Mata Atlântica da região, sendo que cada  minifloresta tem cerca de 500 m². As alunas e alunos e a comunidade são envolvidos em todas as etapas do processo de criação da minifloresta, desde o estudo e preparação do solo, o plantio das mudas e sementes, e nos cuidados com a minifloresta nascente. Essas  miniflorestas tornam-se salas de aula ao ar livre, criam corredores de biodiversidade, absorvem carbono e diminuem a temperatura nas regiões onde estão localizadas, aumentando o bem-estar das pessoas e de outros seres vivos de toda aquela comunidade.

Recentemente, a organização assinou um acordo de cooperação com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo para levar seus programas para toda a cidade, e segue expandindo para outros municípios da Grande São Paulo e interior do estado. 

Esse esforço fez com que a formigas-de-embaúba fosse selecionada em 2020 pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) como uma das 10 organizações da sociedade civil para implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU no Brasil, além de ter sido reconhecida pelo Governo do Estado de São Paulo como “Entidade Ambientalista”.

“Os sistemas educacionais do mundo todo têm sido provocados a assumir sua responsabilidade frente à necessidade de formação de cidadãos com uma nova postura em relação à natureza, com valores e atitudes diferentes daqueles que levaram o planeta à situação atual de intenso desequilíbrio ambiental”, explica Rafael.

E complementa : “Através dos nossos programas, os educandos fazem-se cidadãos ativos e conseguem conectar essa intervenção comunitária local com problemáticas socioambientais globais, inspirando as pessoas a agirem e darem pequenos passos em direção às ações coletivas e transformadoras.”

Sobre Rafael Ribeiro

Cofundador da formigas-de-embaúba, pesquisa e atua nas interseções entre educação, natureza e arte. Entre 2010 e 2016 trabalhou com estruturação financeira e levantamento de recursos para projetos de energia e infraestrutura na América Latina e atuou como mentor em diversos institutos de apoio a organizações sociais, como Artemisia e Instituto Inspirare. É mestrando em Antropologia da Natureza e graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-graduação em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas.

Sobre Gabriela Ribeiro

Cofundadora da formigas-de-embaúba, atua há mais de 15 anos como educadora e facilitadora de processos de criação coletiva de projetos sobre temáticas socioambientais em escolas e comunidades. É coautora na obra “Conhecer e Transformar – projetos integradores” e atuou como educadora ambiental e coordenadora de projetos no Instituto 5 Elementos e no Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais (IPESA), além de ter atuado como professora de Geografia da rede municipal de educação de São Paulo. Atua no Coletivo Organicidade e no Instituto Esperança Garcia e é graduada em Geografia (licenciatura e bacharelado), pela Universidade de São Paulo (USP).

Sobre formigas-de-embaúba

Organização sem fins lucrativos que promove educação ambiental crítica a partir do plantio de  miniflorestas de Mata Atlântica pelas alunas e alunos nas escolas públicas, sensibilizando as novas gerações para a urgência da regeneração de ecossistemas e mitigação das mudanças climáticas.